O gigante Pepe disse adeus com um “obrigado”
Nascido em Maceió, Alagoas, Brasil, Kepler Laveran de Lima Ferreira fez-se Pepe no futebol e iria descobrir que tinha coração português, tornar-se cidadão nacional e um dos mais internacionais de sempre. O defesa-central disse esta quinta-feira adeus aos relvados, após ter acabado contrato com o FC Porto no fim da época passada e ter jogado o Euro2024 pela seleção. Para ele não fazia sentido vestir outras cores depois de uma segunda passagem pelo Dragão e decidiu colocar um ponto final na longa e bem-sucedida carreira.
Com passagens por Corinthians Alagoano (formação), Marítimo (2001-04), FC Porto (2004-07 e 2018-24), Real Madrid (2008-17) e Besiktas (2017-18), o internacional português conquistou 31 títulos, marcou 51 golos e fez 895 jogos oficiais, incluindo 141 pela seleção nacional. Um Campeonato da Europa, uma Liga das Nações, três Ligas dos Campeões, dois Mundiais de clubes, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental compõem uma invejável vitrina de troféus. Ao serviço do FC Porto foram quatro campeonatos, cinco Taças de Portugal, quatro Supertaças e uma Taça da Liga.
Pepe anunciou o fim da carreira com um vídeo de mais de 30 minutos nas redes sociais que o mostra rodeado por todos os 31 troféus que conquistou ao longo da carreira e a assistir a imagens que vão desde a infância no Brasil ao levantar da orelhuda (troféu da Liga dos Campeões) pelo Real Madrid. Entre as lágrimas da emoção e o sorriso rasgado pelo que conquistou e pelo quão feliz foi nos relvados, aquele que é um dos melhores defesas-centrais da história recente recordou ainda os melhores momentos de um percurso que terminou com a conquista da Taça de Portugal pelo FC Porto e com o último jogo pela seleção no recente Europeu. Nem as lágrimas da eliminação faltaram no filme de uma carreira que termina aos 41 anos.
Entre as recordações, o agora ex-jogador destacou a chegada aos escritórios do FC Porto na Torre das Antas, em 2004, e a forma como foi recebido pelo agora ex-presidente Pinto da Costa: “O presidente abre a cortina, levanta os estores e diz: ‘Aquela vai ser a tua casa. Bem-vindo, espero que sejas muito feliz no FC Porto. A tua felicidade será a nossa’. Retenho essas palavras e os jogos que fiz no Estádio do Dragão. Foi um clube que me colocou no olho do futebol europeu. E por isso tive a oportunidade de poder ir para o Real Madrid.”
A segunda passagem pelo Dragão terminou em junho, com a conquista da Taça de Portugal, o último troféu que levou para o Museu na qualidade de capitão: “Quando decidi voltar, fi-lo para voltar para o meu clube e poder continuar a dar alegrias aos meus adeptos. Fui recebido com o enorme carinho dos adeptos e dos trabalhadores do clube, por quem tenho um carinho especial. ” E foi a impossibilidade de seguir de dragão ao peito - o novo presidente André Villas-Boas anunciou, assim que tomou posse, que não iria renovar o contrato do central - que o levou a decidir-se pelo adeus. Nos agradecimentos cabem toda uma carreira e uma vida porque o fizeram sentir “um privilegiado” por poder acordar todos os dias e fazer o que mais gostava, “jogar à bola”.
Por isso agradeceu a todos os que permitiram seguir esse caminho, desde funcionários de clubes, a treinadores, presidentes e colegas de equipa, incluindo ao empresário Jorge Mendes, à família e em especial à mãe, “que foi essencial” para o deixar voar para o sonho de “ser futebolista profissional”. E porque todos o apoiaram incondicionalmente e o deixaram de consciência tranquila, apesar das ausências, merecem um “muito obrigado”.
Para alguém que escolheu ser português de alma e coração em 2007, vestir a camisola da seleção foi especial, como o mostraram as lágrimas no final do Euro2024. “Foram de impotência, porque acreditava que a seleção ia ganhar o Europeu. Sonhava que ia ganhar. Foram as lágrimas por sentir que não dei essa alegria aos portugueses. Sei que não nasci por aqui, mas tenho um orgulho enorme em ser português.”
"Uma carreira e um legado que serão sempre um exemplo"
O FC Porto recorreu às redes sociais para se despedir de Pepe."Uma carreira e um legado que serão sempre um exemplo para qualquer portista. Só há duas palavras possíveis: parabéns e obrigado", pode ler-se na publicação dos azuis e brancos.
O selecionador nacional também congratulou o jogador pela carreira cheia de sucessos. "Hoje é um dia muito especial para ti e para a tua família, mas também para o futebol português. Gostaria de te transmitir os meus desejos. Vou dividir a minha mensagem em dois pontos. Em primeiro lugar, parabéns. Parabéns pela tua carreira, uma carreira cheia de sucessos, cheia de bons momentos e boas memórias que ficarão para o resto da tua vida", referiu Roberto Martínez, num vídeo partilhado pela Federação Portuguesa de Futebol.
E concluiu: "Obrigado. Obrigado pelo que fizeste pela seleção, pelo que fizeste durante o teu quinto Europeu, que é sem dúvida um exemplo. Deixaste um legado para as futuras gerações de Portugal. Parabéns e obrigado. Que seja um começo de uma nova etapa cheia de felicidade na tua vida, com a tua família."
O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, considerou que Pepe, que anunciou o fim de carreira, é um "exemplo inspirador", salientando que o internacional luso ensinou a "desafiar os limites".
"Obrigado por nos ensinares a desafiar os limites! Obrigado pelo exemplo inspirador! Obrigado pela forma como deste tudo por Portugal! Obrigado, Pepe", refere Pedro Proença, que também preside as European Leagues, citado em comunicado pela LFPF.
No documento, a LPFP fala de Pepe como uma "lenda cujo legado irá perdurar para sempre" e destacou todas as conquistas ao longo da carreira, considerando o central "um verdadeiro exemplo para todo o universo do futebol".
isaura.almeida@dn.pt