Um caso, duas versões. Pedro Pichardo anunciou que deixou o Benfica devido a “divergências irreconciliáveis”. Um anúncio que surpreendeu o clube, que em comunicado, garantiu que o atleta “foi notificado dia 3 de janeiro da abertura de um processo disciplinar com vista ao despedimento”. Ambos prometem defender-se em tribunal.Ontem, num comunicado enviado à Agência Lusa, o vice-campeão olímpico do triplo salto revelou que tinha informado o clube da saída e anunciou que “o assunto” seria “levado às instâncias competentes”, escusando-se assim a pronunciar-se sobre o tema, para se focar exclusivamente na vertente desportiva.Também em comunicado, o Benfica esclareceu que já o tinha intimado no início do ano com vista ao despedimento, devido “à falta de comparência” em exames médicos para os quais estava convocado depois dos Jogos Olímpicos. Entre os motivos, o clube mencionou o facto do atleta “ter recusado a inscrição na plataforma de atletas” e assim impedir a sua participação em provas ao serviço das águias - algo que já não faz desde 2021. O emblema liderado por Rui Costa promete por isso “fazer prevalecer os seus direitos na defesa do bom-nome e dos interesses do clube”.O clima de hostilidade de Pichardo com o emblema que o contratou depois de desertar de Cuba dura desde 2022, ano em que o triplista começou a recusar treinar ou realizar tratamentos médicos no Benfica, passando a tratar-se com os especialistas da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). Tal como o DN noticiou na altura, o atleta recusou mesmo partilhar o plano de preparação e falar com os diretores de departamento, incluindo Ana Oliveira, a grande responsável pela sua contratação em 2017 e com quem se incompatibilizou.Tem contrato até 2028. Em 2022, o Benfica informou que Pichardo assinou um “vínculo multianual que inclui o ciclo Olímpico de Paris e o que virá depois de 2024”, sem especificar o que isso significaria. Mais tarde soube-se que tinha sido acionada a opção de estender o vínculo até aos Jogos Olímpicos Los Angeles2028. Vínculo que agora será quebrado.Títulos e glória por PortugalO triplista nascido em Santiago (Cuba) pode não ser o rei da empatia nem da modéstia, mas nasceu literalmente para altos voos. Por Portugal, conquistou três dos mais importantes títulos. Pichardo conquistou o Europeu em pista coberta (2021 e 2023) e o Mundial (2022), foi ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e prata em Paris2024. Depois lesionou-se, esteve quase um ano sem competir e denunciou publicamente existirem problemas contratuais com o Benfica, que ainda persistem. Inscrito na época desportiva, pela Federação Portuguesa de Atletismo, “em nome do interesse nacional”, o atleta mostrou que é dos melhores do mundo e conseguiu mais uma medalha.Não conseguiu revalidar o título olímpico em Paris2024, mas conquistou a medalha de prata. No final da prova e após colocar a bandeira nacional sobre os ombros, veio o desabafo inesperado de Pichardo. “Estou um pouco desmotivado. Muitos problemas com o clube [Benfica], falta de apoio das instituições, do governo. Estou um pouco desmotivado. Estava a pensar retirar-me depois de hoje [ontem]. A minha família tem falado para continuar, mas ainda não sei. O que está na minha cabeça é ficar por aqui já”, confessou o vice-campeão mundial à RTP2. Depois disso revelou que iria reunir com Rui Costa para decidir o que fazer. Uma reunião que não chegou a acontecer. Mais recentemente e depois de ser eleito presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro, revelou ter falado com Pichardo e que a situação se iria resolver. Tinham, segundo soube o DN, acordado que iria (ou irá) competir por Portugal até Los Angeles2028. Falta por isso esclarecer o “Tchau” que escreveu, em reação a uma publicação própria no Instagram, em que aparece a saltar por Portugal. isaura.almeida@dn.pt