Bruno Lage e Vítor Bruno são dois treinadores muito similares naquilo que é o percurso profissional. Filhos de treinadores, antigos adjuntos, competentes naquilo que é o treino, bons a lidar com balneários e que no domingo se enfrentam pela primeira vez, num clássico, em que o Benfica recebe o FC Porto (20.45, BTV) . .Ambos procuram expiar uma jornada europeia negativa - o Benfica perdeu com o Bayern Munique (1-0), na Liga dos Campeões, e o FC Porto foi derrotado (2-1) pela Lazio, na Liga Europa - com uma aproximação ao líder Sporting, que joga horas antes em Braga e pode até aumentar os pontos de vantagem para os dois rivais (seis para os dragões e 11 para as águias). .E também por isso o clássico é revestido de importância acrescida para os da casa, liderados por Bruno Lage. Filho do conhecido treinador Fernando Lage, nascido em Setúbal (12 de maio de 1976) e licenciado em Educação Física, Saúde e Desporto, o treinador setubalense especializou-se em futebol e iniciou a carreira como treinador-adjunto nas camadas jovens do Vit. Setúbal em 1997-98, passando por vários clubes dos distritais da zona de Lisboa até entrar na formação do Benfica. Treinou os iniciados, os juvenis e os juniores, mas a progressão sustentada foi interrompida com uma saída para o Al Ahli do Dubai - primeiro nos Sub-19, depois na Equipa B - que serviu de trampolim para a equipa técnica de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e no Swansea de 2015 a 2018. .Nesse período, Paulo Rifa também fazia parte da equipa técnica do agora treinador do Sp. Braga e já conhecia Bruno Lage dos tempos em que Carvalhal liderava o Vit.Setúbal: “Ele ia ver os nossos treinos a Setúbal, depois aos Belenenses e mais tarde integrou a equipa técnica no Sheffield e no Swansea. É uma excelente pessoa, excelente profissional, é um treinador muito capaz, muito bom no treino e tem uma ideia muito clara daquilo que quer para o jogo dele. Era e é muito criativo nos exercícios de treino e é um treinador de grande competência também em termos estratégicos”, disse ao DN o agora comentador da Sport TV..Nessa altura, já se percebia que ele ambicionava caminhar sozinho. “Surgiu aquela oportunidade e ele foi, mas sentia-se claramente que mais tarde ou mais cedo iria abraçar um projeto como treinador principal, porque sempre foi essa a sua ambição”, contou o antigo observador, lembrando que Lage, mesmo sendo adjunto, “tinha muita preponderância no treino diário, na definição do trabalho e dos exercícios, porque Carvalhal lhe reconhecia muita competência.” .Competência essa que também passa por simplificar, o que, no caso, Roger Schmidt complicou. “O Benfica melhorou bastante e é hoje uma equipa muito mais alegre, muito mais dinâmica, que faz golos e joga melhor. Acredito que a primeira ação que Lage teve foi tirar a pressão de cima dos jogadores, porque é um treinador que tem muito boa relação com o balneário e detetou logo o que a equipa precisava, e que saltava à vista de quase todos: meter os jogadores nas posições certas.”.O Florentino é o melhor exemplo disso, “um jogador importantíssimo no equilíbrio da equipa”, que Lage soube potenciar. Ser a segunda vez que pega no Benfica numa situação complicada - em janeiro de 2019 foi chamado para substituir Rui Vitória, recuperou de uma desvantagem de sete pontos e foi campeão em 2019-20 - também lhe dá crédito junto do balneário e nas bancadas..FOTO: Ivan Del Val.O treinador do detalhe.Da competência de Bruno Lage para a competência de Vítor Bruno, que substituiu no cargo Sérgio Conceição, de quem era adjunto há mais de 12 anos. Nascido em Coimbra (2 de dezembro de 1982), o filho de Vítor Manuel cresceu entre relvados e balneários a sonhar ser jogador, mas cansou-se da falta de talento para sair dos distritais e apostou na carreira de treinador..Com 26 anos e já formado em Ciências do Desporto e Educação Física pela Universidade de Coimbra integrou a equipa técnica do pai, no 1.º de Agosto (Angola). A aventura africana ainda incluiu uma passagem pelo USM Blidá (Argélia) até regressar para integrar a equipa de Inácio na Naval e Leixões. Em 2011-12 auxiliou Sérgio Conceição na Olhanense, mas teve ainda uma experiência na Académica de Coimbra, como adjunto de Pedro Emanuel e Sérgio Conceição..Edinho jogava nos estudantes nessa época (2012-13) e aprendeu o que era ser “exigente” e não desistir até tirar o melhor de si mesmo. “O Vítor Bruno era aquele que vinha com os detalhes, as movimentações e os pormenores que poderiam melhorar a nossa performance. Era um adjunto muito competente e ativo no treino e trabalhava os exercícios de transição”, contou ao DN o antigo internacional português, lembrando que, na altura, a ambição mostrada era a de “crescer como treinador”, embora acredite que o objetivo a longo prazo fosse ser técnico principal..E conhecendo-o bem, acredita que a primeira mensagem que passou no balneário do Dragão foi de “confiança” no valor dos jogadores, que “ele conhece como a palma da mão”. “Mesmo sendo adjunto, sempre teve um conhecimento muito grande sobre cada jogador e aquilo que ele pretendia para o jogador. De certeza que lhes disse que todos começariam do zero, que todos teriam que mostrar merecer um lugar no onze e para acreditarem que é possível fazer coisas grandes no futebol”, disse o antigo avançado, dividindo o mérito da sua melhor época (18 golos em 40 jogos) pelo agora treinador portista e o antigo, Sérgio Conceição. .Edinho “tem visto uma equipa compacta, que sabe o que quer do jogo e que tem feito muitos golos”, graças à linha ofensiva Eustáquio, Galeno, Nico González, Pepê e Samu. E se tivesse de apostar, o antigo avançado diria que o avançado espanhol, “que se tem desgastado imenso em arrancadas desnecessárias e aos 70/75 minutos está exausto”, será o alvo de intervenção maior de Vítor Bruno, a aposta de André Villas-Boas para começar um novo ciclo à frente da equipa principal do FC Porto..A 1ª visita do presidente que já foi campeão na Luz.3 de abril de 2011: O FC Porto então treinado por André Villas-Boas conquistou o título no Estádio do Luz, depois de ganhar ao Benfica (2-1), no célebre jogo em que as luzes foram apagadas e o sistema de rega acionado dando outro brilho à festa azul e branca. “Há memórias que nos vinculam com a eternidade. Ser portista, ser Campeão Nacional, treinar o FC Porto. Como a mesma memória é traiçoeira escapa-me o detalhe, mas retenho o suficiente para me recordar de ter vivido o dia mais importante da minha carreira”, disse em 22021, Villas-Boas, que hoje volta ao palco do título 2010-11 como presidente. .isaura.almeida@dn.pt