Jorge Vieira: "É inadmissível dizer-se que o Pedro Pichardo foi comprado!"
Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, lamenta o conflito entre os campeões olímpicos portugueses e mostra-se indignado com as declarações de Nélson Évora
O conflito entre Nélson Évora e Pedro Pichardo não é novo, mas escalou para níveis nunca vistos. Primeiro, o luso-cabo-verdiano, em entrevista à "Rádio Observador", numa referência ao seu colega do triplo salto, referiu que "foi comprado um atleta para ter resultados no curto prazo", isto a respeito do rápido processo de naturalização de Pichardo. O luso-cubano respondeu de forma dura: "Não sou uma prostituta nem sou como tu que saíste mal do clube porque te ofereceram mais. Pára de falar de mim que já pareces uma menina quando gosta de um rapaz. És bonito mas não sou gay".
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O DN contactou Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, para se pronunciar sobre esta querela. "Fico incomodado por dois dos nossos cinco campeões olímpicos se digladiarem na praça pública, mas eu nem sequer tencionava pronunciar-me publicamente sobre o assunto. No entanto, a partir do momento em que se fez referência à Federação Portuguesa de Atletismo e seguindo o ditado popular 'quem cala consente, não podia deixar de me pronunciar", começa por referir Jorge Vieira ao DN.
O dirigente federativo não esconde ter ficado indignado com Nélson Évora. "É inadmissível dizer-se que o Pedro Pichardo foi comprado! É um termo que me choca e posso garantir que a federação nunca comprou, aliciou ou convidou qualquer atleta para se naturalizar português", sublinha, acrescentando que "não houve sequer uma troca de palavras com o Pedro Pichardo antes de ele estar naturalizado". De resto, diz que "até aos dias de hoje, não houve uma única naturalização que tenha partido da Federação e os processos foram sempre iniciados ou pelos atletas, ou por familiares de atletas, ou pelos clubes".
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Sobre a alegada grande rapidez com que foi efetuada a naturalização de Pedro Pichardo, Jorge Vieira destaca que "foi feita de acordo com a lei portuguesa, nomeadamente a lei da nacionalidade, cujo artigo 24.º aponta casos especiais, em que os cidadãos candidatos à nacionalidade podem prestar serviços relevantes ao Estado português". E garante que no caso concreto do Pedro Pichardo, "quando o processo de naturalização já estava em marcha, a única coisa que a Federação fez foi acrescentar uma carta de conforto, sublinhando o interesse público da sua naturalização, tendo em conta que poderia vir a prestar serviços relevantes ao país, uma vez que já se tratava de um medalhado em Mundiais", acrescentando que o processo de naturalização de Auriol Dongmo "foi exatamente igual".
Jorge Vieira revela que pretende ter uma conversa com Nélson Évora, mas não para já. "A seu tempo, essa conversa irá acontecer. É de um enorme injustiça ter sido dito que não apostamos na formação dos jogos e que preferimos comprar atletas para obter resultados. Não esperava este tipo de declarações por parte de um campeão como o Nélson Évora e, aliás, penso que este tipo de considerações podem afetar a boa imagem pública do Nélson Évora, algo que me entristece", confessa.
Questionado se gostaria de mediar este grave conflito que existe entre os dois campeões portugueses do tripo salto, responde afirmativamente, mas garante que seria uma missão condenada ao fracasso. "Tenho todo o interesse em que este conflito termine, mas com a noção de que isso será impossível. Agora, sem dúvida que gostaria de apelar para que o nível de conflito descesse para níveis, digamos, mais aceitáveis. Todos nós sabemos de grandes rivalidades que existiram ao longo da história no desporto e nas mais variadas áreas, mas não é aceitável que se atinja uma gravidade tão extrema como a que se verificou, até porque estamos a falar de grandes campeões que têm uma imagem pública a preservar", afirma.