Benfica pondera rescindir contrato com Pedro Pichardo

Clube recusa ficar refém dos "caprichos" do campeão olímpico do triplo salto, que ainda não está registado para a nova época. Fez apenas meia dúzia de provas pelas águias em seis anos.
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Pedro Pichardo está no olho do furacão e o Benfica pondera mesmo rescindir o contrato com o campeão olímpico do triplo salto em Tóquio2020. Contactado pelo DN, o Benfica disse nada ter a dizer sobre o assunto. No entanto, segundo uma fonte ouvida pelo DN, o clube da Luz recusa "ficar refém dos caprichos do campeão olímpico a quem deu as melhores condições que algum atleta já teve em Portugal".

Segundo soube o DN, Fernando Tavares, vice-presidente com o pelouro do atletismo, e o presidente Rui Costa tiveram alguma reuniões com o atleta para o "consciencializar dos atos de insubordinação", uma vez tem faltado às convocatórias e exames médicos, tendo ele prometido "refletir sobre algumas atitudes conflituosas".

Mas a recente entrevista ao jornal Record pode ter precipitado a saída a mal e não a bem como o atleta do triplo salto disse pretender. Nessa entrevista, Pichardo queixou-se de falta de apoio do clube e de ter verbas a receber em atraso. Uma revelação que deixou o Benfica, e em especial a secção de atletismo revoltada, e surpreendeu os dois dirigentes, que viram nas declarações do atleta um ataque ao Benfica. Daí que ponderam agora avançar para a rescisão unilateral do contrato do atleta.

O clima de hostilidade de Pichardo com o emblema que o contratou depois de desertar de Cuba dura há mais de um ano, com o triplista a recusar treinar ou realizar tratamentos médicos no Benfica, passando a tratar-se com os especialistas da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). Segundo apurou o DN, o atleta recusou mesmo partilhar o plano de preparação e falar com os diretores de departamento, incluindo Ana Oliveira, a grande responsável pela sua contratação em 2017 e a quem agora aponta o dedo.

Contactada pelo DN, a coordenadora do atletismo e do projeto Olímpico do Benfica não quis comentar as acusações, mas garantiu que vai agir a título individual: "Pichardo é mau, injusto, ingrato e mentiroso. Felizmente a história tem sido boa e elegante, mas por vezes acertamos no atleta mas erramos no homem."

Desde que se incompatibilizou com Ana OLiveira, tudo o que diz respeito ao campeão olímpico tem sido tratado diretamente por Fernando Tavares e Rui Costa. Incluindo o contrato, que o clube registou na FPA em outubro e que carece de validação do próprio através da plataforma Lince desde então, o que faz o clube duvidar que o pense fazer, já que o triplista garante ter uma proposta de outro clube.

Sobre as renovações, a federação esclareceu ao DN que são feitas em qualquer momento da época, antes da sua primeira competição oficial, "e por isso o atleta ainda não se encontra validado para poder competir, pois a renovação oficial não ocorreu". Ou seja, só tem de o fazer na véspera da primeira prova que quiser fazer.

Quanto à inspeção médica obrigatória, a FPA garante que "apenas o clube e o atleta podem responder", pois os atletas de Alto Rendimento têm um estatuto que lhes permite fazer os exames (válidos por um ano) em datas diferentes das de início da temporada. No momento de renovação oficial é que é necessária a prova de inspeção médica válida. No Benfica, Pichardo não fez qualquer exame médico nem compareceu a consultas para avaliar o seu estado físico há mais de um ano.

Em 2022, o Benfica informou que Pichardo assinou um "vínculo multianual que inclui o ciclo Olímpico de Paris e o que virá depois de 2024", sem especificar o que isso significaria. No entanto, segundo uma fonte do clube ouvida pelo DN, o clube tem a opção de estender o vínculo até 2028. Ou seja até aos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

A insubordinação do triplista há muito que é comentada nos bastidores. Ainda segundo uma outra fonte do clube, Pichardo, além de recusar trabalhar com as pessoas da secção de atletismo, "faltou a consultas médicas e falhou convocatórias para provas" sem que o clube pudesse fazer algo para reverter esse cenário.

Recusou ainda ser sócio do clube, comparecer a eventos ou falar com a Benfica TV. Pelo meio perdeu um contrato publicitário com a Red Bull. Situações que levam Rui Costa e Fernando Tavares a questionar se vale a pena continuar ligado a um atleta que recusa tudo o que tem a ver com o emblema encarnado. Mesmo em competição, o atleta só fez meia dúzia de provas com a camisola das águias.

Português desde que desertou de Cuba, Pedro Pichardo assinou pelo Benfica em abril de 2017 e começou a competir por Portugal em 2019. Ganhou tudo o que havia para ganhar! É campeão olímpico, mundial e europeu do triplo salto (pista coberta e ar livre). Em agosto falhou os Mundiais de Budapeste por lesão, uma lombalgia.

Pichardo treina na pista do Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal. Tem uma sala-ginásio só para ele e quando treina mais ninguém pode usar a pista ou sequer a bancada do recinto. Um acordo que o clube fez com o município para o triplista poder treinar sossegado e com as condições ideais, uma vez que ele recusava treinar-se no Centro de Alto Rendimento com os outros atletas do Projeto Olímpico.

isaura.almeida@dn.pt

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