AUAE Emirates-XRG passou a ser a equipa mais profícua em vitórias numa só temporada de ciclismo. A equipa onde militam João Almeida, Ivo Oliveira, Rui Oliveira e António Morgado alcançou 95 vitórias, um pecúlio que nunca fora atingido na modalidade. Na história do ciclismo, nunca existiu um calendário tão extenso: vai, atualmente, desde janeiro a outubro e a UAE, com 29 atletas, perto do máximo permitido (30) teve, como tal, a maior participação possível ao longo do ano. Ainda assim, o aumento das competições aconteceu a partir da introdução do calendário World Tour, há década e meia, e nenhuma equipa se aproximou dos valores que a UAE logrou este ano. A pandemia de covid-19 condicionou durante dois anos a organização de provas, mas desde 2023 o aumento de competições tem sido constante. No entanto, isso não menoriza o feito. O registo da Columbia-HTC, na altura com um lote de sprinters de outro planeta, com Mark Cavendish, recordista de etapas no Tour à cabeça, foi ultrapassado a 15 de setembro, ou seja com um mês de competição ainda pela frente. O máximo de 85 vitórias dessa HTC, em 2009, foi desafiado pela melhor versão da Quick-Step, munida de sprinters e homens de clássicas. Só que o extraordinário resultado da UAE em 2025 depende de outras forças: são 20 corredores a conseguirem ganhar num ano e vários líderes para as corridas. Uma equipa sem sprinters de montra – Juan Sebastián Molano só logrou duas vitórias – fez das clássicas e das provas por etapas a grande força.É a toda a linha notável acumular 17 vitórias em gerais de provas por etapas. Das 12 de principal escalão, a formação com investimento superior a 60 milhões de euros (via Emirados Árabes Unidos) só não ganhou quatro: Paris-Nice, Volta à Catalunha, Renewi Tour e Guangxi Tour. João Almeida tem o particular de ser o único da equipa que só ganhou em competições World Tour: todas as dez vitórias do ciclista português são no principal escalão, com a proeza de, num ano, fazer o que ninguém conseguia desde Wiggins em 2012. Ganhou três provas WT de uma semana: País Basco, Romandia e Volta à Suíça. Ivo Oliveira ganhou por quatro vezes, António Morgado três. Rui Oliveira festejou, mas foi-lhe retirado um triunfo por sprint irregular.Almeida é o terceiro maior contribuidor para o estatuto coletivo e consolidou a força da equipa em Grandes Voltas. Foi o segundo na Volta a Espanha, tal como Isaac del Toro, a grande revelação da equipa com 16 vitórias na temporada, que havia sido segundo no Giro, perdendo a camisola rosa na derradeira etapa de montanha. Dir-se-á que foi a pecha da temporada, porque, por falta de leitura tática, o mexicano perdeu o Giro para a Visma. Tadej Pogacar passou das 25 vitórias em 2024 para as 20 em 2025, mas correu menos oito dias (50) e manteve-se a um patamar extraordinário, continuando o trilho que o pode encaminhar a ser o melhor de sempre. É o mais vitorioso na equipa e tem uma percentagem de aproveitamento inigualável na história recente: venceu oito das 14 provas de um dia que fez e foi o primeiro da história a conseguir, numa época, fazer pódio em todas as clássicas monumento. Voltou a ganhar a Volta a França – vai com quatro gerais na Grand Boucle e está a um de igualar os recordistas – e quatro etapas. Sagrou-se o primeiro campeão europeu e mundial de estrada no mesmo ano e o primeiro a vencer cinco Voltas à Lombardia seguidas. Somou a terceira Liège-Bastogne-Liège e a segunda Volta a Flandres da carreira. Tem dez clássicas monumento, está já no pódio dessa categoria. A mentalidade de Tadej, de correr sempre para vencer, alastrou à equipa, que não precisa de sprinters para dividir uma mão cheia de vitórias pelos vários ativos do plantel.