Mourinho. Como o "condottiero" conquistou Roma e agora quer erguer a Liga Conferência

O treinador português apurou romanos para uma final europeia, 31 anos depois. Hoje quer fazer história e conquistar o quinto troféu europeu (o terceiro diferente) frente ao Feyenoord. Jornalista italiano conta ao DN como "Mou" conquistou os adeptos.
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José Mourinho pode erguer, esta quarta-feira, em Tirana, na Albânia, o quinto título europeu da carreira e ocupar mais um lugar na história do futebol, se a AS Roma vencer o Feyenoord na final da Liga Conferência (20.00, SIC e SportTV). Aos 59 anos, o treinador português pode ser o único a ganhar as três competições atuais da UEFA, depois de ter vencido a Liga dos Campeões (FC Porto, em 2004, e Inter Milão, em 2010) e a Liga Europa (Manchester United, em 2017, e FC Porto, em 2003, quando se chamava Taça UEFA).

Cinco anos depois, Mourinho volta a uma final europeia e nem o terceiro lugar na hierarquia da UEFA da Liga Conferência retira mérito ou valor ao troféu, segundo o jornalista italiano Gabriele Fasan: "É a oportunidade perfeita para ambos. A Roma precisava de Mourinho e Mourinho precisava da Roma para recomeçar e para sonhar."

No verão do ano passado, o português deixou-se seduzir por um projeto de risco na Cidade Eterna e levou consigo Rui Patrício (entretanto em janeiro chegou outro português, Sérgio Oliveira, médio cedido pelo FC Porto). Chegou entusiasmado e conquistou os adeptos com um bom início de época, mas com frontalidade avisou que as derrotas iriam aparecer. E na Noruega surgiu uma humilhante (6-1, com o Bodo/Glimt), que mesmo assim não impediu o clube de chegar a uma final europeia, 31 anos depois de ter perdido a final da Taça UEFA para o Inter (1991). Hoje os romanos podem aspirar à conquista de um troféu, o que já não acontece há 14 anos (Taça de Itália, em 2008).

E também por isso, o setubalense vive dias felizes. "Mourinho está a liderar uma revolução técnica e mental silenciosa com a ajuda de Tiago Pinto [diretor-geral, ex-Benfica]. Ganhou o respeito dos adeptos com um discurso simples e sendo gentil e amigável. Está apaixonado pela cidade e aprendeu o que é a Roma e o romanismo", observou ao DN o jornalista do Il Romanista, jornal totalmente dedicado aos giallorossi, recordando que desde a época 2005-06 que o Estádio Olímpico não atingia a fasquia dos 1,1 milhões de espectadores.

Para Gabriele Fasan, o técnico não criou apenas empatia com os adeptos, como também conseguiu "persuadir os céticos". O que "é admirável", tendo em conta que "a Roma não tem um ambiente fácil" e ele "teve e talvez tenha [agora escondidos] alguns opositores". Por tudo isto, a "personagem Mourinho é perfeita para o romanismo porque personifica o que os romanos, pessoas muito apaixonadas e entusiastas, querem". "Ele sabe perfeitamente como comunicar e na minha opinião está a treinar-nos a todos", atirou Fasan.

São os famosos mind games a funcionar e a fazer despertar de novo o romanismo: "Mourinho não é um gladiador, mas um condottiero [líder, na tradução para português], que não se fica pelo papel de treinador. É um maníaco profissional. É exatamente o que a equipa e a cidade de Roma precisavam, aquilo que pagaram para ter."

Seja qual for o resultado desta noite, na opinião de Gabriele Fasan a temporada "é positiva", apesar dos "muitos apagões na primeira volta do campeonato". Segundo o jornalista, a Roma "pagou o preço" da luta de Mourinho contra os árbitros, mas acabou por conquistar o 5.º lugar na Série A italiana (em 2021 tinha sido 6.ª) e garantir o apuramento para a Liga Europa 2022-23, tirando um peso de cima dos ombros do português e dos adeptos, que mais do que nunca acreditam num título que foge há 21 anos.

O entusiasmo à volta da equipa é cada vez maior e isso está espelhado um pouco por toda a cidade, levando Mourinho a dizer que "Roma é uma cidade giallorossa". Esse é também o nome do projeto do fotógrafo português Jorge Castro Henriques, apaixonado pelo clube italiano e pela cidade, que colabora com jornais italianos e espera exibir o trabalho nas casas do clube no início da época.

Na antevisão ao jogo com o Feyenoord, José Mourinho assumiu que se trata de "uma final histórica", afinal a Roma vai lutar por um título europeu "depois de tantos anos". "É preciso fazer todo o possível para escrever a verdadeira história, que é vencer a final", disse, garantindo que vê os seus jogadores "concentrados e com a alegria na medida certa para jogar esta partida".

Apesar da vasta experiência em finais, Mourinho garante que olha para esta como se fosse a sua primeira. "Se dizem que estou mais sério é porque estou concentrado, talvez seja o método de me preparar para a partida", disse, garantindo ainda que, aconteça o que acontecer frente ao Feyenoord, esta "foi uma boa época para a Roma".

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