Um português a invadir os ecrãs franceses
Não é só Nuno Lopes quem tem pisado os plateaux do cinema francês. NEsta semana estreia-se em França Les Bonnes Intentions, comédia sentimental com Agnès Jaoui e com um pequeno papel de Nuno Roque, ator português que dá vida a um jovem analfabeto autista.
Ao DN, este artista que também quer ser realizador falou sobre esta oportunidade: "O realizador Gilles Legrand queria rostos novos e também misturar atores com pessoas reais. Por um lado, foi procurar pessoas sem experiência e, por outro, atores de teatro para as personagens mais complexas. Foi graças a este elo que recebi o guião do filme. Para o papel de Thiago, ele precisava de um ator capaz de criar uma personagem autista com uma fisicalidade forte, já que esta é uma pessoa muito silenciosa e com dificuldades de comunicação, mas que está presente ao longo do filme. Queria também um ator que conhecesse bem a língua portuguesa: o Thiago fala francês com sotaque brasileiro".
Roque conta-nos que Gilles Legrand queria mesmo rostos que surpreendessem o público e que há uma cena em que o espetador entra literalmente para dentro da sua cabeça. Um efeito barroco num filme que é uma grande aposta da 20th Century em França e que deve estrear-se em Portugal no começo do próximo ano.
Les Bonnes Intentions retrata a odisseia de uma mulher madura que tenta operar um ato humano ao encetar a missão de alfabetização de um grupo de pessoas desfavorecidas. Cinema popular com traço social, conforme alguma imprensa tem falado e que acaba por abordar uma certa tendência feliz em Paris: a moda do trabalho humanitário. O fotógrafo, artista plástico e cantor Nuno Roque falou também da sua relação com Agnès Jaoui, a protagonista do filme e imortalizada em Portugal com O Gosto dos Outros (onde era a atriz e realizadora): "Entre as atrizes francesas, a Agnès Jaoui é talvez aquela que tem mais carinho pelas culturas ibéricas. Ela fala português, espanhol, e até canta em português. Eu falo francês e a Agnès português, e é sempre agradável ter a língua portuguesa em comum com outra pessoa. Afinal, a língua portuguesa é uma pátria."
Mesmo que o português não fique uma cara conhecida de um dia para o outro com este filme, julga que o seu lugar é mesmo Paris: "Em França, faço teatro, televisão, música e fotografia. Preciso de estar constantemente a criar coisas novas, e após vários anos nos palcos, começar a fazer cinema é para mim uma evolução natural. Estou neste momento a coescrever um guião, e em breve realizarei também uma curta-metragem." E não deixa de ter esperança no aparecimento de mais atores portugueses nesta indústria tão forte: "A sociedade francesa tem uma grande mistura de nacionalidades, espero que essa diversidade se reflita cada vez mais no cinema. Neste filme em particular, há pessoas de pelo menos dez nacionalidades. Desejo ver um cinema europeu cada vez mais forte e diverso, em histórias, estéticas e rostos."
Nuno Roque estudou no Porto, está em França desde 2006 e já esteve ligado à ópera, tendo neste momento projetos pessoais em moda e artes plásticas.
Menina, de Cristina Pinheiro, com Beatriz Batarda e Nuno Lopes, foi o último filme francês com talento português. Deve estrear-se entre nós em abril.