É surpreendente, mas é a realidade. Portugal vai jogar hoje as meias-finais do Mundial de andebol com a tricampeã Dinamarca (19.30, RTP2). Se vencer estará na final a lutar no domingo pelo título mundial; se perder vai disputar o bronze na atribuição dos terceiro e quartos lugares. Seja qual for o resultado de hoje, o andebol português sai vencedor deste Mundial, mérito em grande parte do selecionador nacional, Paulo Jorge Pereira, que montou uma equipa sem medo do estatuto dos adversários.Filho de duas “pessoas extraordinárias que já cá não estão”, Paulo Jorge Pereira nasceu em Padronelo, Amarante, mas cresceu no Porto. O futebol foi a primeira, mas não a maior paixão. Esse lugar estava reservado para outra modalidade. Foi nas ruas da Ribeira que surgiu o amor pelo andebol, mesmo que, na altura, em vez de atirar a bola à baliza fosse mais pedras a outro miúdo de um bairro rival. Assim o contou, sem complexos, numa entrevista ao Expresso, em que também disse que ia ao Mundial2025 lutar por uma medalha. Uns ignoraram a antevisão que agora se sabe certeira, outros chamaram-lhe maluco, mas já deviam saber que o treinador tem primado pelo acerto no discurso.Depois de um percurso no estrangeiro nas seleções femininas da Tunísia e Angola, e em clubes como o Espérance de Tunis, 1.º de Agosto e ASA, além dos espanhóis do Cangas, o antigo adjunto de José Magalhães no Boavista e no FC Porto fez o andebol português acreditar que havia futuro para a modalidade que suspirava por outra “Geração Resende”.Em 2016 foi surpreendido com um convite de Miguel Laranjeiro, presidente da Federação Nacional de Andebol, para treinar a seleção. Não era a escolha óbvia, mas foi a opção certa. Assumir as cores nacionais foi “espetacular”, tal como está ser o seu reinado. Foi com ele ao leme que aquela que até os melhores de sempre como Carlos Resende, Ricardo Andorinho e Paulo Faria consideram ser “a melhor geração do andebol português”, conseguiu presenças em Europeus e Mundiais e já tem duas participações em Jogos Olímpicos (Tóquio2020 e Paris2024). Mas nada supera a “coisa muito boa” que está a acontecer no Mundial2025, com uma inédita presença nas meias-finais e uma luta por uma medalha garantida.Mudar o mindsetO selecionador que ri ao ouvir A Portuguesa, talvez por pensar “onde eu cheguei” e não por ter vergonha de se emocionar, conseguiu colocar “um Portugal inteiro a ver, gostar de ver e a torcer pela seleção de andebol”, para orgulho do presidente da FPA, Miguel Laranjeiro. O sentimento começa no balneário. A primeira medida quando assumiu a seleção foi falar com os jogadores e “indagar” o que era isso de ir à seleção: “O mindset deles era ‘lá vamos nós perder outra vez’. Foram muitos anos a perder, 18 anos sem ir ao Mundial e 15 aos Europeus, sempre o mesmo grupo de jogadores ou a variar pouco. Aquilo já estava enraizado.” Mudou isso com uma atitude da qual não se orgulha, mas que achou necessário para abolir o discurso do “coitadinhos”. “Andava aos pontapés às coisas e a insultar, entre aspas, toda a gente. Parecia um maluco”, contou, confessando que funcionou porque mostrou que se importava com eles, com o andebol e com a seleção. Hoje, menos de dez anos depois, Paulo Jorge Pereira lidera uma seleção que está entre as quatro melhores do Mundo. Uma equipa que ainda não perdeu no Mundial e que já venceu três potências - Noruega, Espanha e Alemanha -, além de ter empatado com a Suécia. Tudo seleções do top 10. Segue-se a Dinamarca, que não perde um jogo em Mundiais desde 2017 e é tricampeã em título..Histórico. Portugal derrota a Alemanha e está nas meias finais do Mundial de andebol. “O Presidente da República já me ligou a dizer que vem a Oslo ver o jogo no domingo [dia da final], portanto, creio que o país inteiro deverá estar orgulhoso dos Heróis do Mar. Eliminar a Dinamarca? Com esta equipa já vimos que é possível, é só os astros estarem alinhados. Estou muito orgulhoso de ter esta gente comigo. O que estamos a fazer é brutal”, disse o selecionador, que tem acumulado o cargo com o de treinador dos eslovenos do RK Celje.Garantido está o melhor resultado de sempre num Campeonato do Mundo, também à custa do talento de Luís Frade e Rui Silva, e a confirmação de valores emergentes como Diogo Rêma , Salvador Salvador e os irmãos Martim e Francisco Costa, sustentada na experiência dos trintões Fábio Magalhães, Pedro Portela, António Areia ou Victor Iturriza. Hoje pode ser feita novamente história.isaura.almeida@dn.pt
É surpreendente, mas é a realidade. Portugal vai jogar hoje as meias-finais do Mundial de andebol com a tricampeã Dinamarca (19.30, RTP2). Se vencer estará na final a lutar no domingo pelo título mundial; se perder vai disputar o bronze na atribuição dos terceiro e quartos lugares. Seja qual for o resultado de hoje, o andebol português sai vencedor deste Mundial, mérito em grande parte do selecionador nacional, Paulo Jorge Pereira, que montou uma equipa sem medo do estatuto dos adversários.Filho de duas “pessoas extraordinárias que já cá não estão”, Paulo Jorge Pereira nasceu em Padronelo, Amarante, mas cresceu no Porto. O futebol foi a primeira, mas não a maior paixão. Esse lugar estava reservado para outra modalidade. Foi nas ruas da Ribeira que surgiu o amor pelo andebol, mesmo que, na altura, em vez de atirar a bola à baliza fosse mais pedras a outro miúdo de um bairro rival. Assim o contou, sem complexos, numa entrevista ao Expresso, em que também disse que ia ao Mundial2025 lutar por uma medalha. Uns ignoraram a antevisão que agora se sabe certeira, outros chamaram-lhe maluco, mas já deviam saber que o treinador tem primado pelo acerto no discurso.Depois de um percurso no estrangeiro nas seleções femininas da Tunísia e Angola, e em clubes como o Espérance de Tunis, 1.º de Agosto e ASA, além dos espanhóis do Cangas, o antigo adjunto de José Magalhães no Boavista e no FC Porto fez o andebol português acreditar que havia futuro para a modalidade que suspirava por outra “Geração Resende”.Em 2016 foi surpreendido com um convite de Miguel Laranjeiro, presidente da Federação Nacional de Andebol, para treinar a seleção. Não era a escolha óbvia, mas foi a opção certa. Assumir as cores nacionais foi “espetacular”, tal como está ser o seu reinado. Foi com ele ao leme que aquela que até os melhores de sempre como Carlos Resende, Ricardo Andorinho e Paulo Faria consideram ser “a melhor geração do andebol português”, conseguiu presenças em Europeus e Mundiais e já tem duas participações em Jogos Olímpicos (Tóquio2020 e Paris2024). Mas nada supera a “coisa muito boa” que está a acontecer no Mundial2025, com uma inédita presença nas meias-finais e uma luta por uma medalha garantida.Mudar o mindsetO selecionador que ri ao ouvir A Portuguesa, talvez por pensar “onde eu cheguei” e não por ter vergonha de se emocionar, conseguiu colocar “um Portugal inteiro a ver, gostar de ver e a torcer pela seleção de andebol”, para orgulho do presidente da FPA, Miguel Laranjeiro. O sentimento começa no balneário. A primeira medida quando assumiu a seleção foi falar com os jogadores e “indagar” o que era isso de ir à seleção: “O mindset deles era ‘lá vamos nós perder outra vez’. Foram muitos anos a perder, 18 anos sem ir ao Mundial e 15 aos Europeus, sempre o mesmo grupo de jogadores ou a variar pouco. Aquilo já estava enraizado.” Mudou isso com uma atitude da qual não se orgulha, mas que achou necessário para abolir o discurso do “coitadinhos”. “Andava aos pontapés às coisas e a insultar, entre aspas, toda a gente. Parecia um maluco”, contou, confessando que funcionou porque mostrou que se importava com eles, com o andebol e com a seleção. Hoje, menos de dez anos depois, Paulo Jorge Pereira lidera uma seleção que está entre as quatro melhores do Mundo. Uma equipa que ainda não perdeu no Mundial e que já venceu três potências - Noruega, Espanha e Alemanha -, além de ter empatado com a Suécia. Tudo seleções do top 10. Segue-se a Dinamarca, que não perde um jogo em Mundiais desde 2017 e é tricampeã em título..Histórico. Portugal derrota a Alemanha e está nas meias finais do Mundial de andebol. “O Presidente da República já me ligou a dizer que vem a Oslo ver o jogo no domingo [dia da final], portanto, creio que o país inteiro deverá estar orgulhoso dos Heróis do Mar. Eliminar a Dinamarca? Com esta equipa já vimos que é possível, é só os astros estarem alinhados. Estou muito orgulhoso de ter esta gente comigo. O que estamos a fazer é brutal”, disse o selecionador, que tem acumulado o cargo com o de treinador dos eslovenos do RK Celje.Garantido está o melhor resultado de sempre num Campeonato do Mundo, também à custa do talento de Luís Frade e Rui Silva, e a confirmação de valores emergentes como Diogo Rêma , Salvador Salvador e os irmãos Martim e Francisco Costa, sustentada na experiência dos trintões Fábio Magalhães, Pedro Portela, António Areia ou Victor Iturriza. Hoje pode ser feita novamente história.isaura.almeida@dn.pt