Como reconhecer e ajudar um atleta que tem problemas de saúde mental

Um jovem usar a ironia ou brincar com o assunto da saúde mental pode ser um sinal de que precisa de ajuda. Além disso, é também preciso que um pai ou um treinador saibam como detetar o problema e possam auxiliar uma criança com problemas a pedir ajuda, evitando que chegue a um estado de doença. Foi a pensar nisso que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) avançou para a criação do Manual de Boas Práticas de Saúde Mental no desporto de formação, um documento que o DN teve acesso e que será esta quinta-feira apresentado na Cidade do Futebol, em OeirasO manual é resultado do projeto Sentinelas da Saúde Mental e de uma parceria da FPF e com o Grupo de Atuação em Psicologia e Performance (GAPP) liderado pela psicóloga do Desporto, Ana Bispo Ramires. O manual segue as diretrizes internacionais e cataloga os cinco níveis da saúde mental, divergindo entre estados de bem-estar e estados de perturbações mentais. Os dois primeiros níveis revelam atletas com aptidão mental recomendável, enquanto os outros três alertam e revelam a doença. A necessidade de obter aconselhamento pode ser identificada através da irritabilidade, dificuldade em dormir e baixa motivação para treinar ou realizar um simples exercício.O choro fácil, a dificuldade de concentração nos exercícios e o não-cumprimento de horários e tarefas indicam a necessidade de ajuda profissional, seja de um psicólogo, um psiquiatra ou do médico de família. Tal como o atleta que revela isolamento social, ansiedade excessiva antes dos jogos e tem pensamentos de auto agressão ou dá sinais de recurso ao álcool para lidar com o dia a dia.O manual também discrimina formas de proceder ao reconhecimento precoce da doença e deixa alerta para as barreiras predefinidas, como o estigma associado à doença e à vergonha de admitir um problema.Criar ambientes positivos, inclusivos e resilientes no futebol de formação pode ajudar a evitar que uma criança ou adolescente com fragilidades emocionais possa evoluir para um estado de doença. Por isso, é recomendado dotar todos os intervenientes no processo de formação de um atleta de um conjunto de estratégias que se podem implementar no dia a dia para melhorar o clima de bem estar. Estas medidas podem contribuir para o sucesso a longo prazo do futebol como desporto e como atividade de construção comunitária, segundo o manual, que revela “o franco declínio” da saúde mental dos jovens portugueses.23% dos inquiridos com “sintomas graves”O projeto Sentinelas tem como objetivo aumentar a literacia emocional no contexto do desporto de formação e contou, numa primeira fase, com mais de 1300 participantes para avaliar o nível de conhecimento do problema. E os indicadores são preocupantes: 23% dos participantes reportaram “sintomas graves de saúde mental”, enquanto 39% apresentavam sintomas “preocupantes”. Ou seja, mais de metade dos inquiridos (62%) necessitavam de atenção profissional. Outro dado preocupante é que 25,4% dos treinadores ouvidos admitiram estar no limite e a necessitar de ajuda médica. Apoiado pela UEFA e o Ministério da Saúde, foram envolvidos neste manual 300 clubes e 22 associações distritais e regionais do universo desportivo e atletas, treinadores, pais, diligentes, funcionários de clubes e responsáveis escolares entre os 12 e os 76 anos de idade, que participaram em, pelo menos, 28 sessões de formação entre os dias 23 de setembro a 21 de dezembro de 2024, sendo que 70% dos participantes era do sexo masculino.A iliteracia dos inquiridos também deixou algumas preocupações, uma vez que 84% dos participantes confessou nunca ter participado numa formação de saúde mental no desporto e cerca de 28% considerou saber pouco ou nada sobre o tema. isaura.almeida@dn.pt

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