Patrícia Mamona medalha de prata: "Estou nas nuvens. É surreal!"

Atleta do triplo salto bateu recorde nacional por duas vezes e fez quatro (em seis) dos melhores saltos da carreira. Impressionante para uma atleta de 32 anos. Só foi batida por Yulimar Rojas, que bateu o recorde mundial que perdurava há 26 anos.

Patrícia Mamona é vice-campeã Olímpica do triplo salto! A portuguesa conquistou a medalha de prata em Tóquio 2020, com um salto de 15,01 metros. Bateu o recorde nacional por duas vezes e fez quatro dos melhores saltos da carreira na final. É o melhor desempenho de um atleta português em Tóquio 2020 e a segunda medalha para Portugal, depois do bronze de Jorge Fonseca no judo. No total são agora 26 as medalhas Olímpicas portuguesas.

O desfile pelo Estádio Olímpico com a bandeira nas costas foi mais do que merecido para a portuguesa, que assim junta a medalha Olímpica aos dois títulos europeus (2016 e 2021) que já tinha no currículo. A cerimónia da entrega das medalhas é na madrugada desta segunda-feira (2.08 em Lisboa) por isso Mamona vai ter de controlar a ansiedade até receber a medalha.

"Estou nas nuvens, sem palavras. Parece tudo surreal. A primeira coisa que me vem à cabeça é o meu treinador, a minha família e este grande país que é Portugal. Vinha confiante da qualificação e sabia que este seria um momento especial para mim. São cinco anos a trabalhar para este momento, 20 anos no triplo salto. Estou orgulhosa de todos, da reação do público. Disseram que Portugal era um país pequeno, mas consegue coisas grandes. O apoio dos portugueses foi fundamental", disse a atleta à RTP.

""Não posso dizer que é um momento de afirmação para todo o desporto português, mas é para o triplo salto. O Nelson Évora vai terminar a carreira nestes Jogos Olímpicos. Ele é uma inspiração para mim. Espero dar continuidade ao que ele tem feito. Sinto-me em forma, tenho muito para dar. Paris 2024 é daqui a três anos. Mas não quero pensar muito nisso. Quero desfrutar deste momento e deixar uma mensagem de agradecimento a todos os portugueses. Que seja um momento de inspiração para todos os que sonham. Se acreditarem mesmo que conseguem, vão atrás dos vossos sonhos", concluiu.

A atleta do Sporting já tinha avisado que estava na melhor forma de sempre aos 32 anos e na terceira participação Olímpica (6.ª no Rio 2016 e 13.ª em Londres 2012) e entrou logo com um recorde de Portugal! Um salto espetacular a 14, 91 metros, que bateu a melhor marca pessoal e recorde nacional conseguido há duas semanas (14, 66) e também superou a sua melhor marca Olímpica (14, 65).

O segundo salto foi desastroso (12.30), fruto de um desequilíbrio na chamada e a terceira tentativa foi ainda pior (nulo). Na quarta ronda de saltos, Mamona saltou 15,01 metros, batendo de novo (e por 10 centímetros) o recorde nacional e reforçando a segunda posição. Depois ainda fez um salto modesto a 14, 66 (a marca com que se apresentou nos Jogos) e 14, 97 a fechar.

Mamona só foi superada pela superfavorita, a venezuelana Yulimar Rojas, que ficou com o ouro e estabeleceu novo recorde mundial (15,67 metros). O bronze foi para a espanhola (e namorada de Nelson Évora) Ana Peleteiro (14, 87 metros).

Gosta de donuts, é viciada em café e está a estudar engenharia biomédica

Filha de angolanos, Patrícia nasceu em Lisboa e foi no Cacém, onde viveu na juventude, que tudo teve início. Começou a interessar-se pelo atletismo por culpa dos... donuts, o prémio de participação nas provas do desporto escolar.

Foi no final de uma competição de corta-mato que um professor de Educação Física, José Uva (ainda hoje é o seu treinador), a fez despertar para o atletismo. Mas os pais não gostaram muito da ideia e foi preciso o professor/treinador convencê-los de que a filha tinha futuro.

E não se enganou.

Inscreveu-se no JOMA em 2001 e logo na primeira época ganhou o Atleta Completo. Como iniciada, em 2003, liderou os rankings de 80m barreiras, altura, comprimento, triplo e heptatlo, batendo os recordes nacionais destas duas últimas especialidades. Em 2011 foi para o Sporting.

A família entretanto mudou-se para Inglaterra, mas Patrícia ficou em Portugal a viver com uma tia para continuar no atletismo depois de prometer que ia conseguir conciliar o atletismo com o curso de medicina. Mas o curso era exigente e perdia muitas horas no caminho entre os treinos e a faculdade. Como "sonhava ser médica" resolveu deixar o atletismo de lado. Até que se lembrou que nos Estados Unidos havia um programa universitário para alunas-atletas e decidiu concorrer. Ganhou uma bolsa aos 17 anos e foi estudar medicina para a Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, onde conciliou as duas coisas.

Acabou por regressar a Portugal e aos treinos no Sporting com Gonçalo Uva e João Ganso, que treinava Nelson Évora e era o maior especialista do triplo salto do país. Para ser atleta de alta competição tinha de ser "atleta durante 24 horas" e apostar tudo no treino. Por isso treinava seis horas por dia e os resultados foram aparecendo, tanto nos nacionais como nos europeus.
Campeã da Europa em 2016, no mesmo dia em que Eder foi herói.

Em 2016 sagrou-se campeã europeia do triplo salto no mesmo dia em que Portugal se sagrou campeão europeu de futebol, durante o Europeu de Atletismo, em Amesterdão, ao saltar 14,58 metros. Depois seguiu-se a presença nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 e o 6.º lugar com o seu melhor salto de sempre (14,65 metros). Também em 2016, nos Campeonatos da Europa de pista coberta em Belgrado, foi medalha de prata no triplo salto. Antes, em 2012, tinha ganho a prata nos Europeus de Helsínquia.

Hoje é uma atleta a 100% e vai fazendo as cadeiras do curso de Engenharia Biomédica aos bocadinhos. Além disso é viciada em café!

A 26.ª medalha de sempre de Portugal

Um total de 26 medalhas em Jogos Olímpicos. É este o registo de Portugal após a prata conquistada ontem por Patrícia Mamona na prova do triplo salto, que vem confirmar que o atletismo é de longe a modalidade que mais conquistas deu ao nosso país (11), seguida da vela (quatro), do equestre e do judo (três).

Portugal conseguiu subir ao lugar mais alto do pódio em quatro ocasiões - Carlos Lopes (Los Angeles, 1984), Rosa Mota (Seul, 1988), Fernada Ribeiro (Atlanta, 1986) e Nélson Évora (Pequim, 2008).

A primeira medalha conquistada por Portugal foi através da equipa hípica formada por José Mouzinho de Albuquerque, Aníbal Borges de Almeida e Hélder de Sousa Martins, todos oficiais de cavalaria, em Paris 1924.

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