E agora, a França, sexta-feira nos quartos-de-final. Um adversário historicamente complicado, um dos candidatos a vencer o Euro, Vice-Campeão do Mundo, e que, até agora, apenas aquele pontapé maravilhoso de Éderzito num Stade de France pejado de insetos foi capaz de derrubar em jogos oficiais. O certo é que, se Portugal não tem exatamente maravilhado nesta competição - muito longe disso -, a equipa de Didier Deschamps também tem estado longe de apresentar em campo aquilo que o potencial do lote de convocados exigiria..Nunca se saberá até que ponto a lesão sofrida por Kylian Mbappé logo no jogo inaugural, que o tem obrigado a jogar de máscara devido a uma fratura do nariz, condicionou o contributo que a grande estrela dos bleus poderia ter dado nas quatro partidas da equipa gaulesa até agora na Alemanha, mas o certo é que o balanço, até ao momento, é quase tão excitante como o resultado da primeira volta das eleições parlamentares no país..Uma vitória frente à Áustria, cortesia de um autogolo, um nulo frente aos Países Baixos (sem Mbappé, é certo), um empate com a Polónia com o único remate certeiro a aparecer num pontapé de penálti, e novo autogolo a resolver a partida dos quartos com a Bélgica aos 85 minutos: três golos, dois deles na própria baliza e o outro dos 11 metros não é um registo propriamente impressionante. E tudo isto resultou no 2.º lugar no seu grupo atrás dos austríacos, colocando os bleus no lado difícil da caminhada até Berlim..Apesar do domínio visível que teve em todas as partidas até agora, estatisticamente os números não são impressionantes: uma média de 53% de posse de bola (Portugal tem cerca de 65%), 49 remates (dos quais 16 enquadrados, contra 50/21 da equipa de Martínez) e três jogos sem sofrer golos (a equipa das quinas só obteve dois). Mas muita qualidade na posse de bola, com mais de 90% de acerto no passe (Portugal está muito perto do registo, com 89%) e segurança defensiva, raramente consentindo oportunidades ao adversário (Lukaku que o digna, na forma como foi anulado na partida dos quartos): daí resultou somente um golo sofrido, também ele na concretização de um penálti (Diogo Costa já teve de ir três vezes ao fundo da baliza)..Deschamps começou por apostar num 4X3X3, com algumas variações, mas perante a Bélgica, uma equipa que esperava mais ofensiva, alterou um pouco as coisas, dispondo o seu onze num 4X3X1X2, com Griezmann a jogar numa posição mais recuada, atrás do duo da frente, e N’Golo Kanté a fechar o lado direito. Acabou por resultar em vitória mas, uma vez mais, sem se poder falar numa atuação deslumbrante, embora sólida - e se há alguma certeza para a partida de sexta-feira em Hamburgo é que Maignan (à baliza), Koundé, Upamecano, Saliba e Theo Hernández vão constituir a defesa no onze de Deschamps. Daí para a frente a única certeza é a ausência de Rabiot, castigado....Já se os relatos da imprensa gaulesa que dão conta de algum mal-estar na concentração da equipa - com os jogadores descontentes devido às atitudes do selecionador e a forma como foi feita a preparação - são verdade ou não só se saberá, como sempre, no fim..Rival maldito.Independentemente de tudo isto, a França é sempre um adversário complicado para Portugal, que ao longo da história apenas bateu os gauleses seis vezes em 28 jogos realizados (duas nos últimos 50 anos), cinco delas em partidas de caráter particular. A única vitória oficial, como já referido, foi a 10 de julho de 2016 e mesmo assim só obtida no prolongamento com o fabuloso remate de Éder que proporcionou a maior vitória internacional à seleção portuguesa..No resto, regista-se um rasto de desilusões: a meia-final de Marselha em 1984 (igualmente num Europeu), perdida também no tempo extra, com o golo de Michel Platini aos 119 minutos a fazer o 2-3; a mão de Abel Xavier que resultou no penálti convertido por Zidane (1-2) que afastou a “Geração de Ouro” da decisão no Euro2000; o outro castigo máximo de Zizou que privou Cristiano Ronaldo de jogar uma final de um Mundial em 2006 (0-1); e o duplo confronto na Liga das Nações em 20/21 resolvido com um golo de N’Golo Kanté na Luz, depois de um nulo em França que impediu Fernando Santos de defender o título conquistado no Porto..A última vez que a equipa das quinas defrontou os bleus foi na fase de grupos do último Campeonato da Europa de 2020 (jogado em 2021), em Budapeste, e a coisa até ficou empatada (2-2), com CR7 a bisar dos 11 metros - Portugal acabaria eliminado nos oitavos pela Bélgica de... Roberto Martínez, a França cairia na mesma fase no desempate por grandes penalidades perante a Suíça.