Desporto
03 fevereiro 2023 às 00h08

Dos milhões de seguidores aos direitos de TV vendidos para 37 países. O retorno brutal de Ronaldo

Um mês depois de ser apresentado como jogador do Al Nassr, o português mostrou ser uma máquina de fazer dinheiro. Todos os parceiros do clube e da federação saudita parecem ter ganho uma nova vida financeira com ajuda da imagem de CR7.

Os 500 milhões de euros do contrato de Cristiano Ronaldo com Al Nassr, o maior da história do futebol, começam a parecer uma pechincha quando comparados com os milhões de euros de potencial retorno comercial. O efeito Ronaldo na Arábia Saudita mede-se em mediatismo e muito milhões em lucro para todo um universo de empresas à volta do clube e do futebol do país. Só em vendas de camisolas e direitos televisivos já terá sido superado o valor do contrato. Impressionante tendo em conta que só passou um mês desde que o internacional português foi apresentado pelo Al Nassr da Arábia Saudita, no dia 3 de janeiro.

Duneus. É este o nome da marca made in Arábia Saudita de equipamentos desportivos que há um mês passou a rivalizar com as gigantes Nike (patrocina CR7 desde 2003), Adidas ou New Balance. A empresa diz-se "orgulhosamente saudita", inovadora e pioneira e com uma aposta no conforto. Uma t-shirt para praticar desporto da marca varia entre os 57 e os 62 euros, mas a camisola do Al Nassr custa entre 75 e 92 euros, e aumenta conforme a estampagem pedida (com o número 7 e o nome de Ronaldo). Uma camisola da seleção nacional de marca Nike custa 89.99 euros no site da Federação Portuguesa de Futebol.

Depois do verde e branco (Sporting), do vermelho (Manchester United), do branco (Real Madrid) e do branco e preto (Juventus), o amarelo vivo é a nova cor favorita dos fãs de Ronaldo. Em Riade, os adeptos fazem fila para comprar equipamentos do Al Nassr com o n.º 7 nas costas. Dos quatro equipamentos, o amarelo é o mais requisitado. Segundo uma reportagem do jornal Marca em Riade, por altura da Supertaça de Espanha, num dia mau a loja oficial do clube chega a vender 400 exemplares.

A verdade é que em pouco mais de um mês - foi anunciado no dia 30 de dezembro -, CR7 já vendeu 2,5 milhões de camisolas, num total de mais de 230 milhões de euros (quase metade do valor do contrato que assinou até 2025).

A chegada do português a Riade despertou o interesse no desconhecido campeonato de futebol da Arábia Saudita. A Saudi Sports Company é detentora dos direitos da chamada de Saudi Pro League (SPL) para consumo interno. E ontem mesmo a empresa anunciou que estendeu os contratos até 2025, data do fim do contrato de Cristiano com o Al Nassr.

Também a IMG, empresa líder do mercado na transmissão de eventos que opera em mais de 30 países, anunciou há dias que fechou um acordo para a venda dos direitos internacionais de transmissão da SPL para 37 países (Al Nassr anunciou hoje que a índia juntou-se aos países que querem ver jogar Ronaldo). Os direitos para o Médio Oriente e África foram adquiridos pela beIN Sports por 74,4 milhões de euros.

A IMG já tinha investido em CR7 antes, comprando os direitos da liga italiana, entre 2018 e 2021. E foi via IMG que a Sport TV portuguesa adquiriu os direitos para a transmissão dos jogos do Al Nassr no campeonato, e ainda a final four da Supertaça (ganha pelo Al Ittihad, treinado por Nuno Espírito Santos) e o particular que foi o jogo de estreia de Ronaldo, frente ao PSG de Lionel Messi. Melhor promoção era impossível. Se o estádio só tem capacidade para 25 a 30 mil adeptos, a televisão leva Ronaldo a todo o Mundo e hoje há mais um jogo para ver o craque em ação - frente ao Al Fateh (15.00, Sport TV).

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Os patrocinadores esfregam as mãos de contentamento (pelo menos até serem obrigados a renegociar os acordos). O melhor exemplo disso é a Shurfah, empresa de capital governamental e privado, que de repente viu o seu nome aparecer em todas as televisões, jornais, sites e redes sociais à escala planetária estampado na camisola do Al Nassr, como principal patrocinador do clube. Na página oficial da empresa dizem ser um negócio familiar apesar da considerável dimensão, de estarem presentes em 15 países e das 45 sub-empresas, ligadas ao setor imobiliário, restauração, industrial e tecnológica. Estavam a tentar entrar no mercado alemão e de repente ganharam um dinamizador chamado CR7.

O mesmo rebuliço mediático aconteceu com outras empresa ligadas ao clube ou à Federação de Futebol da Arábia Saudita (SAFF), como a Lebara (telecomunicações), a Harrys Pizza (restauração), a cadeia de hospitais Care e a Qiddiya, empresa ligada ao entretenimento na Arábia Saudita. Cada uma à sua dimensão encontrou uma montra que nunca pensou ter. Tudo porque o clube de quem eram sponsor apostou num dos melhores jogadores da história do futebol que é também uma máquina de fazer dinheiro fora de campo.

O primeiro sinal do gigantesco impacto da contratação foi nas redes sociais. O Instagram do Al Nassr tinha 834 mil seguidores no dia em que o jogador português foi anunciado, e ganhou três milhões em 24 horas. Ontem contava com com 12,7 milhões de seguidores e a publicação que deu conta da transferência ultrapassou os 34 milhões de likes. Uma ínfima parte do potencial de CR7, a maior personalidade do Instagram, com 547 milhões de seguidores.

E se as agências de viagens de muitos países europeus passou a ter Riade nos pacotes de férias, as agências sauditas já vendem deslocações a Portugal e promovem Lisboa e a Madeira natal de Ronaldo como destino. Um exemplo do retorno em marketing e publicidade, que se afigura gigantesco e ultra-secreto como tudo o que rodeia a ida do português para Riade. A informação oficial e fidedigna é escassa. O DN tentou saber qual o impacto imediato da contratação de CR7, mas o clube não se mostrou disponível para falar.

Ronaldo é a mais recente joia do desporto da Arábia Saudita, país que em 2016 - ano em que Portugal se sagrou Campeão Europeu - colocou em marcha um plano de reestruturação da economia para se tornar menos dependente das receitas do petróleo. A esse projeto chamou Visão 2030.

A compra do Newcastle, a organização das Supertaças de Itália e Espanha, a F1, o Dakar e o Golf, bem como a organização da Taça das Nações Asiáticas 2027 e a pretensão de organizar o Mundial 2030 de futebol e uns Jogos Olímpicos na próxima década, fazem parte do plano para derrubar o Qatar e o Dubai como centro de negócios e eventos desportivos à escala mundial.

Ontem mesmo, o presidente da federação, Yasser Almisehal, foi eleito para o Comité Executivo da FIFA.

isaura.almeida@dn.pt