11 fevereiro 2018 às 22h49

Campeões. Uma seleção que junta mestres, licenciados e operários da bola

Estes são os 14 jogadores da seleção A que Jorge Braz levou à Eslovénia para fazerem história e sagrarem-se campeões europeus

Miguel Marujo

Os 14 vingaram a final perdida para a mesma Espanha em 2010 (e só quatro - André Sousa, Bebé, João Matos e Pedro Cary - repetiram a final). Numa equipa que tem atletas das mais variadas proveniências, muitos acabaram por se encontrar em várias equipas, onde têm jogado na principal competição nacional. A estrela da seleção, Ricardinho, é o único que joga fora. E há os que jogam seguro para o seu futuro: sete licenciaram-se, dois chegaram a completar mestrados

Leia o perfil dos heróis da equipa portuguesa de futsal. Dos jogadores ao selecionador Jorge Braz.

André Sousa, guarda-redes, 31 anos (Sporting)
O guarda-redes que guardou a baliza na final com Espanha é de Coimbra e, na melhor tradição coimbrã, tem conciliado os estudos com a prática do futsal, apesar de (agora no Sporting) ter suspenso o seu segundo mestrado, na Universidade da Beira Interior. Quando chegou ao ensino superior, ainda ensaiou a Engenharia Civil, mas optou por Ciências do Desporto, em que se licenciou. Tem um mestrado em Educação Física. Começou na Académica, jogou no Instituto D. João V, Operário dos Açores e Fundão. Desde a sua primeira chamada à seleção A, em 12 de julho de 2009, já soma 87 internacionalizações. Marcou dois golos. Este foi o seu quarto Europeu.

Bebé, guarda-redes, 34 anos (Leões de Porto Salvo
Outro dos jogadores que têm formação em Educação Física, o guarda-redes dos Leões de Porto Salvo - para onde se transferiu esta época - já jogou pelo Sporting (de 2003 a 2006), transferindo-se para o rival Benfica (ali jogou 11 temporadas). Euclides Gomes Vaz, Bebé no mundo do futsal, iniciou-se aos 18 anos no Grupo Excursionista Os Económicos, uma coletividade da sua Lisboa natal e, passou uma época no também lisboeta Castelo. Também experimentou o futebol de 11, nas camadas juvenis. Soma agora 122 internacionalizações: foi titular no primeiro jogo deste Europeu e suplente utilizado nos outros. Já tinha participado em três europeus e dois mundiais.

Vítor Hugo, guada-redes, 35 anos (Sp. Braga/AAUM)
Nasceu no Porto, a 30/11/82, cidade onde se iniciou a jogar futsal no Boavista, na época de 2000/01. Depois de quatro épocas no Bessa rumou para o FJ Antunes, permanecendo cinco temporadas na equipa de Vizela. Daí Vítor Hugo saltou para o Benfica, numa experiência que se resumiu a duas épocas, para voltar ao Norte, representando o Rio Ave, de 2012 a 2014, e fixando-se desde então no Sporting de Braga/AAUM, onde além de defender a baliza minhota já fez o gosto ao pé marcando por quatro vezes na baliza adversária. Nunca foi a primeira opção para a baliza da seleção, mas foi utilizado em todas as partidas, somando agora 58 internacionalizações. Marcou um golo em 2015, estreou-se em 2007.

André Coelho, fixo-ala, 24 anos (Benfica)
Nascido em Nelas, no distrito de Viseu, André Coelho foi fiel ao clube da sua terra até bem tarde: estreou-se no ABC Nelas em 2002/03 e só dali saiu mais de dez anos depois, em 2013/14, para representar o Braga, que deixou esta temporada para representar o Benfica. Foi o jogador que deu o passaporte de Portugal para a final, ao apontar dois golos à Rússia, na vitória por 3-2 das meias-finais. André Coelho é outro dos jogadores que se licenciaram e também apresenta no currículo um mestrado em Engenharia Civil. Foi sempre suplente e aquele que mais golos marcou nessa condição no torneio (os dois contra a Rússia) e somou agora mais cinco internacionalizações às 32 que já tinha.

Fábio Cecílio, universal, 24 anos (Benfica)
Aos 24 anos, Fábio Cecílio já vai na sua terceira temporada no Benfica, depois de se ter iniciado na AJAB Tabuaço (onde esteve de 2008 a 2013) e de ter passado pelo Sporting de Braga durante duas épocas. O jovem de Barcos, localidade do concelho de Tabuaço (Viseu), estreou-se nos sub-21 em 2013 e na seleção A em 2014, contra a Croácia. Marcou o seu primeiro golo na seleção também em 2014 e voltou a marcar um golo no jogo de estreia deste Europeu, contra a Roménia. Foi sempre um suplente utilizado. Com a sua utilização nas cinco partidas deste Europeu, passou a contar com 62 internacionalizações. Esteve na prova de 2016 e participou no mesmo ano no Mundial.

Tiago Brito, ala, 26 anos (Benfica)
Formado no Freixieiro e natural de Matosinhos (como Márcio), Tiago Brito é mais um licenciado em Educação Física na seleção nacional. O ala, transferido esta época para o Benfica (também já vestiu as camisolas de Novaya Generatsiya, da Rússia, e Sporting de Braga) é internacional A desde 2014 e participou na sua terceira fase final de grandes competições, após o Europeu e o Mundial de 2016. Há um mês, tinha conquistado o primeiro troféu da carreira - a Taça da Liga, ao serviço do emblema da águia. Leva 17 golos ao fim de 64 jogos pela seleção. O último foI na fase de grupos, frente à Ucrânia, e foi eleito o "golo da jornada". Participou nos cinco jogos do Europeu.

Ricardinho, ala, 32 anos (Inter Movistar, Espanha)
Começou muito miúdo (aos 4 anos) num pequeno clube a jogar futebol de 11, no Estrela de Fânzeres, às portas do Porto onde nasceu. Foi fazer testes ao FC Porto, mas disseram-lhe que era pequenino demais. Uma treinadora convenceu-o a optar pelo futsal, no Gramidense. Chegou em 2003 ao Benfica. Fernando Santos quis testá-lo no futebol, mas felizmente ficou-se pelo pavilhão: foi cinco vezes melhor jogador do mundo, soma títulos e é um génio da finta. Não precisa que lhe chamem Cristiano Ronaldo. É Ricardinho. Soma 162 internacionalizações, num currículo recheado de títulos por clubes e, por fim, da seleção. Tem 140 golos (incluindo os seis de melhor marcador neste Europeu).

Pedro Cary, ala, 33 anos (Sporting)
Mais um dos que fez um percurso no ensino superior, com uma licenciatura em Educação Física. Nesse tempo participou no programa Erasmus, fazendo dois semestres no Brasil e em Espanha. No país vizinho jogou no Melilla FS (2006/07). Este algarvio de Faro, começou nas camadas jovens do Louletano e iniciou-se nos seniores do Benfica de Loulé (2003). Antes de Espanha jogou no Fontaínhas (Albufeira) e depois regressou para o Belenenses, antes de chegar ao Sporting, em 2010, onde está ainda. Titular nos cinco jogos do Europeu, Pedro Cary soma agora 147 internacionalizações. Estreou-se em 2007 na seleção e alcançou a 100.ª internacionalização em 2015.

Márcio, ala, 27 anos (AD Fundão)
Natural de Matosinhos e formado no Freixieiro (clube local e um dos históricos do futsal português), Márcio Moreira foi uma das principais surpresas da lista de convocados da seleção nacional para o Campeonato da Europa - onde se estreou em fases finais de grandes competições. O ala - chegado em 2015/16 à AD Fundão, após passagens por Farlab, Póvoa Futsal, Rio Ave, Módicus - era dos raros jogadores da equipa das quinas que não tinham qualquer título no currículo. Agora, ostenta o mais desejado a nível continental. No Europeu, não foi primeira opção mas esteve em quatro jogos (apenas não entrou na final, com a Espanha). Soma 18 internacionalizações e três golos pela seleção A.

Bruno Coelho, ala, 30 anos (Benfica)
O herói da final do Europeu, autor dos dois golos da reviravolta na final, e a quem chamam por isso o Éder do futsal, é ala do Benfica, onde está desde 2011. Nascido em Sintra, a 1/8/87, Bruno Coelho iniciou-se em 2002/03 nas camadas jovens do JOMA (Queluz) e chegou aos seniores do Vila Verde (Sintra) em 2006. Ainda fez uma época no Vitória Olivais (Lisboa) e outra pelo Belenenses, antes de chegar à Luz. Estreou-se na seleção A em dezembro de 2010, num empate com a Roménia e marcou o primeiro de 30 golos em 2014. Titular nos cinco jogos do Europeu, André atingiu as 98 internacionalizações e somou mais quatro golos. Já tinha estado nos três europeus anteriores e no Mundial 2016.

Pany Varela, ala, 28 anos (Sporting)
Nascido em Cabo Verde, em 25/2/1989, Anilton César Varela Silva iniciou-se nas camadas juvenis do Forte da Casa, em 2003/04. Pany Varela, como é conhecido, ainda jogou nas camadas juvenis do Benfica, onde se estreou nos seniores, na época de 2007/08. Deixou a Luz em 2011, passando pelo Belenenses, SL Olivais e AD Fundão, antes de chegar ao Sporting em 2015 - e logo para ser bicampeão. À seleção chegou em setembro de 2015 e, em 2016, jogou o seu primeiro Europeu na Sérvia. Pany jogou os cinco jogos no Euro Futsal, mas começou sempre como suplente, marcando um golo. Tem agora 33 internacionalizações e soma cinco golos.

Tunha, pivô, 33 anos (Belenenses)
Com formação em Educação Física, Carlos Jorge Vasconcelos é também professor. No entanto, o mais certo é que os seus alunos o conheçam pelo nome de Tunha, pelo qual é conhecido nos pavilhões por onde joga. Aos 33 anos, o jogador do Belenenses estreou-se agora numa competição internacional. Nasceu em Lisboa, a 24 de outubro de 1984, e iniciou-se no Ereira, em 2005, passando por "Os Torpedos", Ismailitas, Sacavenen-se, SL Olivais, Leões de Porto Salvo e AD Fundão, antes de chegar a Belém em 2015. A primeira internacionaliza-ção de Tunha na seleção A aconteceu num Rússia-Portugal (3-3), em setembro do ano passado. Soma agora 14 internacionalizações.

Nilson, fixo, 25 anos (Sp. Braga/AAUM)
Nílson Miguel - nasceu em 10 de maio de 1992, em Lisboa, e tem dupla nacionalidade angolana - é outro dos que estudou enquanto jogou. É licenciado em Gestão de Recursos Humanos. No futsal começou nas camadas juvenis do Sporting, em 2008, mas estreou-se nos seniores no Portela, clube da freguesia às portas da capital, na época de 2011/12. Em 2013, transferiu-se para o Minho, onde representa desde então o Braga. Só se estreou na seleção A em novembro de 2016 e marcou um golo neste Europeu. Depois de ter sido suplente utilizado nos cinco jogos do torneio, passou a somar 24 internacionalizações. O seu percurso na seleção começou nos sub-21, em 2012.

João Matos, fixo, 30 anos (Sporting)
Não fosse o facto de ter jogado no Clube de Carnaxide, durante as suas primeiras duas épocas (iniciou-se no futsal em 2000/01), nas camadas jovens, e o lisboeta João Matos confundia-se com as cores do Sporting. Passou pelas equipas juniores de Alvalade, antes de chegar à equipa sénior em 2005/06 e aí ficou, somando sete títulos nacionais, cinco taças de Portugal, duas taças da Liga e cinco supertaças, num total de 19 títulos. Nas vésperas de fazer 31 anos (nasceu a 21/2/87), soma este primeiro título internacional. O capitão do Sporting foi sempre titular nos cinco jogos do Europeu, contando com 134 internacionalizações. Estreou-se na seleção em 2008, onde já fez 12 golos.

Jorge Braz, selecionador nacional, 45 anos
O homem do leme renovou até 2020. Jorge Braz assumiu o cargo de selecionador nacional de futsal em 2010 e a tarefa não era fácil. A herança de Orlando Duarte, de quem era adjunto desde 2006, era pesada depois de terem levado a seleção a ser vice-campeã da Europa em 2010, prova perdida frente à Espanha, por 4-2. Mas o português nascido em Edmonton (Canadá), licenciado em Educação Física e com um mestrado em Ciências do Desporto - Treino em Alto Rendimento, não se assustou, arregaçou as mangas e com a ajuda dos adjuntos (José Luís Mendes, Pedro Palas e Ricardo Azevedo) liderou Portugal na conquista do título europeu, no domingo, na Eslovénia. Foi jogador de futebol e fez formação no Chaves, tendo integrado o plantel principal nas épocas 1991/92 e 1993/94. Uns anos depois descobriu o futsal e a paixão pelo treino. Começou por treinar futsal a nível universitário em 1997, na Universidade do Minho. Seria com equipas universitárias que conquistaria um título mundial em 2008, com uma equipa onde tinha André Sousa e Pedro Cary, hoje também eles campeões da Europa. Tem o Nível IV de Treinador, sendo orador em vários eventos sobre futsal.

Com Rui Marques Simões e Isaura Almeida