Europeu de futebol feminino arranca com recorde de prémios e Portugal à procura de fazer (mais) história
Apontar a campeã mundial, Espanha, ou a campeã da Europa, Inglaterra, para vencer o Europeu de futebol feminino, que arranca, esta quarta-feira, 2 de julho, na Suíça, parece uma aposta fácil. Afinal, ambas disputaram entre elas os dois principais títulos da modalidade, mas há seleções com tradição no futebol feminino que procuram uma oportunidade para desafiar as seleções mais vanguardistas da atualidade, casos da Finlândia, Alemanha e Dinamarca.
Ou a Noruega, que defrontará a anfitriã Suíça já esta quarta-feira, em Basileia, que foi campeã olímpica, mundial e europeia entre 1987 e 2000, e conta com Caroline Graham Hansen, Frida Maanum, Guro Reiten e a experiente Ada Hegerberg. A equipa helvética é candidata a grande surpresa da prova. Liderada por Pia Sundhage, uma das selecionadoras históricas e mais bem sucedidas de sempre, que liderou os EUA, a Suécia e o Brasil.
Após conquistar o seu primeiro grande troféu feminino, a seleção inglesa, que tem em Keira Walsh a sua maior estrela, quer tornar-se na segunda seleção, depois da Alemanha (2005 e 2009), a erguer o troféu duas vezes seguidas. Esse é, também, o desafio de Sarina Wiegman, a treinadora que conduziu a Inglaterra à final do Mundial2023, que perdeu com a Espanha, um ano após a conquista do Euro2022. No entanto, as inglesas terão pela frente um início duro com a França e os Países Baixos, antes de defrontarem o vizinho País de Gales, um dos estreantes, a par da Polónia.
O título europeu é o único que falta à seleção espanhola. Lideradas por Alexia Putellas e Aitana Bonmatí (em dúvida para o início do torneio, incluindo o jogo de estreia, com Portugal, devido a uma meningite viral que a levou ao hospital já durante o estágio), a equipa procura mostrar em campo que é a mais forte da atualidade e afastar de vez as polémicas dos últimos anos a envolver os festejos da sua maior conquista, com Rubiales, então presidente da federação espanhola, a ser entretanto condenado por dar um beijo não consentido a uma jogadora.
A ambição das Navegadoras tem sido evidente em cada jogo e a cada bom resultado. Depois da primeira presença e da primeira vitória em Europeus, em 2017, diante da Escócia, a equipa liderada por Francisco Neto desde 2014, também se estreou em Campeonatos do Mundo em 2023 e chega agora ao seu terceiro Europeu, depois de ter estado no Euro2022, com a missão declarada de passar a fase de grupos.
Mas para isso terá de contrariar o poderio das espanholas, campeãs do Mundo, as italianas e as nigerianas no Grupo B. A estreia é com a Espanha, uma seleção que tem as melhores jogadoras da atualidade - Aitana Bonmatí (2023 e 2024) e Alexia Putellas (2021 e 2022), ambas do Barcelona, e a benfiquista Cristina Martín-Prieto - e impôs pesadas derrotas a Portugal nos últimos dois jogos para a Liga das Nações (4-2 e 7-1).
Mais experiente e com jogadoras que estão na primeira linha do futebol europeu como Ana Borges (a mais internacional de sempre), Tatiana Pinto, Jéssica Silva e Kika Nazareth, que é hoje a maior referência do futebol feminino nacional, mas não joga desde 12 de março, Portugal defronta a campeã mundial, esta quinta-feira, 3 de julho às 20h00, no Estádio Wankdorf, em Berna. O jogo com Itália, duas vezes vice-campeã mundial na década de 1990, é no dia 7, em Genebra, e o confronto com a Bélgica está marcado para o dia 11, em Sion.
Mais de 600 mil bilhetes vendidos
"O futebol une as pessoas. Quando nós, como culturas diferentes, nos unimos, começamos a entender-nos melhor. O futebol tem um alcance muito grande e espero que possa contribuir para tornar o mundo um pouco melhor." A frase de Lara Dickenmann, antiga internacional suíça e embaixadora do torneio, que será histórico a vários níveis, segundo a responsável pelo futebol feminino da UEFA, Nadine Kessler.
A começar pelo número de bilhetes vendidos: mais de 600 mil até agora, um recorde de bilheteira que a UEFA exibe como troféu pela aposta na modalidade e que supera os 574.875 ingressos vendidos para o Euro2022, que se jogou em Inglaterra e que já tinha duplicado os ingressos vendidos para o Euro2017 (247.041) nos Países Baixos.
"Um dos principais objetivos era vender todos os bilhetes para o evento. Lembro-me que as pessoas se riram quando estabelecemos este objetivo, mas está a tornar-se realidade", disse a responsável pelo futebol feminino da UEFA, Nadine Kessler, antes de revelar que 22 dos 31 encontros do torneio já têm lotação esgotada.
Segundo a UEFA, 35% dos 600 mil bilhetes foram adquiridos por estrangeiros, com a Alemanha no topo da lista. Portugal contará com o apoio da grande comunidade portuguesa na Suíça, que é de cerca de 261 mil emigrantes.
Federações obrigadas a distribuir parte dos prémios pelas jogadoras
A UEFA vai distribuir 41 milhões de euros em prémios pelas 16 seleções presentes no 14.º europeu da história. A equipa vencedora poderá receber até 5,1 milhões de euros - mais do dobro dos 2,085 milhões de euros que Inglaterra recebeu, em 2022, pelo título. Cada uma das 16 equipas participantes (Portugal incluído) receberá um mínimo de 1,8 milhões de euros.
Segundo o regulamento, a UEFA separa os prémios da seguinte maneira: 70% dos bolo total de 41 milhões será distribuído pelas federações, que estão obrigadas a pagar "entre 30 e 40%" do seu prémio monetário às jogadoras, com um intervalo recomendado de"35 a 40%" para as equipas que chegarem à fase a eliminar. Os restantes 30% serão utilizados para premiar o desempenho: cada equipa receberá 50 mil euros por um empate e 100 mil euros por uma vitória na fase de grupos, e depois 550 mil, 700 mil e 850 mil euros, respetivamente, até à final.
Assim, o campeão europeu receberá um mínimo de 1,75 milhões de euros pelo seu título, para além do prémio monetário de 1,8 milhões de euros, num máximo de 5,1 milhões de euros se vencer os três jogos da fase de grupos. Tal como em 2022, os clubes recebem 657 euros por cada dia em que a jogadora estiver ao serviço da seleção neste Europeu.
isaura.almeida@dn.pt