12 julho 2016 às 01h12

Do aeroporto à Alameda foram muitas horas de viagem

Lisboa pintou-se de verde e vermelho. Milhares de pessoas saudaram os heróis e viram com os próprios olhos a taça tão desejada

Carlos Nogueira

Longa foi a espera. No aeroporto, no Palácio de Belém, em vários locais de Lisboa, as pessoas foram-se juntando, algumas sem dormir, ansiosas à espera que os heróis pisassem finalmente solo português e mostrassem a taça.

Os primeiros sinais de que o avião Eusébio, que transportou a seleção desde Paris, estava a chegar foram dados às 12.37 horas, quando o aparelho cruzou os céus, escoltado por dois caças da Força Aérea. Foi o delírio no Jardim Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém. Milhares de pessoas cantaram ainda com mais força, como se quisessem que os jogadores os ouvissem.

Na residência oficial do Presidente da República ultimavam-se os preparativos para receber os campeões, a banda da GNR alinhava-se à entrada do palácio e os milhares de adeptos gritavam "Portugal, Portugal". No aeroporto Humberto Delgado a multidão entrou em euforia assim que os jogadores apareceram no autocarro descapotável. Uma loucura, um ambiente indescrítivel. A taça estava ali para todos verem.

O caminho para o Palácio de Belém não era longo, mas foi demorado devido à multidão e ao trânsito. Foi cerca de uma hora e meia depois de terem aterrado que os heróis chegaram à residência oficial de Marcelo Rebelo de Sousa. Assim que o autocarro foi avistado, ao som da música "A minha casinha", dos Xutos, a multidão - bem mais de cinco mil pessoas - entrou em delírio, o verde e vermelho das bandeiras parecia uma onda gigante e as vozes, muitas já roucas, pareciam transportar-nos para dentro do Stade de France, onde Éder fez o golo que irá ficar para a história.

No Pátio dos Bichos, já com o autocarro panorâmico estacionado, jogadores, treinadores e restante comitiva tinham o Presidente à espera, e com ele o primeiro-ministro António Costa, Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, alguns ministros e líderes parlamentares. Os cumprimentos foram rápidos, afinal havia uma multidão à espera.

Nos jardins do palácio estava montado um pequeno palco, bem junto à varanda, onde se seguiram os discursos. Mas antes de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, começar a falar, Cristiano Ronaldo, a coxear devido às marcas da entrada de Payet, furou o protocolo e foi à varanda, sozinho, para agradecer aos adeptos, colocando a mão direita sob o peito, como que a dizer: vocês estão no meu coração. O líder federativo agradeceu então o apoio de todos, em especial "aos emigrantes" e realçou "o espírito de grupo" que os fez chegar ao êxito.

Mais longo e emotivo foi o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa - rebatizou esta seleção de "Nação Valente" - , que a olhar para a Taça Henri Delaunay arrancou uma estrondosa ovação com um simples "boa tarde campeões". Enalteceu a profecia do selecionador Fernando Santos, com uma gaffe logo retificada... "Um homem de fé, que disse que só voltaria a Portugal no dia 11 de abril com a taça... 11 de julho, de julho e voltou com a taça", disse, classificando a sua liderança de "inteligente, resistente e persistente", destacando a "unidade e a humildade" da equipa. "Vocês lembraram-se daquilo que podiam fazer pelo orgulho de ser português e contribuiram para esse orgulho", enalteceu, lembrando o sentimento que os emigrantes em França. Antes de irem à varanda mostrar a taça, os jogadores e treinadores receberam do Presidente os alvarás da condecoração que irão ter após concluídas a formalidades legais.

A chegada dos jogadores à varanda foi o climax, onde o hino tocado pela banda da GNR foi cantado em uníssono enquanto a taça era exibida para todos.

O cortejo seguiu depois pelas ruas de Lisboa, sempre com milhares de pessoas a acompanhar. O Marquês de Pombal foi ponto de passagem obrigatório até à Alameda D. Afonso Henriques, onde outros milhares aguardavam que os heróis subissem ao palco. Foi então o momento de se abrir o champanhe, acompanhado pelo discurso de agradecimento de Fernando Santos e de Éder, o herói da final: "Obrigado a todos. Demos tudo em campo por vocês. É feriado hoje, ca..."

O fim de festa estava próximo, mas antes, José Fonte, Nani e Renato Sanches mostraram os seus dotes musicais. "Não esperava uma receção tão emocionante", admitiu Cristiano Ronaldo, à SIC, confirmando que o joelho "ainda dói um bocadinho".

O último percurso foi até à Cidade do Futebol, em Oeiras, onde os heróis tinham as famílias à espera, prontos a partir para férias. Renato Sanches foi original... apanhou um táxi para casa. Afinal, os heróis também são reais, como este título europeu.