Desporto
19 setembro 2021 às 16h03

Cinco medalhas nos Mundiais. Um novo recorde com vista para Paris

Último dia da competição ficou marcado por mais três pratas da comitiva lusa. Mais do dobro que nos dois Campeonatos do Mundo anteriores. Um bom prenúncio para os próximos Jogos Olímpicos em Paris.

Nuno Fernandes com Lusa

Portugal terminou este domingo a participação nos Mundiais de canoagem de Copenhaga com um total de cinco medalhas conquistadas, a melhor campanha de sempre em Campeonatos do Mundo e a prova de que é esta é uma das modalidades com maior taxa de sucesso. No último dia da competição, a comitiva lusa ganhou mais três metais, todos de prata - Fernando Pimenta no K1 5000 metros, João Ribeiro no K1 500 metros e Francisca Laia e Messias Baptista no K2 200 metros misto. A estas medalhas juntam-se o ouro de Pimenta no K1 1000 metros e o bronze de Norberto Mourão na canoagem adaptada, em VL2.

A comitiva portuguesa fechou assim o ciclo olímpico com excelentes resultados na modalidade, o que abre boas perspetivas para os Jogos de Paris em 2024. Neste Mundial conseguiu mais do dobro das medalhas ganhas em anteriores. Em 2019, em Szeged, na Hungria, teve dois bronzes em K1 1.000 e K1 5.000 por Fernando Pimenta. E em 2018, com organização em Montemor-o-Velho, tinha ganho dois ouros, ambos por Pimenta e nas mesmas duas categorias.

Fernando Pimenta foi o último a entrar em ação neste domingo. Um dia depois de ter celebrado o ouro no K1 1.000, cumpriu os 5.000 metros em 20.03,19 minutos, apenas 22 centésimos mais lento do que o vencedor, o húngaro Balint Noe, campeão europeu na distância. O dinamarquês Mads Pedersen foi terceiro, a 10,28 segundos.

"Está feito. Dei o meu melhor. Agora, é ir para casa, com 108 medalhas em caixa. Se tivesse ganho, era a melhor forma de fechar a época. Mas o título de campeão do Mundo chega e sobra", vincou Pimenta.

Apesar dos dois pódios, Pimenta apresentava semblante de descontentamento, recordando que trabalha "para vencer". "Gosto de ganhar. Trabalho para vencer. Dedico a minha vida e dia a dia em prol de vitórias, de conquistar medalhas para Portugal e para os portugueses se orgulharem ao máximo", confessou, revelando que antes da largada ouviu três crianças dinamarquesas chamar pelo seu nome na margem oposta, "sem dúvida um momento fantástico".

No recorde de pódios de uma seleção de Portugal em Mundiais (cinco), Pimenta queria contribuir com duas de ouro, pedindo por isso "desculpa" aos compatriotas por não ter ganho. "Agora, só quero chegar a casa, entregar as medalhas à minha filha e descansar. Estar com ela o tempo que não estive até hoje", concluiu, cedendo às lágrimas.

O canoísta João Ribeiro considerou que a prata em K1 500 metros dos Mundiais de Copenhaga "quase sabe a ouro", recordando que durante a época não treina a embarcação a solo. Ribeiro, vice-campeão da Europa, terminou a regata em 1.39,88 minutos, a 1,01 segundos do título mundial, conquistado pelo bielorrusso Mikita Borykau. O alemão Moritz Florstedt, mais 1,17 segundos do que o vencedor, ficou com o bronze.

"Sabe quase a ouro. Durante o ano não treino K1, só K4 que preparámos para os Jogos Olímpicos. Eu e o meu treinador [Rui Fernandes] tivemos um mês para nos prepararmos e é muito difícil fazê-lo neste tempo. A experiência no Campeonato da Europa ajudou-me bastante", disse João Ribeiro.

"Só no fim vi que tinha ficado em segundo. Queria muito ganhar, como é óbvio, tinha como objetivo ser campeão do Mundo. Não foi possível, fico contente com o "vice". Foi mais uma medalha para Portugal", acrescentou. A medalha, que contribui para o recorde de Portugal em Mundiais, faz com que João Ribeiro assuma que a canoagem portuguesa é "muito mais" do que Fernando Pimenta.

"Ele é o expoente máximo da nossa modalidade, o melhor atleta de Portugal na canoagem. Já o provou várias vezes e continua a fazê-lo, mas há muito mais do que o Fernando. Temos atletas com grandes resultados, com presenças assíduas em finais mundiais", atirou.

Também os canoístas Messias Baptista e Francisca Laia manifestaram-se muito entusiasmados com a prata obtida na prova de K2 mix 200 metros, considerando-a um excelente tónico para a caminhada rumo a Paris2024. O duo luso completou a prova em 34,34 segundos, ficando a apenas 39 centésimos dos húngaros Anna Lucz e Kolos Csizmadia, enquanto o bronze foi para os polacos Marta Walczykiewicz e Bartosz Grabowski, terceiros a 41 centésimos.

"Sabíamos que tínhamos hipóteses. Havia nomes muito fortes, como medalhados em Jogos Olímpicos, campeonatos do Mundo e da Europa. Antes de entrarmos para a água, o treinador Rui Fernandes disse-nos que ninguém é imbatível. E realmente acho que conseguimos provar que temos nível e que estamos cá para lutar. Quando percebemos que fomos vice-campeões do Mundo, não tenho palavras...", disse Francisca

Messias Baptista revelou que, no fim, a dupla não tinha "noção" do resultado alcançado: "A "Kika" achava que dava, eu, sempre um bocado mais negativo, achei que não. Chegar ao pontão e dizerem que somos segundos... Não consigo descrever. É a minha primeira medalha em Mundial absoluto e não posso estar mais contente do que terminar a época assim".

O presidente da Federação Portuguesa de Canoagem (FPC), Vítor Félix, considerou este domingo que a sua modalidade devia ser "mais apoiada", sendo até uma "aposta estratégica" do país em termos do "sucesso desportivo".

"Tem que haver um reconhecimento por parte da administração pública desportiva no que diz respeito ao financiamento no alto rendimento, porque estamos aqui com nove atletas mais dois [da paracanoagem] num campeonato do Mundo e era desejável que estivessem muitos mais", disse o dirigente, à Lusa.

Vítor Félix falava depois da canoagem ter conseguido o seu melhor desempenho de sempre em Mundiais, com cinco medalhas -- uma de ouro, em distância olímpica, três de prata e uma de bronze -, defendendo que um reforço da aposta na "eficácia comprovada do trabalho da FPC" resultaria em ainda melhores resultados internacionais.

"Estamos muito preocupados com a renovação dos grandes valores da canoagem portuguesa e isso só se faz com mais financiamento, para trazermos jovens canoístas a estas competições para ganharem ritmo competitivo. Infelizmente, nem sempre o financiamento é o suficiente para trazermos mais atletas", lamentou

Fernando Pimenta, João Ribeiro, Emanuel Silva e Teresa Portela são atletas da melhor geração da canoagem lusa, todos já na casa dos 30 anos.

O nono lugar de Portugal no medalheiro foi destacado pelo facto de ter sido conseguido por "cerca de um terço" dos canoístas que outras nações, com desempenho semelhante, trouxeram a Copenhaga.

"A canoagem devia ser uma aposta estratégica do desenvolvimento desportivo do país. Devia haver um maior entrosamento entre o alto rendimento do IPDJ [Instituto Português do Desporto e da Juventude] e do COP [Comité Olímpico de Portugal] para podermos trazer mais atletas e assim podermos ir fazendo a renovação da canoagem de forma mais tranquila", completou.

nuno.fernandes@dn.pt