António Dantas assegurou o título no passado fim de semana, na praia do Guincho, na etapa decisiva do Circuito Continental da European Surfing Federation (ESF). Dantas consolidou a liderança no Ranking e conseguiu garantir matematicamente o título de Campeão da Europa.Quando soube que tinha conquistado o primeiro lugar no pódio, não hesitou em dedicar o triunfo ao irmão, João Dantas, que o iniciou na prática desta disciplina do Surf: “Ele foi campeão da Europa em 2017, mas por equipas. Este título é individual e devo-o muito a ele. Se não fosse o meu irmão estaria agora em casa a jogar PlayStation ou a jogar à bola na rua com os amigos. O João desafiou-me para o Longboard e sempre foi a minha inspiração, por isso o título também é dele”.António está numa família ligada ao mar. O irmão João, mas também o pai, que gere uma empresa de passeios de barco na Costa do Estoril e o tio Manuel, também foi praticante de Longboard. O campeão da Europa diz que não se sentiu em algum momento pressionado para praticar a modalidade. “Sempre fui atrás do que quis. Participei em miúdo em algumas atividades de tempos livres (ATL) no mar, em S. Pedro do Estoril, onde vivo. Comecei com o ´tio´ Tiago, que é amigo da família. Gostei e acabei por me dedicar mais a sério. Depois, como o meu irmão é mais velho do que eu 6 anos e já era muito melhor, achei que ele seria ´um alvo a abater’ porque queria fazer-lhe frente”, diz António com uma boa gargalhada pelo meio.Começou a praticar Longboard com 12 anos e desde essa altura os 10 anos de atividade no mar têm sido sempre a somar vitórias.Foi pela primeira vez campeão nacional com 14 anos, campeão europeu júnior com 15 e este ano já vai para o segundo troféu europeu. Primeiro em junho no Longboard Pro Ferrol, uma prova realizada na Galiza, integrada na World Surf League e agora este troféu garantido na competição da ESF.O Estatuto de Alta Competição e a interrupção dos estudosAntónio Dantas dedica atualmente a grande maioria do seu dia à prática desportiva. De segunda a sexta-feira, logo pela manhã, treina Jiu-jitsu durante duas horas. Depois procura as praias com melhores ondas para se lançar ao mar. Sempre dependente das condições atmosféricas. António tanto treina sozinho como com alguns amigos. Para ele, o ideal é que esses treinos sejam na Praia em São Pedro, para poder estar mais perto de casa e aproveitar mais tempo no Mar: “O meu treino físico acaba também por ser dentro de água e o Jiu-jitsu dá-me uma grande resistência”.Neste último ano o jovem campeão interrompeu os estudos. Frequentava o curso de Gestão de Lazer e Animação Turística na Escola Superior de Hotelaria e Turismo no Estoril, mas não estava a conseguir conciliar as aulas, testes e apresentação de trabalhos com as grandes ausências por causa das provas internacionais.António explica porquê: “Na altura não tinha ainda o Estatuto de Atleta de Alto Rendimento, que, entretanto, já me foi atribuído. Estava com muitas dificuldades em conciliar. Há professores que compreendem as grandes viagens para o outro lado do mundo, mas há outros que não querem sequer saber e não facilitavam, nem com a justificação das faltas e nem com a alteração de datas para poder apresentar os trabalhos. Agora, como já tenho o estatuto, vou voltar porque não vai ser o Longboard que me vai pagar uma casa quando precisar de comprar”.Admite que está cansado de muitas viagens e de muitos aeroportos, mas também confessa que sabe bem cada título que conquista. António Dantas tem um sonho que não é uma obsessão – gostava de ganhar uma etapa do circuito Mundial de Surf (WSL). No entanto, se não conseguir, também não fica triste, porque para ele “o que o Longboard e o Mar já me deram é tão bom que não deixo de dormir por causa disso. Pode parecer um cliché, mas sinto uma conexão tão grande com a prancha que nem uso leash (a peça que se usa para prender o tornozelo à prancha). Quando estou no Mar os problemas vão embora; não se pensa em nada. Esses momentos não se conseguem explicar”.. Um exemplo para captar mais atletas para esta disciplinaAntónio Dantas é uma das grandes bandeiras da Federação Portuguesa de Surf. A modalidade está a reorganizar-se em Portugal. Os bons resultados de alguns atletas podem ajudar ao crescimento qualitativo e quantitativo.Na opinião de Gonçalo Saldanha, presidente da Federação, “o surf é uma modalidade que ganhou grande expressão, mas temos de dinamizar mais o Longboard. Para o ano vamos ter as 4 etapas do campeonato nacional júnior, que se juntarão às 4 etapas Open. Mas vamos também candidatar-nos à organização de duas etapas do Europeu de Longboard. Este ano realizámos esta no Guincho, 12 anos depois de Portugal acolher uma competição com grande dimensão. Para o ano gostávamos de organizar duas”.Para o responsável federativo, é também muito importante dar condições de formação aos atletas e proporcionar-lhes condições de competição. Para isso, considera que é necessário estimular o Longboard nos Clubes.“É através dos campeonatos que se podem chamar as crianças. No entanto, precisamos de condições. As pranchas são de grandes dimensões e muitas vezes as famílias dos atletas não as conseguem transportar nos carros. É preciso criar condições para que os clubes as possam guardar. Numa outra vertente, devemos inserir a literacia oceânica através do Desporto Escolar”, continuou Gonçalo Saldanha.O objetivo é o de aumentar o número de atletas e não só o número de praticantes. Para tal, a Federação vai, junto de instituições desportivas e universitárias, promover a realização de “um estudo socioeconómico do Surf em Portugal, para perceber a sua viabilidade. Esse estudo será um barómetro para o desenvolvimento do Surf e todas as suas disciplinas no país”, concluiu o presidente da Federação.Gonçalo Saldanha que ainda criar mais sinergias com clubes e autarquias para que os 4 Centros de Alto Rendimento vocacionados para o Surf que existem em Portugal possam, por exemplo, proporcionar estágios aos atletas portugueses de elite que praticam Longboard.