O que tem em comum o Benfica que no sábado (20h30) vai iniciar a I Liga, na Amadora, com o que brilhou na época de 1983/84 sob o comando do sueco Sven-Gören Eriksson? A resposta é simples: nenhum dos plantéis tem futebolistas brasileiros. Trata-se de uma situação invulgar que acontece pela segunda temporada na história de um clube que só teve autorização dos seus sócios para contratar jogadores estrangeiros numa assembleia geral de junho de 1978. Um ano depois chegava o primeiro à Luz, brasileiro, pois claro. O avançado Jorge Gomes tornava-se o primeiro de 101 futebolistas nascidos em Terras de Vera Cruz a vestir de águia ao peito num jogo oficial. O último foi o também avançado Arthur Cabral, que a 5 de maio fez os últimos 45 minutos pelos encarnados numa partida com o Famalicão, tendo um mês depois sido transferido para o Botafogo.Em 1979/80, além de Jorge Gomes, o treinador húngaro contava ainda com outro brasileiro no plantel, César Oliveira, que a direção benfiquista foi contratar ao América do Rio de Janeiro, que nesse ano foi decisivo na final da Taça de Portugal quando marcou o golo da vitória (1-0) diante do FC Porto. Nas duas épocas seguintes estes dois avançados mantiveram-se no plantel, tendo em 1982/83 recebido a companhia de Paulo Campos, médio que tinha estado três épocas no Portimonense.Na época 1982/83, a primeira de Eriksson na Luz, César manteve-se nos quadros, mas por pouco tempo, pois fez apenas 10 jogos antes de se mudar para o Grémio de Porto Alegre. No início dessa época, chegou o primeiro nome sonante do futebol canarinho, o avançado internacional Cláudio Adão, que chegava do Vasco da Gama, onde tinha feito 18 golos em 27 jogos, depois de ter passado por Flamengo, Botafogo e Fluminense. Só que Adão não durou muito tempo na Luz, apenas dois meses, sem que tenha feito qualquer jogo oficial. O Benfica terminou essa época sem futebolistas brasileiros, que afinal não tinham deixado marca nesse período de quatro temporadas.Com a saída de Eriksson, a porta reabriu-se aos brasileiros em 1984/85 - algo que durou até ao final da época passada. Então, pela mão do treinador húngaro Pal Csernai que passou a contar com o médio Nivaldo, contratado ao V. Guimarães, e o extremo Wando, que chegava do Sp. Braga com a difícil missão de substituir Fernando Chalana, entretanto vendido ao Bordéus. Contudo, só em 1987 chegaram verdadeiras estrelas brasileiras ao Benfica, nomeadamente o defesa Carlos Mozer e o médio Elzo, ambos internacionais, que na prática abriram as portas da Luz a outros grandes jogadores da seleção canarinha, casos de Ricardo Gomes e Valdo logo no ano seguinte, que brilhariam sob comando de Eriksson, caindo assim o mito de que não gostava de jogadores brasileiros. Outros internacionais canarinhos passaram pelo Benfica, como Aldair, Amaral, Paulo Nunes, Roger, Léo, Geovanni, Argel, Ramires, Jonas, o guarda-redes Júlio César, Lucas Veríssimo, Everton e David Neres. Outros chegaram à seleção do Brasil graças ao que fizeram de águia ao peito, casos de David Luiz e Ederson Moraes.O capitão Luisão e o goleador JonasNa prática, do Brasil chegaram à Luz algumas das maiores estrelas da história do Benfica, muitos deles internacionais, como o capitão Luisão que é o estrangeiro com mais jogos no clube, num total de 538 partidas e 47 golos em 15 épocas. No top 5 de brasileiros que mais vezes jogaram de águia ao peito contam-se ainda o defesa Jardel (285 jogos e 16 golos em 10 épocas e meia), o médio ofensivo Valdo (184 partidas e 27 golos em cinco temporadas), o goleador Jonas (183 jogos e 137 golos em 5 temporadas) e Isaías (178 jogos, 71 golos também em cinco épocas. Seguem-se outras estrelas canarinhas com mais de 100 partidas pelo Benfica, como são os casos de Carlos Mozer, Lima, Ricardo Gomes, Geovanni, David Luís ou Léo, entre outros.Já o brasileiro com mais golos marcados de águia ao peito foi, de longe, Jonas (137), que esteve no clube entre 2014 a 2019 e marcou uma era, sendo seguido por Isaías (71) e Lima (70).Se em 1983/84 o Benfica de Eriksson só tinha três estrangeiros - o sueco Glenn Strömbrg, o dinamarquês Michael Manniche e o jugoslavo Zoran Filipovic -, agora Bruno Lage tem 16 estrangeiros, um sinal da mundança dos tempos, sendo que a nacionalidade mais representada é hoje a argentina, com Nicolás Otamendi, Enzo Barrenechea e Gianluca Prestianni, logo seguido pela norueguesa, de Fredrik Aursnes e Andreas Schjelderup.