João Almeida. O triunfo da pantera que deseja voltar a vestir cor de rosa

Português venceu a 16.ª etapa do Giro 2023 e subiu a 2.º da geral. Está a 18 segundos da liderança, por entre elogios do diretor da UAE, do empresário e do pioneiro Acácio da Silva.

Querer é poder! João Almeida venceu a 16.ª etapa do Giro e está agora a 18 segundos da desejada camisola rosa. O português da UAE Emirates cortou a meta em primeiro lugar no alto do Monte Bondone depois de bater ao sprint o britânico Geraint Thomas (INEOS), que segue líder... à frente do ciclista de 24 anos de A-dos-Francos.

"Estou super feliz, é um sonho que se realiza. Depois quatro anos em que fiquei tão perto, agora consegui e estou super feliz, não tenho palavras para descrever este momento. A minha equipa foi fantástica, fez um grande trabalho como sempre. Foi um dia muito duro, o mais difícil até ao momento. Arrisquei e consegui, estou muito feliz e agradecido a minha equipa, à minha família, à minha namorada e a todos os que acreditam em mim", disse o português no final da etapa de hoje, já de boné e máscara, afinal a covid-19 continua por aí e já fez baixas no pelotão este ano.

Depois do 4.º lugar, em 2020, do 6.º lugar, em 2021, e de uma desistência forçada devido à covid-19, em 2022, João Almeida tinha antecipado na entrevista ao DN antes da prova ir para a estrada, a ambição de ganhar o Giro 2023 e levantar "o troféu mais bonito" do ciclismo mundial. O triunfo de ontem deixou-o tranquilo no pódio como queria, para a partir de agora atacar o triunfo final e fazer história. Nunca um português esteve tão perto de ganhar uma grande volta (Tour, Giro e Vuelta) e já passaram 44 anos desde que Joaquim Agostinho chegou ao pódio do Tour (1979).

A cinco etapas da chegada a Roma e depois de subir ao segundo lugar da geral e ficar a 18 segundos da liderança do Giro, o deixou um aviso: "Se me sentir bem ataco, se não o fizer é porque não estou assim tão bem. Vou dar tudo até ao fim." E, segundo a pantera cor-de-rosa (alcunha ganha por ter vestido a camisola rosa de líder durante 15 dias em 2020), a penúltima etapa da Volta a Itália será decisiva.

Inteligência e resistência

Na 16.ª etapa, o português impôs-se a Thomas no final dos 203 Km entre Sabbio Chiese e Monte Bondone, com os dois a cortarem a meta após 5:53.27 horas. Primoz Roglic (Jumbo-Visma) foi terceiro.

João Almeida mostrou inteligência para aproveitar o trabalho da equipa e atacar a seis quilómetros do fim. Uma mudança de ritmo que só Thomas percebeu e conseguiu aguentar, mas sem resistir ao sprint do ciclista da UAE. O esforço foi tal que o português se esqueceu da regra básica dos vencedores: fechar a camisola para cortar a meta a ostentar o nome da equipa. Um pormenor que o diretor Fabrizio Guidi lhe desculpou por entre elogios, garantindo que "pode alcançar uma dimensão maior".

Ao DN o empresário do ciclista elogiou "a maneira como ele pegou na corrida e assumiu a responsabilidade". João Correia assegurou ainda que João Almeida está "mais confiante e seguro de si próprio", atestando que ele "há muito desejava vencer uma etapa do Giro", embora o "objetivo principal do dia fosse subir na geral".

O elogio do pioneiro

Almeida é o terceiro português a vencer etapas no Giro, depois de Rúben Guerreiro (2020) e Acácio da Silva (1985) e o 11.º da história a conquistar uma etapa no Tour, Vuelta ou Giro. Rui Costa (2011), Sérgio Paulinho (2010), Joaquim Agostinho (cinco triunfos em etapas, entre 1969 e 79), Paulo Ferreira (uma, em 1984) e Acácio da Silva (três etapas, de 1987 a 89) venceram etapas da volta a França, enquanto João Lourenço (1946), José Sousa Cardoso (1959), Alves Barbosa (1961), Joaquim Agostinho (duas etapas em 1974 e uma em 1976), Sérgio Paulinho (2006) e Nelson Oliveira (2015) venceram etapas em Espanha.

Acácio da Silva foi o primeiro a vencer em Itália e não poupou nos elogios a João Almeida. "Foi uma excelente etapa, de muita inteligência. Não dava para tirar melhor proveito", disse à Lusa o antigo ciclista (62 anos), radicado no Luxemburgo. Para o vencedor de cinco etapas no Giro entre 1985 e 1989, Almeida esteve "muito, muito forte, muito convencido dele próprio" e era isso que era preciso para vencer. "O outro [Thomas] se quer ganhar o Giro tem de trabalhar", explicou um dos mais consagrados do ciclismo nacional, surpreendido por Primoz Roglic não ter respondido ao ataque.

O português apresentou-se assim em grande plano para a última das três semanas de prova. Hoje, a 17.ª etapa liga Pergine Valsugana a Caorle em 197 quilómetros maioritariamente planos, antes de a montanha regressar para voltar a testar os candidatos. E João Almeida é um deles. Mas, segundo Acácio da Silva, a vitória final "ainda está longe", apesar da ilusão dos 18 segundos.

Classificação geral do Giro após 16 etapas

1.º Geraint Thomas, 67:32.35 horas
2.º João Almeida, a 18 segundos
3.º Primoz Roglic, a 29 segundos
4.º Damiano Caruso, a 2.50 minutos
5.º Eddie Dunbar, a 3.03 minutos
6.º Lenard Kamna, a 3.20 minutos
7.º Bruno Almirail, a 3.22 minutos
8.º Andreas Leknessund, a 3.30 minutos
9.º Thymen Arensman, a 4.09 minutos
10.º Laurens de Plus, a 4.32 minutos

isaura.almeida@dn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG