O Vale dos Elefantes Selvagens, localizado em Xishuangbanna, na província de Yunnan, é uma reserva criada para proteger os elefantes-asiáticos, onde os visitantes podem observar as manadas de perto a partir dos passadiços suspensos e conhecer o ecossistema único da floresta tropical.
O Vale dos Elefantes Selvagens, localizado em Xishuangbanna, na província de Yunnan, é uma reserva criada para proteger os elefantes-asiáticos, onde os visitantes podem observar as manadas de perto a partir dos passadiços suspensos e conhecer o ecossistema único da floresta tropical.

Xishuangbanna: o paraíso tropical da cultura dai

Xishuangbanna, no sul da província chinesa de Yunnan, é uma prefeitura autónoma conhecida como centro cultural da etnia dai. Famosa pelo Festival da Água, pelo budismo teravada e pelas suas vastas florestas tropicais, a região conjuga diversidade étnica e riqueza natural num cenário deslumbrante.
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Localizada no sul de Yunnan, Xishuangbanna faz fronteira com o Laos e a Birmânia, constituindo uma das prefeituras autónomas das minorias étnicas da China. Aqui vivem várias comunidades, entre as quais os dais são a minoria com maior expressão, rondando as 330 mil pessoas - 32% da população total. O povo dai mantém profundos laços históricos e culturais com os xãs da Birmânia, os tais da Tailândia e os laos do Laos, partilhando ainda grandes afinidades linguísticas com estas etnias.

Para respeitar e proteger os costumes e modos de vida das minorias étnicas, a China criou regiões autónomas a nível provincial, como Guangxi (etnia zhuang), Ningxia (etnia hui) e Xinjiang (etnia uigur), bem como prefeituras autónomas subordinadas a províncias, entre as quais Xishuangbanna, em Yunnan. Tanto as regiões autónomas como as prefeituras dispõem de várias competências próprias, nomeadamente no domínio legislativo e na gestão da língua e da cultura. Em Xishuangbanna, a autonomia local garante que o idioma dai seja utilizado em conjunto com o mandarim e que festividades tradicionais, como o Ano Novo Dai (também conhecido como Festival da Água), sejam reconhecidas como feriados oficiais. Além disso, tendo em conta o clima tropical, o horário laboral da tarde começa às 15h00, meia hora mais tarde do que o estipulado para o resto do país.

O povo dai é reconhecido pela hospitalidade e pela riqueza das suas celebrações. Todos os anos, em meados de abril, o Ano Novo Dai enche as ruas de cor, com homens, mulheres e crianças a atirarem água uns aos outros como ritual de renovação e para dar as boas-vindas ao novo ano. A festa inclui danças tradicionais que imitam os movimentos de animais, como a dança do pavão, do leão ou do elefante. A música é igualmente marcante, com destaque para a hulusi, um instrumento de palheta feito de cabaça, de timbre suave e envolvente, muito presente em festividades e cerimónias de boas-vindas.

Xishuangbanna é a região da China onde se preserva de forma mais completa a técnica de produção dos beiyejing (manuscritos em folhas de palmeira). Na imagem, um artesão da etnia dai grava textos nas folhas.
Xishuangbanna é a região da China onde se preserva de forma mais completa a técnica de produção dos beiyejing (manuscritos em folhas de palmeira). Na imagem, um artesão da etnia dai grava textos nas folhas.

A maioria dos dai professa o budismo teravada. Em praticamente todas as aldeias, existe um templo, alguns com séculos de história, como o Grande Templo de Xishuangbanna, fundado em 615 e ainda hoje centro religioso e cultural de referência. Associados à tradição budista, subsistem os beiyejing (manuscritos em folhas de palmeira), conhecidos como a “enciclopédia dos dai”. Estes manuscritos eram produzidos em folhas da palmeira-talipot, submetidas a processos de cozedura, secagem e prensagem para resistirem a insetos, humidade e deterioração, permitindo a sua conservação ao longo dos séculos. Os monges gravavam o texto com estiletes de ferro e aplicavam pigmentos para evidenciar os caracteres destes escritos cuja abrangência é notável, incluindo doutrina budista, história, medicina, astronomia e literatura. A técnica foi reconhecida como património cultural imaterial a nível nacional e continua presente tanto nos templos como nas coleções familiares.

Xishuangbanna preserva o maior e mais completo ecossistema de floresta tropical da China, classificado como reserva natural nacional. Conhecida como “reino da fauna e da flora”, a região distingue-se pela sua vasta biodiversidade. Entre as espécies mais notáveis destacam-se as árvores gigantes conhecidas como wangtianshu (árvores que tocam o céu), que podem alcançar 40-70 metros de altura, chegando algumas a ultrapassar os 88 metros, erguendo-se como imponentes guardiãs da floresta.

No Parque Étnico Dai de Xishuangbanna, a população local celebra o festival mais importante da sua tradição - o Festival da Água.
No Parque Étnico Dai de Xishuangbanna, a população local celebra o festival mais importante da sua tradição - o Festival da Água.

A região é também habitat fundamental do elefante-asiático, que é considerado o “engenheiro da floresta tropical” devido ao seu papel crucial na regeneração dos ecossistemas. Desde a década de 1980 até hoje, graças a medidas de conservação, a população local destes animais cresceu de cerca de 170 para aproximadamente 300. Os visitantes podem observá-los a partir de passadiços suspensos sem perturbar os seus hábitos naturais.

Xishuangbanna é ainda uma importante região produtora de café. Destaca-se a variedade Catimor, de grão pequeno, sabor encorpado e notas aromáticas de frutos secos e chocolate - um híbrido desenvolvido por investigadores portugueses a partir do cruzamento da variedade Timor com a Caturra do Brasil. Esta variedade foi introduzida em Yunnan na década de 1990, tornando-se desde então uma marca distintiva da produção local.

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