Conhecido como mestre do terror literário, autor de clássicos como Carrie ou The Stand (A Dança da Morte), Stephen King carrega agora outro título insólito: é o escritor mais vezes censurado nas escolas norte-americanas. O dado consta do relatório “Banned in the USA”, divulgado esta quarta-feira, 1 de outubro, pela organização PEN America, que monitoriza a liberdade de expressão e de leitura nos Estados Unidos.Segundo o levantamento, relativo ao ano letivo 2024-2025, os livros de King foram alvo de 206 remoções ou restrições em bibliotecas e salas de aula, num total de 87 obras afetadas, adianta a agência Associated Press. Entre os títulos mais visados estão precisamente os romances que lhe deram fama mundial.O relatório regista mais de 6.800 casos de censura em escolas norte-americanas no último ano letivo (24-25), um número inferior ao do ano letivo anterior (mais de 10 mil), mas ainda muito acima dos níveis de há poucos anos, quando a própria PEN considerava desnecessário elaborar este tipo de balanço.Dois países dentro de um sóA análise aponta para uma divisão clara: cerca de 80% das proibições concentram-se na Florida, no Texas e no Tennessee, três estados que aprovaram legislação para remover livros considerados “inadequados”. Pelo contrário, estados como Illinois, Maryland e Nova Jérsia têm leis que limitam a margem de manobra das escolas e bibliotecas para retirar obras das prateleiras.“É cada vez mais a história de dois países”, afirma Kasey Meehan, diretora do programa Freedom to Read da PEN America. “E não é apenas uma questão de estados republicanos e democratas: até dentro da Florida há distritos que reagem de forma muito diferente.”Razões invocadas e a autocensuraEntre os motivos mais citados para justificar as retiradas estão temas LGBTQ+, representações de raça e racismo e descrições de violência ou sexualidade. Muitos livros, porém, são removidos por antecipação, numa tentativa das escolas de evitarem polémicas jurídicas ou políticas. O relatório fala mesmo em “obediência antecipada”, uma prática “enraizada no medo” e no desejo de evitar assuntos sensíveis.No caso de Stephen King, a situação decorre em parte dessa lógica. “Os seus livros acabam frequentemente por ser apanhados em revisões dirigidas a obras ‘para adultos’ ou com ‘conteúdo sexual’”, explica Meehan. “Distritos que querem ser excessivamente cautelosos acabam por alargar tanto o crivo que removem também as obras de King.”Laranja Mecânica é o título mais banidoApesar de Stephen King liderar a lista de autores censurados, o título mais banido em termos absolutos foi Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, com 23 remoções. Também autores como Judy Blume, Jodi Picoult, Sarah J. Maas e Jennifer Niven figuram entre os mais atingidos.A PEN America reconhece que os números estão longe de captar toda a dimensão do problema. Em estados como Ohio ou Oklahoma, não foi possível obter dados consistentes. E ativistas locais, como o Florida Freedom to Read Project, garantem que centenas de proibições recentes nem sequer foram incluídas.“É cada vez mais difícil quantificar o alcance desta crise de censura”, admite Meehan. “O que temos é um retrato parcial, baseado no que é tornado público ou reportado por jornalistas.”