Lage uniu o que Schmidt dividiu. “Foi buscar o lado bom dos adeptos”, diz Simões
Foto: Miguel A. Lopes/Lusa

Lage uniu o que Schmidt dividiu. “Foi buscar o lado bom dos adeptos”, diz Simões

António Simões, antiga glória do clube, destaca a forma como o novo treinador conseguiu puxar os adeptos para junto da equipa. Elogia a exibição frente ao At. Madrid, a forma como Lage monta o onze e acredita que ainda vai a tempo de ser campeão nacional.
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Cinco vitórias em cinco jogos e um saldo de 18 golos marcados e três sofridos. Bruno Lage substituiu Roger Schmidt a 5 de setembro, mudou completamente a equipa do Benfica e a goleada de anteontem (4-0) ao Atlético Madrid na Champions foi a cereja no topo do bolo, com os adeptos a viverem uma das melhores noites europeias dos últimos anos e cada vez mais entusiasmados.

António Simões, uma das maiores figuras da história do Benfica, bicampeão europeu em 1961 e 1962, elogia a forma como Bruno Lage “puxou” os adeptos para junto da equipa, depois de momentos conturbados na era Roger Schmidt que geraram uma divisão. “Tendencialmente, todos os treinadores o tentam fazer, mas, desta vez, havia razões objetivas para tal, face ao desfasamento que havia entre treinador, equipa e a bancada. O ex-treinador criticou publicamente os adeptos e estava a ver-se que isso não daria bom resultado”, disse ao DN.

“Não são os sócios que mandam no clube, mas eles, com o seu apoio, ajudam a equipa a jogar bem e quem serve o clube deverá ter a noção que quando fala no manto sagrado, terá de ter uma atitude de respeito sagrado com os adeptos, pois o Benfica foi feito pelo povo e quem está no Benfica não pode ter a tentação de achar que as pessoas não são importantes. Lage foi buscar o lado bom dos adeptos, em vez de denunciar os seus defeitos”, acrescentou.

António Simões confessa que o desafio de anteontem, na Luz, o fez lembrar as gloriosas conquistas passadas. “Bruno Lage teve toda a razão quando disse que foi uma noite das antigas e eu tive a felicidade de participar na esmagadora maioria delas. Foi uma maravilha e diante de uma equipa muito difícil, como o Atlético Madrid, tendo sido mérito total do Benfica ter conseguido contrariar um adversário dessa dimensão”, sublinhou. 

Simões acredita que Lage “começou por ter uma conversa com todo o grupo e, depois, reuniões individuais com alguns, onde fez um ponto de situação pessoal, que foi essencial do ponto de vista psicológico e demonstrou humanismo”.

E enumerou depois alguns aspetos mais técnicos, com críticas implícitas a Roger Schmidt: “Um carro não funciona se tiver as peças fora do sítio, mas se as tiver no lugar adequado, trabalha bem. Isso foi um fator essencial para a melhoria da equipa, com os jogadores a passarem a ser utilizados nos lugares certos.” E lembrou que “os atuais melhores jogadores da equipa já eram os melhores com Roger Schmidt, só que a diferença é que agora ganharam maior importância e existe uma verdadeira equipa”.

De resto, destacou o facto de “Bruno Lage ter à sua disposição um melhor plantel do que quando foi campeão nacional na sua primeira passagem pelo Benfica (2018-19), altura em que teve de ir buscar jogadores à formação, como João Félix, enquanto que, desta vez, só tem de rentabilizar o grupo que tem à sua disposição”.

Título ainda é possível

Questionado sobre os futebolistas que mais se têm destacado, voltou a mostrar-se concordante com o treinador. “Ele tem feito muito bem em não falar nos nomes A, B ou C. Definiu um modelo de jogo e depois, jogo a jogo, aplica a estratégia que acha mais conveniente. E os jogadores têm feito o que lhes é pedido, que é terem uma multiplicidade de funções dentro de campo”, elogiou. 

“Olhando para o último jogo, como escolher o melhor em campo? Aursnes? Os dois turcos [Kökçü e Aktürkoglu]? Ou Florentino, que fez um jogo fantástico? O interessante é que todos estiveram bem, cumprindo o que lhes foi pedido”, atirou.

Por outro lado, tem a certeza de que estes bons resultados vão contribuir para atenuar a contestação dos adeptos ao presidente Rui Costa. “O sucesso e o insucesso da equipa de futebol determina tudo o resto que se passa no clube. E ainda bem que essa contestação terá tendência a diminuir, pois eu quero um Benfica em paz, sem conflitos”, diz.

Simões confessou ainda acreditar que o Benfica vai a tempo de ser campeão nacional, mas avisa que não será fácil. “Ainda são cinco pontos de atraso para o líder [Sporting] e há muito a fazer. Lembro no entanto que na sua primeira passagem pelo Benfica, conseguiu recuperar de uma desvantagem superior [chegou a ter 7 pontos de atraso para o FC Porto] e ser campeão. E, reforço, este é um plantel com mais soluções do que aquele que encontrou nessa altura”, finalizou.

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