Carlos Mozer: "Ofensivo, exigente e disciplinador, Jorge Jesus tem o perfil ideal para selecionador do Brasil”
O empresário de Jorge Jesus não venderia melhor o nome do treinador português para selecionador do Brasil do que Carlos Mozer. Em conversa com o DN, o antigo jogador do Benfica e internacional brasileiro por 36 vezes, não hesitou em validar o técnico do Al Hilal para o cargo. “Jorge Jesus é um bom nome para treinar qualquer equipa ou seleção e o Brasil não é exceção. Tem um currículo tremendo, é um treinador que gosta de um futebol extremamente ofensivo, trabalha bem, é exigente, é disciplinador. Neste momento, tem o perfil ideal.”
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) prescindiu do brasileiro Dorival Júnior após a humilhação diante da Argentina (derrota por 4-1) e o treinador português foi logo um dos mais falados no Brasil para assumir a canarinha, juntamente com o italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, e o português Abel Ferreira, do Palmeiras.
E para o antigo defesa-central dos encarnados (1987 a 1989 e 1992 a 1994), o Brasil precisa mesmo de um selecionador estrangeiro. “O futebol do meu país precisa de uma mudança grande e estrutural, também ao nível da mentalidade, para que possa resgatar o futebol que jogávamos nos anos de 1980 e o Jorge Jesus é conhecedor desse trabalho e do futebol brasileiro em geral”, elogiou, talvez sem saber que a essência de Jesus, enquanto treinador, vem muito do Brasil, dos tempos de Pelé e Garrincha, e do sonho de treinar a canarinha.
Segundo Mozer, falta ao futebol brasileiro, o domínio do que é, na verdade, o futebol moderno. “Temos a nomenclatura: as transições, jogar entre linhas, isso todos falam, o problema é pôr essas palavras em prática”, argumentou.
O ex-jogador, que chegou a ser coordenador do Flamengo, mostrou-se ainda muito crítico sobre o caminho da CBF a nível técnico e diretivo. “O futebol brasileiro parou no tempo. 100%. Hoje não controlamos jogo nenhum, temos um entendimento da intensidade de jogo completamente diferente da que a Europa tem. O futebol europeu usa a intensidade e velocidade quando há profundidade, no Brasil pensam que intensidade é correr com a bola, driblar e rematar”, lamentou o antigo defesa.
É também isso que explica, em sua opinião, o facto de o Brasil estar com dificuldades na qualificação para o Mundial 2026. Está em quarto lugar, com 21 pontos, os mesmos do Paraguai (5.º) e Uruguai (3.º) e atrás de Equador (23 pontos) e Argentina (31). A Colômbia é sexta, com menos um ponto (20), quando faltam quatro jornadas para o fim. Para evitar o escândalo de não ir ao Mundial, “seria muito benéfico ter um treinador que fosse ofensivo, que devolvesse ao Brasil o controlo de jogo e tivesse o melhor entendimento, como Jesus deixou no Flamengo”.
"Resultado vem da disciplina, determinação, coerência, espírito de luta e... união"
A fama do técnico português persegue-o também ao nível do relacionamento com os jogadores. No Brasil tem sido apelidado de rude, o que, numa seleção de estrelas, poderia ser problemático. Mas para Mozer nenhum treinador tem sucesso sem apoio da estrutura. “Se for selecionador, Jorge Jesus precisa de ter livre o arbítrio para que possa trabalhar, quem comanda não pode ser amigo do jogador, tem que ser comandante de um grupo, porque o resultado só vem com disciplina, determinação, coerência, espírito de luta muito grande e, sobretudo, com união, porque a partir do momento em que a bola rola, o treinador não tem muita influência.”
Mozer considera que também tem faltado liderança em campo: “Hoje noto que as tomadas de decisão são erradas, são muito unitárias, não são coletivas e isso prejudica muito a qualidade de jogo. Há muitos jogadores com qualidade excepcional, que são reconhecidos mundialmente, como o Vinícius Júnior, mas não vemos esse trabalho em prol da seleção brasileira, por isso é preciso coordenar melhor, ter maior disciplina.”
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