Desporto
11 julho 2021 às 21h05

A mão de Donnarumma validou o regresso da Bella Italia de Mancini aos títulos

Seleção italiana sucede a Portugal, que venceu o Euro 2016. Troféu entregue pelo herói da final de há cinco anos: Eder. Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador do Europeu

DN

Portugal não conseguiu ir à final do Euro 2020 e revalidar o título, mas Eder foi e voltou a levantar o troféu! O herói do Euro 2016 fez a passagem de testemunho para o novo dono: a Itália, que repete a proeza de 1968. Portugal ficou com uma réplica para a eternidade.

Uma final guiada pela mão de Deus Diego ou de Gigi? A 22 de junho de 1986, Diego Armando Maradona derrotou a Inglaterra e vingou a Guerra da Malvinas com um golo marcado com a mão. Desde então que a mão de Deus (Dios10) é eterna. Os discípulos da igreja maradoniana dirão que foi ele, que guiou de lá do alto, para onde partiu há uns meses, a sua segunda pátria na conquista do europeu, menos de 24 horas depois de abençoar a Argentina na conquista da Copa América e dar a Messi o primeiro troféu na seleção.

Para os mais racionais a mão que deu o título à squadra azzurra foi a de Gianluigi Donnarumma. Foi o guarda-redes que segurou duas grandes penalidades e ajudou a vencer a Inglaterra (3-2), depois de um empate (1-1) no tempo regulamentar. Foi eleito o melhor jogador do Euro 2020, tornando-se o primeiro guarda-redes a merecer tal distinção. Mais impressionante ainda porque tem 22 anos e está sem clube, depois de acabar contrato com o AC Milan.

E assim a Itália descobriu um novo Gigi para idolatrar, depois de dizer adeus a Gianluigi Buffon.

Twittertwitter1414348258957266946

Com a mesma paixão e impaciência que levou alguns adeptos a tentar invadir o estádio para ver a final, Luke Shaw recebeu a bola em velocidade de Kieran Trippier e inaugurou o marcador a favor dos "três leões" logo aos três minutos de jogo. Donnarumma nada podia fazer para travar a transição (demasiado) rápida do ataque inglês. Foi o golo mais rápido de todos os 15 europeus da história do futebol, batendo a marca do espanhol Pereda, que em 1964 marcou aos seis minutos.

Entrada em força da Inglaterra, com os italianos a não conseguiram chegar com qualidade à baliza de Jordan Pickford. Os alas ingleses foram verdadeiros pesadelos para os laterais italianos e fizeram os rivais ter saudades de Spinazzola, um dos melhores jogadores deste europeu, que se lesionou gravemente no jogo dos quartos de final com a Bélgica e viu o jogo de muletas desde a bancada.

À passagem da meia hora a pressão da equipa da casa - jogou seis dos sete jogos em Wembley - relaxou um pouco a pressão. Seria estratégia para testar o que a Itália era capaz de fazer? A verdade é que a squadra azzurra foi aproveitando para ter mais bola (62% na primeira parte) e tentar construir jogo... ma continuava longe da baliza de Pickford.

Honra seja feita ao impenetrável quarteto defensivo de Sua Majestade que só sofreu quando aos 35 minutos e num remate de fora da área Chiesa levou realmente perigo à baliza adversária, mas nada mais do que isso. Em defesa da turma de Mancini, tirando o golo... os ingleses também não chegaram à baliza italiana durante os primeiros 45 minutos, apesar do jogo vistoso e em velocidade.

Num jogo entre duas seleções que apostam mais no espírito coletivo do que nas individualidades, mérito dos técnicos Gareth Southgate e Roberto Mancini, esperava-se mais pragmatismo e calculismo inglês face à necessidade de maior atrevimento e genialidade italiana. Mancini trocou Immobile por Berardi e Barella por Cristante e as mexidas iriam surtir efeito.

Logo a abrir a segunda parte Raheem Sterling ficou a pedir grande penalidade, por mão na bola de Chiellini, mas o árbitro mandou jogar. Depois foi a squadra azzura a tomar conta das operações. Em sete minutos a equipa transalpina teve duas claríssimas oportunidades para empatar o jogo. Primeiro por Insigne e depois por Federico Chiesa... mas Pickford esteve à altura com duas grandes intervenções. Era o aviso do que estava para acontecer...

Aos 67 minutos Bonucci fez o empate. O defesa central, que ontem se tornou o jogador com mais jogos pela seleção italiana em europeus (18), superando Buffon, apareceu na área sozinho e aproveitou uma bola vinda do poste para fazer o golo. Com 34 anos, dois meses e 10 dias, Bonucci tornou-se o mais velho jogador a marcar em finais e prometeu ir de férias com Chiellini para o convencer a jogar o Mundial 2022.

A Itália podia ter dado a volta ao marcado logo a seguir, mas Berardi, lançado em profundidade por Bonucci, falhou a finalização na cara Pickford! Cristante também se deslumbrou, Chiesa lesionou-se e o jogo arrastou-se até ao prolongamento como tantos outros neste europeu das 11 cidades em 11 países - uma experiência a não repetir, segundo o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin.

Foi a oitava final do Campeonato da Europa a ir para prolongamento, a 2.ª consecutiva, depois do Portugal-França de 2016 decidido por Eder aos 109 minutos. Desta vez o prolongamento foi marcado pelo cansaço e foi mesmo preciso ir às grandes penalidades para conhecer o novo campeão europeu: a Itália e o seu Il Canto degli Italiani... que impediu que o troféu voltasse a casa como era desejo dos ingleses.

Twittertwitter1414363552949886980

Cristiano Ronaldo foi coroado goleador do Euro 2020, com cinco golos e uma assistência em quatro jogos. Com 36 anos e cinco meses é o mais velho da história a ser Bota de Ouro, superando Michel Platini, que tinha 29 anos e um mês em 1984.

Há cinco anos tinha ganho a Bota de Prata no Euro 2016, com três golos e três assistências, atrás dos seis golos de Griezmann.

A assistência para Diogo Jota, na derrota com a Alemanha (4-2) valeu-lhe o troféu - os passes para golo são o primeiro critério de desempate da UEFA. Assim o capitão da seleção nacional superou o checo Patrick Schick, que também terminou a prova com cinco golos.

isaura.almeida@dn.pt

Twittertwitter1414297365859684352