Pimenta Machado: “Se não houver nenhum azar, o Vitória vai eliminar o Betis. Joga bom futebol, gosto de ver”
O Vitória de Guimarães recebe esta sexta-feira (20.00 horas) o Betis, em jogo da 2.ª mão dos oitavos de final da Liga Conferência, depois de ter empatado 2-2 em Sevilha. Se vencer, a equipa vitoriana chega aos quartos de final de uma prova europeia, 38 anos depois de o ter feito na Taça UEFA, quando Pimenta Machado era presidente. Que memórias tem desse feito?
A época 1986-87 foi a mais bem-sucedida, mas a década de 1990 é que foi dourada para o Vitória, com várias presenças consecutivas nas provas da UEFA, fruto de andar ali no top-4-5 no campeonato. E na altura o acesso às competições europeias era mais difícil. Em 2002-03 ficámos em 4.º lugar e não conseguimos uma vaga. Agora o 6.º lugar dá para ir à Europa. É importante ter o Vitória numa competição europeia, mesmo que seja uma onde estão as segundas linhas da Europa desportiva. A Liga Conferência é a taça dos pobrezinhos a nível desportivo, mas é prestigiante.
Essa campanha europeia de 1986-87 é ainda hoje a melhor da história do clube, com os quartos de final da Taça UEFA.
Tínhamos um ótimo treinador, o Marinho Peres, e o adjunto era o Paulo Autuori, e uma grande equipa. O Marinho tinha sido treinado pelo Rinus Michels e copiou o sistema do Barcelona, que era inovador, porque defendia com um quarteto defensivo junto ao meio-campo e introduziu isso no Vitória com muito sucesso. Nesse ano, só não ganhamos o campeonato por razões que não têm a ver com o valor da equipa. Foi uma roubalheira de arbitragem e terminamos em terceiro, depois do Benfica e FC Porto. O Paulinho Cascavel liderava o ataque e foi o segundo melhor marcador da Taça UEFA desse ano com cinco golos. Tínhamos grandes jogadores, a começar no guarda-redes, o Jesus. E o nosso meio-campo era fabuloso, muito versátil e rápido - com Nascimento, Adão e N’Dinga -, o que permitiu essa performance interna e externa, das melhores que o Vitória já teve. Chegámos a ter seis jogadores na seleção.
A nível europeu esbarrou nos alemães do Borussia Mönchengladbach. O que disse à equipa, depois da eliminação?
Foi uma eliminatória em que não tivemos sorte. O Heitor teve dois momentos infelizes e marcou dois autogolos, um no empate em Guimarães (2-2) e outro na Alemanha, num jogo muito complicado, com neve de 30 centímetros... e perdemos por 3-0. Não conseguimos um lugar nas meias-finais, mas merecíamos. Dei os parabéns à equipa, fiquei muito satisfeito com o desempenho deles e paguei o prémio de jogo na mesma. Já não me lembro do valor, mas acho que foi à volta de 300 contos [cerca de 1496 euros]. Antes vencemos grandes equipas, como o Sparta Praga (1.ª eliminatória), Atlético de Madrid (2.ª) e Groningen (3.º).
Após deixar a presidência do Vitória, afastou-se do clube e do futebol. Porquê?
Depois de entregar mais de 20 anos ao futebol e ao Vitória, tive de dar tempo a mim mesmo. Tenho uma certa nostalgia, mas sobretudo do clube, dos sócios. Tinha uma relação quase umbilical com os adeptos. E tenho pena que o clube nunca mais tenha gasto um saco de cimento em obras e no melhoramento de infraestruturas. Fomos os primeiros a ter um Centro de Treinos. Fui a Milão e o Silvio Berlusconi [histórico presidente do AC Milan] mostrou-me as instalações de Milanello e eu copiei, aplicando à escala de Guimarães. Desde então, o clube parou no tempo... tenho pena.
Mas vai aos jogos ou afastou-se completamente? Vai ver o jogo com o Betis?
Afastei-me completamente. Vejo pela televisão. Ainda sofro. Vou ver o jogo com o Betis pela televisão, naturalmente. O Vitória não só tem hipóteses, como acredito que vai passar aos quartos de final. Se não houver nenhum azar vai eliminar o Betis. O Vitória joga muito bem, gosto muito de ver a equipa jogar. Teve aquela fase pós-Rui Borges [saiu para o Sporting em dezembro], mas agora estabilizou. Gosto de ver, tem muitos bons jogadores e podem vencer o Betis.
Se isso acontecer, o V. Guimarães será a única equipa portuguesa a manter-se na Europa.
E isso não é bom? É bom saber que o país futebolístico não é só Lisboa e Porto. Felizmente, Guimarães tem-se mantido no mapa desportivo português e será muito bom ver o nosso Vitória a ser o único a amealhar pontos para o ranking português na UEFA [risos].
Luís Freire quer “aproveitar a oportunidade e fazer história”, depois de passar a “turbulência de janeiro”. Para já, está tudo empatado (2-2) e o Betis, “uma equipa com qualidade, bem treinada e com jogadores mundialmente reconhecidos”, foi bem estudado segundo o treinador do V. Guimarães, defendendo a identidade da sua equipa: “Antecipo um jogo com muita visão de baliza.” O brasileiro Gustavo Silva é a única baixa, uma vez que o defesa-direito Bruno Gaspar e o avançado Jesús Ramírez já estiveram no último treino antes da partida desta noite de sexta-feira (20.00 horas) no Estádio D. Afonso Henriques.
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