Os jogadores do plantel principal do Benfica entraram de férias a 1 de julho e esta segunda-feira, 14 de julho, regressam ao trabalho, sem tempo a perder. Para 31 de julho está já marcado o primeiro jogo oficial - a Supertaça, com o rival Sporting - seguindo-se um mês de agosto muito quente: irá englobar as quatro primeiras jornadas do Campeonato e terá, no mínimo, dois jogos da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, acrescidos de mais dois do “play-off”, em caso de passagem.Álvaro Magalhães, antigo capitão dos encarnados, defende que o pouco tempo de descanso dos atletas “é muito prejudicial, pois precisavam de recuperar fisicamente e mentalmente, depois de um Campeonato muito desgastante, ao qual se seguiu um Mundial de Clubes, disputado debaixo de temperaturas muito elevadas”. E dá o seu próprio exemplo: “Participei no Campeonato da Europa de 1984 e depois só tive 15 dias de férias, antes de me apresentar no Benfica. Custou-me muito, foi extraordinariamente desgastante e acredito que também será muito difícil para os atuais jogadores”.Gaspar Ramos, antigo chefe do departamento de futebol do Benfica, pensa que o escasso período de férias não será um grande entrave, sublinhando que “o plantel vai ser reformulado e vários jogadores que estão a entrar não tiveram o esforço do Mundial de Clubes”. No entanto, não esconde alguma apreensão com o que tem visto. “Na época passada, penso que o Benfica tinha o melhor plantel, o que não foi suficiente para ganhar. E do que tenho lido e visto nos últimos dias na comunicação social, parece que a intenção é desfazer esse plantel”, lamenta, pedindo maior critério nas aquisições, “sendo obviamente importante a qualidade do jogador, mas nunca se poderá esquecer o seu caráter, porque sem a formação de um bom espírito de equipa não é possível ganhar”.Álvaro Magalhães confessa estar um pouco de pé atrás com os últimos mercados do Benfica e pede a Rui Costa que “não contrate só por contratar e consiga trazer jogadores de qualidade, que tenham capacidade para ser titulares e possuam alguma experiência, pois se for para contratar jovens, mais vale apostar na formação”.O defesa direito Dedic e o defesa esquerdo Obrador são, para já, as únicas contratações confirmadas, mas Rui Costa vai investir em força, para dotar o plantel de mais soluções. “Não conheço esses dois jogadores, sei apenas que um deles jogava na segunda divisão espanhola e que outro não jogava muito em França. Nem todos os jogadores estão prontos para representar um clube com a exigência do Benfica, que luta por títulos, mas vamos observá-los no início da época e dar tempo para que eles se adaptem”, destaca Álvaro Magalhães.Gaspar Ramos também se mostra expectante em relação às duas primeiras reforços. “Nunca os vi jogar. Sei que Obrador esteve emprestado pelo Real Madrid a um clube da segunda divisão e que Dedic tinha estado cedido a um clube francês [Olympique Marselha], que não quis a sua continuidade. Mas isto não quer dizer que não possam revelar-se grandes soluções, recordo que Carreras valorizou-se de forma extraordinária, precisamente depois de também não jogar no Real Madrid”, lembra, acrescentando: “Mesmo quando chegam futebolistas com grande nome eu prefiro esperar para ver. É isso que vou voltar a fazer, nestes dois casos e nas outras aquisições que se seguirão”.Na temporada passada o Benfica fez o pleno nos escalões da formação, tendo sido Campeão Nacional de Juniores, Juvenis e Iniciados. No entanto, Gaspar Ramos sustenta que o aproveitamento no plantel principal tem sido escasso, lamentando “a falta de aposta na formação, com o clube a continuar a gastar milhões em defesas laterais quando tem em casa opções melhores, como se percebe pelo rendimento que tiveram nas poucas oportunidades que lhes deram”. Na sua opinião, “isto leva a uma crescente desmoralização dos jovens do clube, pois percebem que quando chegarem a seniores não terão oportunidades, o que poderá levar a que alguns se recusem a assinar contratos profissionais”.João Félix pouco desejadoComo tem sido habitual, não poderia haver defeso do Benfica sem a “novela João Félix”, embora, desta vez, pareça haver hipóteses reais do avançado reforçar o Benfica, algo que não é do agrado de Álvaro Magalhães. “O João tem estado ‘fora dela’... não digo que ele não tenha qualidade, mas a verdade é que não tem levado a sua profissão a sério. Passou por grandes clubes nos últimos anos mas não fez nada. Caso venha, terá de mostrar outra mentalidade, se assim não for, espero que o treinador não lhe dê a titularidade de mão beijada”, sublinha.Gaspar Ramos também não pertence ao clube de fãs de João Félix. “O treinador do Benfica pensa que vai conseguir fazer dele o melhor jogador do mundo e arredores, enquanto o presidente parece esquecer-se do que o João Félix não tem feito em todos os clubes por onde tem passado. Trata-se de um grande jogador do ponto de vista técnico, mas se o Benfica pretende estar na alta roda do futebol europeu, necessita de jogadores com outros níveis de competitividade e ao João Félix falta-lhe essa competitividade, que é o mais importante”, defende.Já Thiago Almada, médio argentino do Olympique Lyon que é outro sonho de Rui Costa, seria muito bem-vindo à Luz. “Gosto muito de jogadores argentinos, de uma forma geral são bons profissionais e têm excelente atitude competitiva. E tem qualidade, penso que foi titular nos últimos quatro jogos da sua seleção. Em princípio, seria uma mais-valia para o plantel”, considera Álvaro Magalhães. Gaspar Ramos concorda, dizendo que “esse, sim, em teoria, seria um excelente reforço”.. Depois de Carreras, por quem o Real Madrid bateu a cláusula de rescisão de 50 milhões de euros, quem também deverá estar de saída é o médio turco Kökçü, com Álvaro Magalhães a defender que “nem poderia ser de outra forma, depois da sua atitude para com Bruno Lage, que ainda foi meter mais achas na fogueira”. Acrescenta que “a relação entre ambos não era boa, por isso, não fazia sentido que o jogador continuasse”. Já Gaspar Ramos considera que “Kökçü não é mau jogador, possivelmente até é melhor do que João Félix, mas criou-se um clima com Bruno Lage que não tornou possível a continuidade do jogador”.Analisando a concorrência, Álvaro Magalhães não espera um Sporting mais fraco, mesmo com a provável saída de Viktor Gyökeres. “Já era previsível que ele saísse e parece-me que o possível substituto, Luis Suárez, tem características parecidas. Por outro lado, vão manter grande parte do plantel, o que traz estabilidade”, realça. Quanto ao FC Porto, está expectante para saber como será o reforço do plantel, depois de André Villas-Boas ter revelado que, muito possivelmente, será o mercado mais gastador da história do clube. “Na época passada, também se dizia que tinham contratado jogadores de grande qualidade, mas depois quando a bola começou a rolar, as coisas não resultaram. Vamos esperar para ver...”Eleições e a “fuga para a frente”Por último, estas duas figuras do universo benfiquista entendem que as eleições no clube, marcadas para outubro, pouca ou nenhuma influência irão ter no rendimento da equipa de futebol. “Desde que ganhem o seu ordenado e lhes sejam dadas todas as condições de trabalho, os jogadores nem querem saber se o presidente é A, B ou C”, afiança Álvaro Magalhães, com Gaspar Ramos a concordar: “Os futebolistas só estão preocupados com o que se passa à volta deles mesmos, tudo o que transcende isso, eles pouco ligam”.No entanto, o antigo dirigente aproveita para lançar reparos à estratégia que tem sido seguida por Rui Costa. “Temo que estejamos perante uma fuga para a frente, com a aquisição em massa de jogadores, em vez de se optar por contratações cirúrgicas, reforçando um plantel que já tinha grande qualidade. Penso que o objetivo do atual presidente é ir buscar muitos jogadores, para que depois a equipa faça uns brilharetes e, desse modo, ele consiga influenciar os sócios. No entanto, penso que os sócios deviam votar com inteligência e não apenas influenciados por um outro bom resultado da equipa de futebol. As eleições deveriam ser um momento de viragem no clube”, realça.