Pepe, um bom caso de estudo aos 41 anos
Foram muitos os que torceram o nariz à convocatória de Pepe para o Euro 2024, justificando as dúvidas com o estado físico do central, que esteve muito tempo parado devido a lesão, e também pela idade (41 anos). Mas o Euro chegou e o defesa português calou os críticos com exibições de classe.
Se contra a República Checa já tinha deixado boas indicações, com a Turquia a exibição foi imperial, tendo ganho quase todos os duelos diretos que travou. De acordo com dados estatísticos da FPF, foi o português com mais recuperações de bola (seis), em igualdade com Vitinha. E com a República Checa já tinha sido o melhor nesse particular, com 11 - nesse encontro tornou-se no futebolista mais velho a jogar num Euro, com 41 anos e 117 dias. E mais: o central ainda não cometeu qualquer falta.
Os antigos centrais Tonel e Hélder Cristóvão, ex-internacionais portugueses, não se mostram surpreendidos com o rendimento de Pepe. O ex-futebolista do Sporting entende que “a sua grande motivação para continuar a jogar ao mais alto nível, aliada à sua genética, é a principal razão para este sucesso”, enquanto o ex-benfiquista tem a certeza de que “Pepe é súper honesto em relação ao seu corpo e quando sentir que já não está a 100% será o primeiro a dizer que já não consegue mais”. E destaca “a grande confiança que demonstrou no jogo com a Turquia, bem como a forma como assumiu os confrontos diretos e a rapidez de movimentos que continua a demonstrar”.
André Villas-Boas já confirmou que Pepe não vai continuar no FC Porto na função de jogador, tendo justificado a decisão essencialmente por razões financeiras, em face da redução salarial que pretende fazer no plantel dos azuis a brancos, o que merece a compreensão de Tonel. “É uma nova administração no clube, com novas ideias, e entendeu que o Pepe não fazia parte do projeto, pelo menos na função de futebolista. É algo que tem de ser respeitado, embora eu pense que ele poderá perfeitamente continuar a jogar mais uma época ao mais alto nível, desde que esteja inserido num projeto que o mantenha motivado.” E sublinha que “nesta altura o mais importante é Portugal agradecer tudo o que ele tem feito ao serviço da seleção nacional”.
Hélder Cristóvão acredita mesmo que Pepe poderá fazer parte do “Onze Ideal” do Euro 2024, desde que Portugal continue a sua progressão até fases adiantadas da competição. “Ainda por cima há algo que o vai beneficiar, que é o facto de poder descansar no último jogo da fase de grupos [quarta-feira, com a Geórgia], uma vez que Portugal já está apurado para os oitavos de final. Vai conseguir recuperar bem fisicamente e pode perfeitamente continuar a exibir-se a um alto nível e, quem sabe, terminar no lote de melhores jogadores do Europeu”, afiança.
Essa é igualmente a opinião de Tonel, que destaca o descanso a que o central vai estar votado na próxima quarta-feira, lembrando que as grandes exibições de Pepe são a sua imagem de marca nas fases finais de Campeonatos da Europa e do Mundo. Mas avisa que, para que a presença do veterano entre os melhores do Euro seja uma realidade, “Portugal terá de chegar pelo menos às meias-finais”.
Pepe é um caso único em termos de longevidade, e Hélder Cristóvão não acredita que haja mais “Pepes” num futuro próximo. “Duvido muito que isso possa acontecer, porque hoje em dia verificamos que os jogadores não têm grande capacidade de superação, facilitam muito, e chegar aos 41 anos com esta capacidade será quase impossível. Por isso acho que ele vai continuar a ser único nos próximos tempos”, antevê.