O Campo das Salésias não integra o lote que o Governo vai disponibilizar para construção. Quando viu “o terreno da Rua Alexandre de Sá Pinto, em Lisboa, propriedade da ESTAMO - Participações Imobiliárias”, na lista de imóveis que o Estado irá ceder ao abrigo de parcerias público-privadas, para construção habitacional, o presidente do Belenenses ainda se assustou, dado o valor histórico para o clube e para o futebol português.“Pedimos esclarecimentos ao Governo e fomos informados que o Campo das Salésias não integra o lote para venda”, revelou ao DN Patrick Morais de Carvalho lembrando que o campo está “classificado como zona verde, jardim” e o PDM não permite construção. Só falta o “ofício” a garantir isso, segundo o líder do emblema do Restelo.Conhecido como Campo das Salésias e mais tarde batizado como Estádio José Manuel Soares (Pepe), foi inaugurado a 29 de janeiro de 1928, com lotação para 20 mil pessoas. Uma novidade à época. Foi o primeiro recinto desportivo a dispor de bancada coberta e também o primeiro com um campo relvado, a partir de 1937, tendo ainda sido a casa da seleção nos compromissos internacionais até à inauguração do Estádio Nacional, em 1944.As Salésias foram ainda palco das finais da Taça de Portugal nas épocas de 1939, 1941, 1943, 1944 e 1945. E foi lá que o Belenenses festejou o único título de campeão nacional do seu palmarés, em 1945/46, meses antes de ser despejado da sua casa. A última memória que os azuis têm das Salésias é aquele jogo, do dia 24 de abril de 1955, quando o Belenenses perdeu, nos últimos minutos, aquele que seria o seu segundo título e um dos episódios mais marcantes do futebol nacional. As bancadas já estavam de pé a festejar, quando aos 86 minutos, João Martins marcou o golo do empate do Sporting e dava o título ao Benfica.Logo depois, o clube mudou de casa. Em 1947, a Câmara Municipal de Lisboa, expropriou o clube para ali fazer passar uma estrada (projeto nunca avançou). Em troca, a autarquia ofereceu o terreno sediado numa pedreira, por trás do Mosteiro dos Jerónimos, onde viria a ser construído o atual Estádio do Restelo, uma infraestrutura com uma vista deslumbrante para o Rio Tejo, a Ponte 25 de Abril e o Cristo Rei, em Almada..O clube abandonou as Salésias em 1956 e viu o campo deitado ao abandono, sofrendo degradação patrimonial e histórica durante décadas. O clube também mergulhou numa profunda crise, da qual ainda não recuperou totalmente, mas, em 2009, o então presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, aceitou a cedência, com direito de superfície, que foi efetivada já com Fernando Medina na presidência.No entanto, só no final de 2014, o Belenenses recuperou a utilização do espaço, numa parceria com a Fundação EDP e a Junta de Freguesia da Ajuda, mantendo-se propriedade da ESTAMO. A empresa pública que gere, vende, arrenda e promove imóveis não estratégicos do Estado e de outras entidades públicas cedeu o campo ao clube para “atividade desportiva”, em conformidade com o plano de pormenor. “Temos muito orgulho em devolver este campo mítico ao Belenenses. Fomos muito determinados e falámos com as pessoas certas”, disse, na altura, Patrick Morais de Carvalho.Hoje, o novo Campo das Salésias Belenenses/Fundação EDP recebe sobretudo jogos dos escalões de formação de futebol dos azuis do Restelo.isaura.almeida@dn.pt