O Sítio Paleontológico de Chengjiang situa-se na província de Yunnan, na margem norte do lago Fuxian - o terceiro mais profundo da China-, formando uma composição singular em que o património paleontológico se alia ao cenário natural da montanha e do lago.
O Sítio Paleontológico de Chengjiang situa-se na província de Yunnan, na margem norte do lago Fuxian - o terceiro mais profundo da China-, formando uma composição singular em que o património paleontológico se alia ao cenário natural da montanha e do lago.

Sítio Paleontológico de Chengjiang: testemunho da grande diversificação da vida há 500 milhões de anos

A cerca de 50 quilómetros de Kunming, província de Yunnan, repousa um testemunho do passado distante da Terra, onde se conserva, numa área de 7,32 quilómetros quadrados, um registo excecional da chamada “explosão cambriana ”, ocorrida há cerca de 518 milhões de anos. Reconhecido como “santuário da paleontologia” e “uma das descobertas científicas mais notáveis do século XX”. Está inscrito como Património Natural da Humanidade.
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Em 1984, o investigador Hou Xianguang, da Academia Chinesa de Ciências, descobriu aqui o fóssil do artrópode Naraoia com tecidos moles preservados, uma descoberta que revelou segredos cruciais sobre a vida no período Cambriano. Desde então, cientistas identificaram mais de 300 espécies pertencentes a 20 grupos taxonómicos, 80% das quais novas para a ciência. Entre os exemplares mais notáveis, com apenas três centímetros de comprimento, encontra-se o Myllokunmingia fengjiaoa, no qual foram reconhecidos o primeiro cérebro, a primeira espinha dorsal e o primeiro coração. Trata-se do mais antigo vertebrado de que há conhecimento e o antepassado comum de todos os restantes, incluindo o ser humano. Também se descobriu aqui o gigantesco “camarão anómalo” (Anomalocaris), que podia atingir dois metros de comprimento e dominava os mares primitivos, onde a maioria das criaturas media apenas alguns centímetros. Outro fóssil notável é o Fuxianhuia protensa: ancestral de insetos, crustáceos e aranhas, é considerado o primeiro ser a desenvolver um sistema cardiovascular completo.

Fósseis descobertos no Sítio Paleontológico de Chengjiang.
Fósseis descobertos no Sítio Paleontológico de Chengjiang.

Mais surpreendente ainda é o estado de conservação dos fósseis, nos quais se distinguem órgãos e tecidos moles, como intestinos, músculos, nervos e glândulas, constituindo uma amostra rara para o estudo da evolução biológica. A comunidade científica considera que no Sítio Paleontológico de Chengjiang se podem encontrar ancestrais de quase todos os grandes grupos de animais modernos.

Há 500 milhões de anos, Chengjiang era um mar raso e quente, situado perto do equador. As tempestades levantavam lodos finos que rapidamente soterravam os organismos marinhos. A ausência de oxigénio impedia a decomposição, permitindo que os tecidos se mineralizassem. Este processo criou um “instantâneo” natural que preservou de forma notável a diversidade da vida cambriana.

Museu do Património Natural da Humanidade do Sítio Paleontológico de Chengjiang, em Yuxi (Yunnan), construído sobre o próprio sítio fossilífero.
Museu do Património Natural da Humanidade do Sítio Paleontológico de Chengjiang, em Yuxi (Yunnan), construído sobre o próprio sítio fossilífero.

Em 2012, a UNESCO inscreveu o Sítio Paleontológico de Chengjiang na Lista do Património Mundial, sublinhando que “as suas evidências geológicas representam o mais alto padrão de preservação fóssil e documentam de forma completa os ecossistemas marinhos do Cambriano inicial, constituindo um testemunho da rápida diversificação da vida há 518 milhões de anos”. Para proteger este património precioso, as autoridades locais suspenderam, já em 2004, projetos de exploração mineira de elevado valor comercial e lançaram programas de reflorestação e recuperação ambiental. Em 2017, foi aprovado o Regulamento da Província de Yunnan relativo à Proteção do Património Mundial do Sítio Paleontológico de Chengjiang.

O Museu do Património Natural Mundial de Chengjiang foi inaugurado em 2020 e tornou-se uma importante plataforma de investigação científica e divulgação pública. O edifício, concebido em forma de um grande berço simbolizando a origem da vida, alberga mais de 60 mil espécimes, dos quais 50 mil são fósseis de Chengjiang. O espaço integra ainda uma tela hemisférica imersiva em 8K, experiências interativas de realidade virtual e projeções de realidade aumentada que envolvem os visitantes nos oceanos de há quinhentos milhões de anos enquanto os fósseis voltam à vida diante dos seus olhos.

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