O passado português de Raphinha, um sério candidato à Bola de Ouro

O passado português de Raphinha, um sério candidato à Bola de Ouro

Chegou a Guimarães com 19 anos, recomendado por Deco, para a equipa B, onde foi treinado por Vítor Campelos. Nani recorda-se do "miúdo muito dedicado e empenhado" a quem deu conselhos no Sporting.
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Raphinha chegou a Guimarães, para jogar na Equipa B da Cidade Berço, no último dia do mercado de inverno da época 2015-16, recomendado por Deco, então seu empresário e dono de 50% do passe e hoje diretor Desportivo do Barcelona, clube onde o internacional brasileiro tem brilhado. Os números do extremo que encanta Hansi Flick impressionam e colocam-no na corrida à Bola de Ouro - será entregue em outubro -, algo que não surpreende quem se cruzou com ele no futebol português, como Nani ou Vítor Campelos.

Para o então treinador da Equipa B vimaranense, o talento era inegável, mas, nessa altura, “era impossível” vaticinar que iria ser tão influente, quanto está a ser no Barcelona e na seleção do Brasil: “Era um jogador muito inteligente, muito intenso, irreverente e com muito valor. Queria muito aprender, era incansável nos treinos, porque queria atingir patamares elevados. Teve de melhorar alguns aspetos táticos, mas tinha coisas inatas muito fortes.”

Vítor Campelos lembra que, na altura, ficou surpreendido por ver aquele jovem de 19 anos a treinar sempre “rasgadinho” e diz que sempre lhe reconheceu a competitividade - “nunca dava uma bola por perdida”- e a inteligência - “tinha, e tem, uma leitura de todos os momentos do jogos irrepreensível”- que o ajudariam a progredir no Vitória e na carreira.

Passadas umas semanas, chamou a atenção de Sérgio Conceição, que o faria estrear na I Liga, num V. Guimarães-Paços de Ferreira da época 2015-16. Jogou apenas 17 minutos, mas ganhou o seu espaço na equipa principal no ano seguinte, fazendo história na temporada 2017-18 ao marcar 18 golos em 43 jogos, o melhor registo de um jogador do clube vimaranense neste século e o seu melhor desempenho até esta época no Barcelona.

A mudança para um grande do futebol português foi o passo seguinte na planeada ascensão futebolística. Chegou ao Sporting no verão de 2018 e ajudou os leões a conquistarem uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal.

Nani recorda-se de “um miúdo muito dedicado, empenhado” a quem dava alguns conselhos. “Ele e o Bruno Fernandes eram muito amigos, estavam sempre a bater penáltis, livres, ficavam a treinar horas sem fim depois do treino acabar. Era algo que eu apreciava muito neles e, por isso, também o aconselhava muito”, disse ao DN o ex-jogador.

No início, Nani e Raphinha jogavam na mesma posição e muitas vezes coincidiram no onze: “O Raphinha era um miúdo de quem eu gostava muito e ajudei-o, no Sporting, porque jogávamos na mesma posição. Tivemos jogos muito bons, tentei passar -lhe sempre a minha experiência. Já tinha uma capacidade de aprendizagem muito evoluída. Para mim, não é nenhuma surpresa o destaque que tem, neste momento, e que esteja envolvido na competição da Bola de Ouro.”

O antigo internacional português reconhece que o extremo brasileiro mudou e tem hoje um porte físico diferente do tempo em que era leão: “No Sporting, destacava-se muito pela sua habilidade, pela vontade de ultrapassar os adversários com dribles e velocidade. E era um jogador que também rematava muito bem à baliza, já tinha uma técnica de remate diferenciada.”

Agora, segundo Nani, “continua a ser um jogador muito habilidoso, mas claramente mais objetivo, que trabalha muito para a equipa e gosta de atacar a profundidade e fazer golos”. E nota-se que está “mais preparado”, “com enorme maturidade, que ajuda muito a equipa”. Por isso, apesar da corrida pela Bola de Ouro ser “enorme” e existirem “muitos jogadores de grande nível”, Raphinha “está na luta porque o seu futebol falou mais alto e as estatísticas mostram isso mesmo”.

O (F)Click em Barcelona

Raphinha chegou ao Barcelona em 2022, aos 25 anos. E não foi amor à primeira vista. Esteve na porta de saída, mas o homem que acreditou nele e o agenciou até ser nomeado diretor Desportivo dos catalães (Deco) segurou-o e Hansi Flick potenciou o seu talento, com um futebol veloz, físico, objetivo, ideal para o brasileiro brilhar e se tornar um dos jogadores mais influentes da equipa.

Foi o técnico que lançou o nome de Raphinha na luta pela Bola de Ouro, embora o extremo tenha sacudido essa pressão, dizendo, ainda esta semana, depois de ajudar o Brasil a vencer a Colômbia e antes do jogo com a Argentina (esta madrugada), que não é um objetivo pessoal ser distinguido com o troféu da revista France Football.

Mas para muitos amantes do futebol moderno não é de todo descabido colocar o brasileiro na lista de possíveis vencedores, ao lado do francês Mbappé, do egípcio Salah e do compatriota Vinicius Junior. A campanha de todos na Liga dos Campeões e no Mundial de Clubes irá certamente fazer pender a balança para um dos lados, sendo que Salah (Liverpool) já está fora da Champions.

O alemão Hansi Flick fez de Raphinha uma espécie de falso dez, com capacidade para ocupar várias zonas do terreno. É o melhor marcador da Liga dos Campeões, com 11 golos em dez jogos, número que faz dele o brasileiro com mais golos numa só edição da história da prova, superando nomes como Neymar e dois vencedores da Bola de Ouro - Rivaldo e Kaká.

O sucesso discreto de Raphinha tem gerado um curioso interesse do mercado britânico de instant books. Já há quase uma dezena de biografias de Raphinha, sendo descrito como um exemplo de superação, alguém que subiu degrau a degrau.

Nascido na Restinga, um bairro da periferia de Porto Alegre, Raphael Dias Belolli (Raphinha, no futebol) nunca atuou num clube grande no Brasil. Saiu do Avaí para jogar no V. Guimarães B, porque Deco viu nele o jogador que o Mundo do futebol só agora vê. Seguiu-se Sporting, Rennes e Leeds, onde o “moleque” encontrou Marcelo Bielsa, o técnico que mudou a sua vida.

Sob a batuta de El Loco aprendeu a enganar os defesas... marcando-os em vez de deixar que eles o marquem e impeçam de receber a bola. Muitos dos golos de Raphinha nascem dessa capacidade de enganar o seu marcador direto. O golo ao Benfica, na Luz, é exemplo disso mesmo, com o extremo a aproveitar um erro de António Silva para marcar.

O mérito do sucesso não é só do talento inato e da crença de Deco e a sabedoria de Bielsa, também é do próprio Raphinha, que investiu em informação. Segundo a imprensa brasileira, o extremo contratou especialistas em estatística para lhe fazerem relatórios sobre os adversários. E assim, antes de cada jogo, sabe o ponto fraco de cada opositor que deve explorar.

isaura.almeida@dn.pt

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