Estoril, Belenenses, Atlético e o Torreense (feminino) são alguns dos clubes que pretendem alugar os relvados do Complexo Desportivo do Jamor, incluindo o campo do Estádio Nacional para a época 2025/26. A lista é extensa e não pára de crescer, fruto da escassez de campos relvados, um problema que afeta mais a região de Lisboa, embora já seja um problema nacional, e chega a clubes da I Liga, como o Estrela da Amadora e o Casa Pia.Os campos do Jamor chegam a ter 12 horas de utilização diária e os custos de utilização dos relvados vão dos 95 aos 900 euros por hora. Com iluminação ou sem iluminação, com uso de balneários ou sem uso de balneários. A tabela de preços do Jamor é pública e consta do site da entidade estatal, que tem um preçário diferente para entidades de Utilidade Pública e atividades com e sem fins lucrativos. O Estrela da Amadora foi um dos emblemas que chegou a treinar e jogar no Estádio Nacional. Agora, a equipa principal joga no Estádio José Gomes e treina no relvado do campo do Sindicato de Jogadores, em Odivelas, mas, até lá chegar, os tricolores andaram a saltitar de campo em campo, desde o relvado da Cidade Universitária, em Lisboa, até ao campo do Real, em Massamá..Vítor Filipe: “Alguns clubes fazem autênticos milagres e diminuir a prática do futebol não é solução”.A logística do histórico emblema da Reboleira é digna de reconhecimento. A equipa principal treina no campo do Sindicato de Jogadores e joga na Reboleira. Os Sub-23, que venceram a Liga Revelação em 2022/23, treinam no campo Mário Wilson, em Oeiras, e jogam no Estádio das Seixas, na Malveira. Já a equipa feminina montou arraiais no Complexo Municipal do Monte da Galega, na Amadora. É lá que treina e joga. E a equipa B dos tricolores, como está na distrital, treina e joga no campo secundário de relva sintética, na Reboleira.Esta logística exige também uma manobra financeira considerável. No caso dos Est. Amadora, segundo soube o DN, os encargos com o aluguer de campos e instalações, eram de cerca de 100 mil euros por época. Um valor que a SAD liderada por Paulo Lopo, espera ver reduzido esta época, depois do acordo de utilização do campo do Sindicato de Jogadores, em Odivelas, em troca da manutenção das instalações - incluindo o tratamento do relvado -, que também são usadas para os treinos dos árbitros. O custo é de cerca de sete mil euros. A realidade do Casa Pia é diferente, mas igual ao mesmo tempo. Os gansos jogam em casa emprestada, mas, até esta época treinaram no seu estádio que, não cumprindo as regras da I Liga para receber jogos, tinha uma relvado conforme aos regulamentos para treinar (regulamento da I e II ligas exige um segundo relvado, para treino, além do campo de jogo). Com o avançar das obras de remodelação do estádio do Casa Pia a equipa teve ir treinar para outro campo.Racing Power: problema no femininoO caso do Racing Power, clube que só tem futebol feminino, é paradigmático. A equipa da Liga BPI não tem qualquer campo próprio, seja para jogar ou treinar. Para esta época celebrou um protocolo com a Câmara Municipal de Setúbal para passar a jogar e treinar no Complexo Municipal do Vale da Rosa - antes reservado por Pedro Pichardo do triplo salto - sendo que o acordo de utilização implicou a mudança de relvado, à responsabilidade do clube, e também algumas obras no recinto por causa das exigências da Federação Portuguesa de Futebol para o escalão principal do futebol feminino. Modalidade cresceu 13,5% em 2024/25, totalizando agora 19.428 praticantes federadas, muitos menos do que os 220.393 homens federados.A mudança para Setúbal também teve um lado financeiro associado. Até esta época jogavam no Jamor e treinavam, ora no Jamor ora no campo do Kartódromo Internacional de Palmela, que tem dois relvados regulamentados. As sub-17 e as sub-19 treinam e jogavam no campo do Amora, mas ainda não têm 'casa' para a temporada 2025/26.O problema afeta os clubes e as equipas de divisões inferiores também. Com a subida à Liga 3, o 1º Dezembro ganhou esse problema. A equipa de Sintra vai jogar no campo do Real, o único campo relvado disponível na região de Lisboa, mas chegou a ponderar jogar no Complexo Carla Sacramento no Seixal e chegou a jogar quase a 200 km, em Ponte de Sôr. E, embora a capital e a Área Metropolitana de Lisboa tenham uma grande concentração de clubes, escolas de futebol e praticantes amadores e sofra mais com a falta de relvados, como admitiu ao DN, o presidente da Associação de Futebol de Lisboa, Vítor Filipe, o problema já é nacional. O Lusitânia de Lourosa (Santa Maria da Feira), que subiu à II Liga e teve de avançar com obras no seu estádio, no sábado, jogou com o Des. chaves, no relvado do Olival, centro de treinos do FC Porto, e nos próximos jogos fora de casa, pode ter de ir jogar ao Jamor a 310 Km. O Fafe, por exemplo, fez um acordo com o Freamunde para a utilização de um campo deles e vai pagar entre 400 a 700 euros por treino, segundo uma fonte do clube. Depende do tempo e da hora de utilização. Mas só vai ter esse campo disponível depois de dia 20 de agosto, porque agora está alugado a equipas estrangeiras que estão a fazer a pré-época na zona. O Fafe, como outros emblemas, ainda consegue fazer um ou outro treino em campo próprio, mas os custos com o aluguer de relvados já mexem com o orçamento dos clubes. Uma equipa dos três principais escalões faz em média 50 jogos e cerca de 250 treinos numa época, podendo gastar à volta de 100 mil euros em aluguer de relvados.isaura.almeida@dn.pt