Último fim de semana do FMM arranca com casa cheia em Sines
Num autocarro que partiu de Lisboa na tarde desta sexta-feira (26) sem qualquer assento livre, dois turistas americanos na casa dos 30 anos recém-chegados a Portugal relembram sobre uma road trip feita entre o Arizona e a Carolina do Norte. Ao lado, um casal de franceses com dois filhos de menos de 10 anos se divide entre duas tarefas: uma olha com atenção para o mapa da Rota Vicentina, enquanto o outro vê no telemóvel a programação musical do dia no Festival de Músicas do Mundo (FMM).
Português do Brasil e de Portugal, italiano e árabe são outras das línguas ouvidas durante os quase 160 quilómetros que levam todos os passageiros daquele multicultural autocarro ao mesmo destino: Sines.
No porta-bagagens do veículo, guitarras acústicas, tambores e outros tantos instrumentos tomam conta do espaço. São alguns dos principais utensílios dos últimos festivaleiros que chegam para os dois dias finais desta edição do FMM, iniciado em Porto Covo no último sábado (20) e já com atrações em Sines desde a passada terça-feira (23).
Na cidade litorânea, o movimento é crescente para esta parte final do festival. Mesmo com a orientação da Câmara Municipal de Sines para os campistas se concentrarem no Pavilhão Multiusos da cidade, recinto escolhido para este ano, as tendas e carrinhas com camas são encontradas nos mais diversos lugares do centro do município.
Perguntado se a “bagunça” nas praças e ruas o incomodava, o proprietário de um dos cafés perto da rodoviária de Sines, para cima dos 60 anos, é sucinto: “São uns porreiros (os campistas). Só malta boa e calminhos”, diz.
Com as ruas e esplanadas tomadas pelo mais diverso público, as redondezas do castelo, onde começam os primeiros concertos da noite, atraem desde dezenas de vendedores de artesanatos até os locais curiosos a registarem o momento do ano que mais traz pessoas a Sines. No interior do recinto, o único no qual se paga o bilhete no FMM - em Porto Covo e no Palco Galp, também em Sines, a entrada é livre - é a partir das 21h que os festivaleiros chegam em peso.
Nesta hora, os últimos raios de sol que atingem as muralhas do castelo são sonorizados pelos acordes da guitarra elétrica do francês Rodolphe Burger. O artista lidera o projeto Mademoiselle junto com os argelinos Mahdi Haddab (oud elétrico) e Sofiane Saidi (voz, teclados, baixo), que mais tarde (5h) sobe ao Palco Galp para encerrar o penúltimo dia do festival.
“Estamos muito felizes de estar aqui e não em Paris”, disse Burger, em referência aos atos de vandalismo que se deram na capital francesa neste dia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 e causaram turbulência na cidade.
Com dedilhados de guitarra que faziam a alegria dos rockeiros presentes no recinto, o grupo performou por uma hora com letras em árabe e em francês que transitavam, além do próprio rock, também com o blues e o folclórico Raï, especialidade de Saidi. Ao final do concerto do Mademoiselle, projeto que homenageia o músico Rachid Taha, que esteve em Sines em duas edições do FMM, a fila já era grande à porta do recinto e nas bancas de cerveja do castelo.
Enquanto o público se espremia no local, algo que revela a organização, ainda não havia acontecido nos dias anteriores do evento, o telão no palco mostrava alguns dos melhores momentos desta edição do FMM. Às 22h15, foi a vez da guineense Fattú Djakité se apresentar no palco do castelo para cantar faixas do seu disco “Praia Bissau”.
“Sempre sonhei em estar num palco assim. E estou linda, não estou?”, disse a performática artista entre as primeiras dançantes músicas do concerto. Com um varal com toalhas e bandeiras da Guiné Bissau, onde nasceu e de Cabo Verde, onde cresceu e construiu a carreira, ambos países que homenageia em suas canções, Djakité subiu ao palco com mais cinco músicos.
Mais cheio e pulsante do que o concerto de Mademoiselle, ao trazer também mais interações com o público, o espetáculo da guineense enriquecido pelo carisma e possante cordas vocais de Djakité e pela percussão da banda deu o tom do que ainda está por vir neste penúltimo dia de Festival: muita festa.
A noite no Castelo de Sines ainda conta com performances das bandas Mestizo e Grountation. No Palco Galp, na Avenida Vasco da Gama, o público a beira-mar promete ser o maior desta edição do festival, que, na madrugada, tem as apresentações de Ana Frango Elétrico, Komodrag & The Mounodor, antes do encerramento com Sofiane Saidi. Os últimos espetáculos do FMM 2024 se iniciam neste sábado (27) e terminam já na manhã de domingo (28).
nuno.tibirica@dn.pt