A vez em que Pinto da Costa pôs a sua casa como garantia de um empréstimo para evitar sanções da UEFA e a saída conturbada de Sérgio Conceição do FC Porto após as conturbadas eleições presidenciais, que “Pinto da Costa sabia que ia perder”, são alguns dos temas quentes do livro Capitão de Abril - André Villas-Boas e a Revolução Inacabada, obra do antigo jornalista Octávio Lousada Oliveira, que traz a público episódios até gora desconhecidos sobre a transição de poder no Dragão. O livro, apresentado esta quinta-feira (11 de setembro) no Porto, tem como figura central André Villas-Boas, “alguém que teve a ousadia de desafiar um colosso histórico” como Pinto da Costa e conseguiu uma vitória estrondosa (80,28%), quebrando um ciclo de 15 mandatos e 42 anos. Fica claro que o malogrado dirigente portista (morreu a 15 de fevereiro) tinha a certeza que iria perder as eleições, porque João Rafael Koehler, o nº 2 da candidatura do “presidente dos presidentes”, tinha em mãos várias sondagens que davam 70% dos votos ao opositor. E, depois de consumada a derrota, recusou o abraço da pacificação, segundo se pode ler no livro. Quando Octávio Lousada Oliveira nasceu, Pinto da Costa já era presidente do FC Porto e já tinha, inclusivamente, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, mas isso não invalidou “um juízo crítico sobre aquela que foi a gestão financeira ruinosa” dos últimos anos do seu mandato, que “empurrou” o clube para uma crise desportiva e financeira.A Assembleia Geral de novembro do ano anterior - adeptos agredidos e condicionados, por elementos dos SuperDragões, claque que Villas-Boas considerou ser a “guarda pretoriana” da direção - ajudou a uma revolta silenciosa dos adeptos, que é descrita no livro, e que teve impacto na campanha e na derrota histórica de Pinto da Costa. “O livro chama-se Capitão de Abril, obviamente por causa da data das eleições [27 de abril], que quase coincidiu com o cinquentenário do 25 de Abril, mas não estou com isto a sugerir que Villas-Boas seja o Salgueiro Maia do FC Porto. Já vi algumas sugestões do que o livro insinua que existia uma ditadura no FC Porto, mas o que eu digo é que existia um conjunto de práticas que não eram saudáveis e que faziam com que se não se respirasse um ambiente próprio do que deve ser o Desporto e o que deve ser uma instituição como o FC Porto”, defendeu o autor ao DN.Octávio Lousada Oliveira admite que se encontrou com Villas-Boas para “uma conversa” e que ele “não tentou de forma nenhuma condicionar ou controlar a construção do livro”. Isso também reflete o espírito do 34.º presidente portista, segundo o autor, que destaca a forma determinada como o antigo treinador, que levou os dragões à conquista da Taça UEFA em 2011, decidiu desafiar Pinto da Costa. “Em 2019, reúne-se com os responsáveis do Marselha, o presidente Jacques-Henri Eyraud e Zubizarreta [o primeiro diretor-geral de Villas-Boas no Dragão, que entretanto já deixou o clube], e nessa reunião, em que é convidado para ser treinador do Marselha, expressa o desejo de assinar apenas por dois anos, porque a partir daí quer começar a preparar a candidatura à presidência do FC Porto. Isto revela a maturação, visão e construção de uma candidatura que é muito anterior àquilo até que se supunha e que ele só admitiu publicamente anos depois”. O livro adianta ainda que Villas-Boas fez um empréstimo pessoal de 500 mil euros para não deixar os funcionários sem ordenado no seu primeiro mês como presidente. E não se coibiu de dispensar o treinador mais titulado da história do clube, que reagiu muito mal quando foi informado que seria o adjunto Vítor Bruno a suceder-lhe: “Sérgio Conceição considerava que lhe estava a ser cravada uma adaga nas costas” e avisou que poderia exigir o contrato todo para sair.Excertos do livro Capitão de Abril“[Depois de ser eleito, no jogo com o Sporting], Villas-Boas iria ter com Pinto da Costa ao camarote, desceriam juntos até ao campo e no centro do relvado dariam um abraço. Um símbolo de pacificação que o ex-presidente recusou.” “A situação crítica que a SAD enfrentava levou a que Villas-Boas emprestasse 500 mil euros do seu próprio bolso no mês em que tomou posse.” “Em março de 2018, o FC Porto, Pinto da Costa e Pedro Pinho colocaram as suas casas como garantia para um empréstimo urgente no Banco Carregosa de 3,5 milhões de euros para evitar incumprimento junto da UEFA e ser excluído das provas europeias.” “Villas-Boas não descartou que Vítor Bruno, o adjunto, o pudesse substituir. Sérgio Conceição considerava que lhe estava a ser cravada uma adaga nas costas e avisou que poderia exigir o contrato todo para sair.”