Oitenta desenhos e pinturas em papel do artista português Rui Moreira estão a partir de hoje patentes no MAAT Central. Intitulada Transe, esta é a primeira exposição antológica do artista que passa por obras feitas durante os seus 20 anos de carreira. A exposição inclui um desenho feito por Rui Moreira quando tinha 15 anos . “Os meus desenhos sou eu. Não há qualquer diferença entre o meu trabalho e a minha vida. Aliás, porque eu não faço mais nada”, disse o artista, durante a conferência de imprensa. Ao entrar na sala de paredes brancas podemos ver os primeiros desenhos por ordem cronológica, sendo que falta um quadro inicial que não foi possível encontrar e que deixa um espaço livre na parede para sinalizar o mesmo. A maioria das obras expostas são bicolores, variando sempre entre as cores: branco, azul, vermelho, preto e laranja..Várias obras ilustram as viagens do artista pelo mundo. Por exemplo, muitas representam o deserto. Rui Moreira esteve durante 12 anos no sul de Marrocos, perto da Argélia e da Mauritânia. As obras do deserto contêm as cores branco e azul. “Estes desenhos são feitos com uma caneta de gel azul . Fiquei obcecado com este azul porque é um azul misturado com prateado. Nós nunca controlamos quando é que sai prata e quando é que sai azul. Nestas obras essa também foi uma das dificuldades”, sublinha o artista. Outras obras são inspiradas na Índia e também na arte que ornamenta mesquitas. Outra inspiração para as suas obras são os filmes. Uma paixão que tem desde criança. “Sempre fui com os meus pais desde criança ao cinema todos os fins de semana. E depois comecei a ir sozinho sempre, a toda hora, e sempre vou. Quando era miúdo, colava desenhos, punha-os assim em rolos, fazia um buraca numa caixa de sapatos e, depois, fazia uma espécie de filmes de desenhos em casa”, conta em conversa com o DN. Por exemplo, uma das suas obras é inspirada no filme Fitzcarraldo de Werner Herzog.. Rui Moreira viajou até ao local para produzir o seu desenho. “Eles não utilizaram efeitos especiais. Aqui eles passaram mesmo o barco pela montanha. Foi isso que me interessou bastante. Esse para mim foi o momento de criação artística”, explica o artista. Rui Moreira menciona que o nome Transe para a exposição surge do seu processo de criação. “Há desenhos que levam seis meses a fazer e a determinada altura deixa-se de sentir o cansaço. Quando se deixa de sentir o cansaço, é como se não estivesse lá. É como se estivesse em transe. Estás a fazer o trabalho e já nem sentes, já passaste a fase do cansaço”, acrescenta. Já a artista Ana Léon expõe seis filmes em seis salas numa instalação intitulada Gestos, que vão estar patentes a partir de hoje no espaço Cinzeiro 8 no MAAT Central..“Os meus filmes não exprimem uma ideia só. Portanto, o que me interessa é abrir caminhos, é que o espectador sinta e crie histórias que encontre ele próprio”, explica a artista Ana Léon em conversa com o DN, durante a visita de imprensa. Os filmes mostram diferentes figuras de Action Man vestidas com roupas de corte em stop motion. Os vídeos foram filmados com uma máquina Super 8. Ana Léon , nas obras, usa unicamente estas figuras. No entanto, para o seu primeiro filme utilizou plasticina. “A plasticina tem umas particularidades que complicam um bocado a manipulação, as temperaturas. E depois houve uma fase onde encontrei brinquedos daqueles de borracha, mas que são maleáveis. De repente, cheguei aos Action Man. Mas a única razão por que me interessou é que eles são completamente articulados”, acrescentou. No entanto, Ana Léon menciona que hoje em dia é um desafio encontrar estas figuras. “Estes bonecos tornaram-se vintage e de coleção. Vou muitas vezes a feiras de antiguidades e, de vez em quando, encontro um”.mariana.goncalves@dn.pt.Um novo olhar sobre a participação portuguesa nas artes do século XX