"É essencial que não nos questionemos constantemente 'por que razão fui eu', mas que aceitemos o que nos aconteceu, sermos positivos e direcionarmos toda a nossa força para a recuperação. Tenho a certeza que é isso que o Nuno Santos vai fazer isso e voltará ainda mais forte”. Este é o conselho que Delfim, ex-jogador do Sporting, deixa a Nuno Santos, esquerdino dos leões que se lesionou com muita gravidade num joelho (operado após uma rotura do tendão rotuliano do joelho direito) e enfrenta uma longa paragem, que o vai afastar dos relvados até ao final da temporada. Delfim sabe bem do que fala, pois teve duas lesões gravíssimas na carreira que terminou precocemente aos 32 anos, depois de muita dor e sofrimento. .O antigo médio, campeão pelo Sporting em 1999/2000, recorda como os seus problemas físicos começaram, precisamente na pré-época dessa temporada. “Foi em julho, num jogo-treino em Málaga, com o Atlético Madrid. Magoei-me no menisco do joelho direito e ao fim de 16 dias já estava a jogar. Houve grande precipitação no meu regresso, devia ter sido dado tempo suficiente para que o joelho cicatrizasse, mas eu era um jovem inexperiente e peça fulcral na equipa, e voltei nesse tempo recorde”, contou..O problema físico não desapareceu e Delfim teve várias recaídas. “Regressava à competição, mas logo parava por dois ou três meses. Ao todo realizei três intervenções cirúrgicas ao joelho direito, o que me prejudicou imenso, devido ao sofrimento causado e à perda de valências. O pontapé forte era uma das minhas grandes qualidades e, naturalmente, fui perdendo potência e massa muscular nessa perna”, recordou, acrescentando: “Nunca fiquei a 100%, pois, tecnicamente, foram-me retirados os meniscos, que funcionam como os amortecedores do joelho. Hoje tenho o joelho que corresponde a uma pessoa com 70/80 anos”. .Negligência no Marselha.Delfim passou por muitas tormentas no Sporting, mas a sua pior lesão aconteceu no Marselha e por negligência médica. “Foi 100% culpa do fisoterapeuta/osteopata do clube, ao fazer-me uma manipulação selvagem nas costas. Entrei no departamento médico para corrigir uma contratura muscular e saí de lá com um problema gravíssimo na coluna vertebral”, atirou, confessando que os tempos que se seguiram foram os piores da sua vida: “Senti dores brutais que se mantiveram dois anos. Eram dores agoniantes 24 horas por dia e o meu único desejo era que me pusessem em anestesia geral e me operassem.” .“O Marselha podia assumir que cometeu um erro médico e apoiava-me a 100%, ou então, optava pela via judicial. Infelizmente foi isso que aconteceu, ao dizer que me lesionei num treino, para ganharem o dinheiro da seguradora”, contou. .Seguiram-se meses de grande sofrimento: “Fizeram-me três operações erradas à parede abdominal, em apenas três meses. Posteriormente, à revelia do clube, decidi fazer uma operação à coluna e duas semanas depois comecei a sentir melhoras. Depois fiz a recuperação com o fisioterapeuta António Gaspar, que me recuperou para a vida normal”..A lesão em Marselha ocorreu há 22 anos, mas o caso ainda está no Supremo Tribunal francês, em última instância, com Delfim à espera que, em breve, o clube francês seja condenado. O antigo médio acabou por levar cerca de dois anos a recuperar, foi emprestado ao Moreirense, onde alinhou em sete jogos e até voltou a jogar pelo Marselha... 40 meses depois do dia em que sofreu a lesão, acabando por realizar 21 jogos em 2005/06. .Hoje com 47 anos, explica como conseguiu ganhar forças para ultrapassar os inúmeros contratempos: “Consegui manter-me sempre positivo. Nunca me foi proposto apoio psicológico nem eu o solicitei, porque felizmente, nunca senti essa necessidade.”.O tumor de Bruno Aguiar.Bruno Aguiar, antigo jogador do Benfica, também passou por um longo calvário, no seu caso de cerca de ano e meio, quando representava os escoceses do Hearts..“Foi em 2007 e tinha 26 anos. Estava com dores num pé, mas os médicos não descobriam o que era. Decidi ir a Londres para ser analisado por um médico muito conceituado, e descobriu-se que era um tumor benigno. Na altura fiquei muito assustado, mas o médico disse-me que só precisaria de fazer um enxerto de pele para a zona afetada e que ficaria recuperado para a vida do dia a dia, mas que não era certo que voltasse a jogar futebol”, recordou..Bruno Aguiar revela que a sua resposta foi de que tinha a certeza de que iria voltar aos relvados, custasse o que custasse. “Foi um ano e meio de muitos tratamentos e fisioterapia, mas mantive-me sempre com pensamento positivo e consegui recuperar. Foi essencial a ajuda da família, amigos e do Hearts. Felizmente estava no clube e no país certos, enquanto em Portugal, por vezes, há aquela mentalidade de que não se deve estar a pagar a um jogador que está tanto tempo sem jogar”, sublinha..O regresso oficial foi em grande, ao apontar um golo de livre direto no dérbi de Edimburgo com o Hibernian, tendo realizado, nas palavras do próprio, “a melhor época da carreira”. Depois teve uma passagem de quatro anos e meio pelo futebol cipriota, ao serviço do Omonia, e terminou a carreira no Oriental em 2016, com 35 anos. Hoje joga padel quatro vezes por semana..Tal como Delfim, Bruno Aguiar também não duvida de que Nuno Santos vai voltar a 100%. “É um jogador experiente, que já passou por isto e vai certamente recuperar bem com o apoio do Sporting e da família”, anteviu