Quem é o radialista do Polo Norte que o Markl nos apresentou?

Em Longyearbyen, no Ártico, uma cidade onde todos se conhecem, ninguém sabe a verdadeira identidade de Lockhood, que saltou para a ribalta por causa de um humorista português.
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O título acima pode ser considerado clickbait, mas Cal Lockwood (este não é o seu verdadeiro nome) quer permanecer um mistério. O homem que põe no ar, sozinho, no distante arquipélago de Svalbard - o lugar habitado mais próximo do Polo Norte - uma rádio que só passa música da primeira metade do século XX, e que por culpa de Nuno Markl - e dos fãs portugueses -, já passou Mário Laginha, José Mário Branco, Amália e Carlos Paredes, merece o nosso respeito.

A verdade é que também não respondeu às perguntas do DN, enviadas para a sua caixa de mensagens no Instagram, por estes dias a abarrotar de pedidos de entrevista.

Não sabemos nada de Cal Lockwood mas, mesmo assim, sabemos praticamente tudo o que importa. Que nos dá música do período entre 1902-1958, "Big Band, Jazz, Vintage Country e Blues", e que nos seus diretos na Arctic Outpost também dá conta da meteorologia naquele lugar remoto que ainda pertence à Noruega.

Sabemos também que talvez seja o diretor e locutor da única rádio no mundo que faz alertas sobre avistamentos de ursos polares. Entre uma faixa de Sinatra e outra de Judy Garland, do Ártico para o mundo inteiro, também já se ouviu o Pica do 7, de António Zambujo. A voz de Cal Lockwood faz lembrar a de um qualquer locutor da era do Great Gatsby.

Desde o direto da semana passada no programa de Bruno Nogueira, "Como é que o bicho mexe", onde o radialista do Polo Norte nos foi apresentado, Cal passou de três seguidores no Instagram (dois deles eram o próprio Nuno Markl e Ana Galvão), para mais de 62 mil, a maioria portugueses.

A primeira música portuguesa a estrear na Arctic Outpost foi ""Fuga em Fá Maior", de Mário Laginha, e por sugestão do ator português Nuno Lopes.

"Acho que foi uma escolha do Cal, essa música, nós só sugerimos o artista", conta Markl ao DN, ainda surpreendido com as repercussões da história do radialista do Polo Norte.

Vera Fernandes, colega de Nuno Markl na Rádio Comercial, até lhe lhe disse que a história de Cal e da sua rádio parece "um conto de Natal" em tempos de pandemia.

Na terça-feira, espreitando o site -o servidor foi reforçado entretanto e atualmente está alojado no site do Nordic Lodge Radio - tudo devido ao boom de ouvintes trazidos à boleia do programa de Bruno Nogueira, foi preciso olhar duas vezes para o separador aberto no computador. Sim, é mesmo a Arctic Outpost, e está a passar "Inquietação" de José Mário Branco.

Markl anda extasiado com os últimos desenvolvimentos da sua sugestão no direto do Instagram e explica como se lembrou da rádio que segue há quase dois anos.

"Isto começou quando descobri uma app - a Radio Garden - que mostra o globo terrestre e cada pontinho verde no mapa é uma rádio, ou várias. Fui pesquisar para ver se havia alguma no Polo Norte e vejo um pontinho naquela ilha. Carreguei e começo a ouvir aquelas músicas. Durante muito tempo ouvia o Cal, depois lembrei-me de o sugerir no direto do programa", recorda o humorista, que confessa adorar a mística da Arctic Outpost e do seu especial locutor.

"Nem sei se é norueguês ou norte-americano, também não sei a idade nem a profissão", confessa Markl. Não sabemos em Portugal, como também não se sabe em Longyearbyen, a cidade com pouco mais de 2000 habitantes de onde é feita a emissão da rádio.

A notícia viral que distraiu do vírus

"Ao meio-dia - quando tocava "If I Had My Way", pelos The Harmonicats - havia 209 ouvintes ativos em Portugal, seis em Espanha e no Reino Unido, e dois (ou menos) em outros seis países", escreve o site icepeople.net, que se define como o "o jornal alternativo mais a norte do mundo".

O site confirma o que Nuno Markl já nos tinha contado: a rádio AM de Cal Lockwood tem ouvintes em Longyearbyen, mas num sítio onde todos se conhecem ninguém sabe quem é o radialista que saltou para a ribalta por causa de um humorista português.

Foram, por isso, ouvir a opinião de Nuno Cruz, um português residente na cidade e ele próprio um ouvinte da rádio.

"Este homem é um mistério para mim e para a maior parte da comunidade, porque ele não está no Facebook, ele não está em lado algum", disse o português. Carl está agora no Twitter - segue Bruno Nogueira e Nuno Markl, e anda a ver se ganha coragem para entrar num direto do programa 'Como é que o bicho mexe´".

Tão desconhecido na cidade onde tem o estúdio da rádio, que houve quem desconfiasse que realmente existisse. O site rastreou o IP de onde chegaram as respostas de Lockhood, via email, e confirmou que de facto chegaram da pequena cidade do Ártico. Então, qual a razão para tanto mistério?

"Existem muitas pessoas que querem conhecer-me e conhecer a rádio, mas eu nunca ambicionei qualquer fama. Sou uma pessoa MUITO privada. Afirmei-o várias vezes no ar: só quero passar música para pessoas que a queiram ouvir, e essa é a minha prioridade. Tenho tido vários convites para fazer live streams e dar entrevistas desde há uma semana, mas ainda não dei nenhuma", explica Cal ao icepeople.net.

Um dos convites partiu de Nuno Markl e de Bruno Nogueira.

"Na ultima mensagem que ele me mandou eu percebi que ele estava feliz mas também assustado com tudo isto", conta Markl. "Eu estava a insistir para ele entrar no direto que fazemos à noite - disse-lhe que é muito breve, não é uma entrevista, que só lhe queremos dizer um 'olá' e dizer que estamos ligados ao Polo Norte, mas ele disse ia pensar, porque é uma pessoa muito privada".

"Há um lado em mim que queria que ele aparecesse, mas depois há outro lado que quase não deseja que ele o faça - porque acho que isto tem uma mística muito especial", confessa o humorista, para quem esta é a história mais bonita da quarentena.

"É uma rádio do Polo Norte que está a tornar as vida das pessoas melhores, mesmo à distancia", diz o humorista. Com uma grande ajuda dos portugueses.

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