Fernando Gomes garante que "está fora de questão" ser arguido no processo de venda da antiga sede da FPF
A venda da antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em abril de 2018, está sob investigação da PJ, mas o antigo presidente da instituição, Fernando Gomes, garante que não teme vir a ser constituído arguido na Operação Mais-Valia: "Está fora de questão."
Apesar de o diretor da Polícia Judiciária ter dito que o ex-presidente da FPF não era visado, soube-se depois, numa notícia do jornal Público, que sim. Mas o agora presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) reafirmou que "em nenhum momento" foi "citado ou inquirido". E esclareceu: "Intervi numa reação, relativamente a essa investigação, dentro do quadro de competências, que a polícia e o Ministro Público têm. Têm toda a legitimidade para fazer as operações que entendam. Da minha parte aquilo que eu tenho de dizer é que a justiça faça o seu trabalho, que a justiça tem de fazer o seu trabalho e tem de investigar. Se foi pedido acesso aos meus emails e recibos de vencimento? Zero. Nunca fui citado para o que quer que seja. Desconhecia até às 15h43 que havia essa operação."
E remeteu de alguma forma explicações para a atual presidente do Conselho Fiscal da FPF eleita pela direção de Pedro Proença. Era a empresa dela que fazia os relatórios trimestrais de auditoria à gestão da FPF: "A Federação tinha duas auditorias quase em simultâneo. Além do Conselho Fiscal, que exercia a sua função, tinha uma empresa de auditoria, por mero acaso, que era representada nesse processo pela atual presidente do Conselho Fiscal da Federação: Raquel Esperança Sismeiro. E nunca nos reportou qualquer tipo de anomalia em todos os relatórios que elaborava trimestralmente. Essa documentação está na Federação Portuguesa de Futebol. Isto são 52 relatórios de auditorias trimestrais que são do conhecimento da atual presidente do Conselho Fiscal da Federação."
Para Fernando Gomes, é preciso "acima de tudo ter cuidado na proteção" do nome das pessoas. "Infelizmente, há pouco tempo tive uma pessoa muito amiga que desapareceu, que foi enxovalhada publicamente, que no fim foi ilibada completamente e, portanto, a proteção do nome é uma área fundamental que deve ser preservada em todos os momentos, em qualquer investigação", disse, antes de revelar que "havia 11 propostas [para compra da antiga sede da FPF] e foi escolhida a melhor". A da empresa de José Inácio.
Esta sexta-feira, no dia em que foi inaugurada com o seu nome a alameda junto à Cidade do Futebol, em Oeiras, o agora presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) disse ainda não estranhar a ausência do sucessor Pedro Proença na cerimónia. "Está presente quem quer estar presente. Portanto não tenho que manifestar surpresa, a Câmara Municipal de Oeiras convidou a Federação Portuguesa de Futebol e foi com muito gosto que tive a presença do vice-presidente Toni, que prezo muito. Por isso a federação esteve muito bem representada", defendeu o dirigente.
A investigação á venda da antiga sede da FPF está a cargo do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) de Lisboa, foi aberta em 2021 e deu origem à Operação Mais-Valia, depois de serem “identificadas um conjunto de situações passíveis de integrarem condutas ilícitas relacionadas, sobretudo, com a intermediação da venda” do edifício em questão, por mais de 11 milhões de euros, segundo se pode ler no comunicado da PJ.
Em causa estão suspeitas da prática de crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal, segundo o comunicado da PJ, que fez buscas, na terça-feira, na Cidade do Futebol, nova sede da FPF, e mais 19 locais, tendo já sido constituídos dois arguidos. O ex-secretário-geral da FPF, Paulo Lourenço é um deles, tendo já garantido "não ter recebido qualquer benefício", e pedido a revogação do contrato de prestação de serviços que o ligava ao organismo liderado por Pedro Proença, eleito no dia 14 de fevereiro.
Nem 24 horas depois de ver a FPF abalada pelas buscas, Pedro Proença reuniu a direção da Federação e decidiu, entre outras coisas,adotar mais medidas anticorrupção e a extensão da auditoria, que decorria desde o dia 17 de março, referente aos anos entre 2020-24, ao mandato 2016-20, altura em que a FPF vendeu ambos da presidência de Fernando Gomes, que na terça-feira tomou posse como presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).
E irá interpor "ações judiciais contra quaisquer pessoas e entidades que venham a ser responsabilizadas por danos causados à Federação Portuguesa de Futebol".