Portugal é a única seleção entre as 24 que passou sempre a fase de grupos
Leonardo Negrão / Global Imagens

Portugal é a única seleção entre as 24 que passou sempre a fase de grupos

Esta sexta-feira há treino aberto na Alemanha, onde a equipa foi recebida em euforia. Roberto Martínez promete ir a Fátima de carro se for campeão. Quando João Neves nasceu, Ronaldo já tinha uma final no currículo.
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Portugal é a única seleção entre os 24 participantes do Euro2024, que arranca esta sexta-feira na Alemanha, que passou sempre a fase de grupos na história dos Campeonatos da Europa. Além de ter vencido a prova em 2016, a seleção nacional foi finalista vencida em 2004 e chegou três vezes às meias-finais (1984, 2000 e 2012), tendo ficado no primeiro jogo da fase a eliminar por outras três vezes (1996, 2008 e 2020), a última por culpa da Bélgica de Roberto Martínez, agora selecionador nacional.

A equipa das quinas é também uma dos favoritas a levantar o troféu em Berlim, segundo o estudo mais recente do Observatório do Futebol, que analisou a competitividade das seleções tendo em conta alguns parâmetros, como o valor dos jogadores, minutos jogados e a idade. A seleção surge no quinto lugar, atrás de Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, que hoje abre o Europeu frente à Escócia. Entre as equipas com menos hipóteses de vencer está a Geórgia, adversária de Portugal na fase de grupos. 

Até onde pode ir a seleção nacional desta vez é a grande questão. Esta quinta-feira, ainda em Portugal, Roberto Martínez optou por “meter gelo” nas aspirações e estabeleceu como primeiro objetivo “crescer como equipa na fase de grupos” porque “há passos importantes à frente”. 

É dar um passo de cada vez até à final? Do que seria capaz se lhe dissessem que podia ser campeão europeu? “Sou capaz de tudo. Posso prometer uma viagem a Fátima. A pé? Não, é muito... A pé pode ser muito difícil. É muito melhor ir junto com os adeptos e fazer uma boa celebração”, respondeu o espanhol de 50 anos, que irá orientar uma seleção pela segunda vez num Europeu, depois da Bélgica em 2020.

Pepe falou de um “Portugal com muita qualidade e sede de títulos”, que ainda precisa de mais ingredientes, para lá do talento dos jogadores e do trabalho de equipa, que fazem deste grupo “o mais capaz da história” para serem bem sucedidos na missão e poder conquistar o título. “Em 2016 sonhámos e conseguimos. Como o Cristiano disse, sonhar é de graça. Temos muita vontade de poder voltar a trazer o Europeu para Portugal”, disse um dos capitães da seleção.

Apesar dos 41 anos e de estar em final de contrato com o FC Porto, Pepe não quer saber do futuro, apenas viver o presente: “É com muita vontade que vou para o Europeu, para poder dar o meu melhor e ajudar a minha seleção. Agora não é o momento de falar do futuro do Pepe mas sim sobre ter a vontade de conquistar mais um título para Portugal.”

E não será por falta de apoio. A comitiva portuguesa teve um dia para recordar, a fazer lembrar 2004 e 2016. O primeiro banho de multidão foi ainda na Cidade do Futebol. Pepe, Rafael Leão, Palhinha, Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Gonçalo Inácio, Diogo Costa, Diogo Jota, Rúben Dias, Danilo e Ronaldo foram os que deram mais atenção às cerca de 500 crianças de várias escolas de Oeiras convidadas pela Federação Portuguesa de Futebol.

Apesar de alguns dos 26 eleitos para representar Portugal acabarem por seguir direto para o autocarro, indiferentes aos gritos de quem os tem como ídolos, o apoio repetiu-se no aeroporto, onde adeptos de todas as idades se despediram entusiasticamente e motivaram uma mensagem do capitão. “Seguimos com Portugal no coração”, escreveu o Ronaldo nas redes sociais antes de partir para a Alemanha, onde a diáspora se mobilizou para a receção. 

Desde a saída do aeroporto de Münster, a comitiva foi perseguida por um mar verde e vermelho com rateres dos 300 motards que a escoltaram até ao quartel-general, o Hotel-Residence Klosterpforte, em Marienfeld, onde a seleção ficou no Mundial 2006, no qual terminou em quarto lugar. O próprio Ronaldo estava impressionado com a receção e mostrou-se confiante em “ir ainda mais longe” do que essas meias-finais daquele Campeonato do Mundo que se realizou também na Alemanha. “Esta geração merece ganhar uma competição desta magnitude. Estamos confiantes e, como já disse, temos de sonhar”, disse o capitão no local onde se estreou em Mundiais, há 18 anos.

“Ronaldo vai contagiar todos”

Ricardo Quaresma tem expectativas elevadas para a participação de Portugal. “Vejo uma seleção forte, com muita qualidade em todos os setores. As expectativas são elevadas, mas temos de perceber que é um Europeu, muita coisa vai acontecer. Espero é que os jogadores estejam preparados para os momentos maus que possam aparecer no caminho, pois esse é o primeiro passo para as ultrapassar”, disse o campeão europeu em 2016. 

Do amigo Ronaldo espera o de sempre: “Dar tudo e levar a equipa para a frente. Sabemos todos o quanto o Cris é competitivo, ainda mais naquele que deve ser o seu último Europeu. Vai desfrutar ao máximo e vai contagiar todos.” E mesmo não concordando com a opinião de CR7 sobre a competitividade da liga da Arábia Saudita, Quaresma tem “a certeza” que ele vai estar em boa forma física aos 39 anos: “É forte e é essa vontade e determinação que o fez chegar ao sucesso.”

O extremo disse ainda que “não mexia muito” nos 26 eleitos de Roberto Martínez. “Pote e Trincão fizeram uma época fantástica, foram campeões e há que dar-lhes os parabéns, mas quem saía? É difícil. Não queria estar na pele do selecionador. As convocatórias não agradam a todos, nem a jogadores, nem a adeptos. Há que acreditar naqueles que chamou, que têm um talento enorme e que podem chegar à final”, disse o ex-internacional, que  ainda não colocou um ponto final na carreira.

Quatro gerações no balneário

Para a UEFA os portugueses João Neves e Francisco Conceição estão entre os jovens que podem surpreender na prova. O médio de 19 anos é “um jogador de personalidade forte e capaz de lidar com as adversidades” e “um médio versátil que terá toda a capacidade para se adaptar ao que for pedido por Roberto Martínez antes ou durante o jogo”. Já sobre Conceição, de 21 anos, a UEFA diz tratar-se “um jogador diferente de todos os outros que fazem parte da lista de Portugal”, além de ser “um dos melhores do campeonato no drible”. Contudo, sentar Bernardo Silva no banco é tarefa quase impossível para o “espalha-brasas”, como apelidou Roberto Martínez. 

Estes são rostos da quarta geração de talentos que está ao serviço da seleção. Por exemplo, quando João Neves  nasceu, a 27 de setembro de 2004, em Tavira, já Cristiano Ronaldo (39 anos) - o segundo mais velho depois de Pepe, 41 anos - tinha jogado uma final do Europeu. Bernardo Silva e Bruno Fernandes, por um lado,  Vitinha e Rafael Leão, por outro, fazem parte das duas gerações intermédias ao dispor de Martínez. A média de idades da seleção é 27, 5 anos.

O capitão é um dos quatro campeões do Euro2016 entre os 26 eleitos que procuram voltar a levantar o Troféu Henri Delaunay. Rui Patrício, Pepe e Danilo são os outros. Também Ricardo Carvalho pode repetir essa conquista agora como adjunto de Roberto Martínez . O defesa-central da seleção no Euro 2016 é um dos dois antigos internacionais da equipa técnica. O outro é Ricardo, antigo guarda-redes que procura ter mais sucesso como adjunto do que a que teve na final do Euro2004, perdida para a Grécia.

isaura.almeida@dn.pt

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