Confiança sem presunção. A promessa de Santos para a estreia
É impossível olhar para o Portugal-Espanha desta sexta-feira (19.00, em Sochi), que marca a estreia das duas seleções neste Mundial, e ignorar a revolução que atingiu a seleção espanhola. Impossível para os espanhóis, para os portugueses e para o resto do mundo, que assistiu incrédulo nos últimos dias para o processo de substituição de Julen Lopetegui por Fernando Hierro.
Mas Fernando Santos sabe que a imagem projetada de uma Espanha fragilizada às portas da competição é um isco perigoso que a seleção portuguesa não pode morder para este duelo ibérico da primeira jornada do grupo B. E é essa a mensagem repetida nas horas que antecedem a entrada de Portugal em campo neste Mundial, como demonstraram tanto o selecionador como o médio João Moutinho na conferência de imprensa de antevisão da partida.
"Há dez anos que a Espanha joga da mesma forma. Não espero nenhuma surpresa", sublinhou Fernando Santos, no remate final da inevitável abordagem aos acontecimentos que nas últimas horas afetaram o rival. "Efeito negativo não terá, efeito positivo poderá trazer... A Espanha tem-se preparado para o Campeonato do Mundo já há algumas semanas, pelo que essa mudança não vai alterar muito o seu estilo de jogo, da sua maneira de jogar", tinha já referido Moutinho minutos antes.
A ordem é clara: nada de entusiasmos despropositados. De resto, Fernando Santos promete uma equipa "confiante, mas sem presunção" para a entrada em cena no mais apetecido dos palcos do futebol mundial, onde Portugal aparece com o inédito estatuto de campeão europeu em título. O que, garante João Moutinho, não adiciona "qualquer pressão extra" nem faz da seleção portuguesa favorita ao título mundial. "Candidatos sim, favoritos não", esclarece o médio, que remete o favoritismo para as seleções do costume. Entre as quais o adversário desta sexta-feira.
A Espanha pode até ter perdido o estatuto de principal favorito nas casas de apostas, com a inusitada crise provocada pelo anúncio da contratação de Lopetegui pelo Real Madrid, mas não perdeu de um dia para o outro os processos que a fizeram chegar à Rússia com o estatuto de favorita, suportado por uma qualificação quase imaculada (só um empate em dez jogos) durante a qual recuperou muito do glamour futebolístico que lhe valeu três grandes títulos consecutivos entre 2008 e 2012 (dois europeus e um mundial).
Preparados física e mentalmente
Foi essa versão espanhola que Fernando Santos valorizou na preparação de um duelo que catalogou como "um clássico do futebol". Com a garantia de que Portugal "está preparado" para enfrentar a melhor Espanha, "uma grandíssima equipa, que vai tentar impor o seu jogo e a sua forma de jogar", mas para a qual a seleção nacional está pronta "física e mentalmente". "Podemos defrontar qualquer adversário com a ambição natural de vencer o jogo", frisou, aproveitando também para realçar que Hierro, o novo selecionador espanhol, é "um amigo" ao qual deseja felicidades no novo cargo, "mas não neste jogo".
Num grupo B que contempla ainda as seleções de Marrocos e Irão, o duelo ibérico é o cabeça-de-cartaz que se anuncia logo de entrada. Um primeiro jogo que pode ser decisivo na resolução de um grupo que, teoricamente, tem tudo para se decidir entre Portugal e Espanha. Além disso, há sempre uma dose extra de ansiedade a contemplar antes de cada estreia numa grande competição. "O primeiro jogo do Mundial para qualquer equipa é sempre um jogo mais difícil. Teoricamente é assim", constata Fernando Santos, que acredita no entanto que este Portugal-Espanha "tem tudo para ser um bom jogo". "Espero que seja um grande jogo", sublinhou.
Historicamente, Portugal já não ganha um jogo de abertura de um grande torneio desde o Europeu 2008, mas "a história é passado", desvaloriza o selecionador. "O que interessa é o presente e o presente é amanhã [hoje]. Nós queremos acabar com essa história de não conseguir ganhar o primeiro jogo."
Tática escondida até à hora de jogo
Fernando Santos não abriu o jogo quanto ao onze nem quanto à tática que Portugal vai apresentar neste arranque do Mundial. O 4x4x2 mais habitual dos últimos tempos, com a recente dupla Cristiano Ronaldo e Gonçalo Guedes na frente, ou um 4x3x3 que permita o reforço da zona central do meio-campo, frente a uma Espanha que tem na zona intermédia o seu ponto mais forte? "Vocês querem saber, mas o treinador espanhol também quer saber. Nenhum de nós vai aqui entregar o jogo ao outro".
Os trunfos ficam guardados até às 19.00 de hoje. A partir daí, sim, é altura de jogar todas as cartas na mesa deste Mundial.