Porque é que escolheu o nome Queen Ifrica? Isso veio da minha religião rastafari. Na comunidade rastafari as mulheres não são chamadas senhoras. As mulheres são chamadas de imperatrizes, rainhas e deusas. Sou a Queen Ifrica porque sou uma mulher rastafari, uma rainha rastafari e uma rainha negra. Ifrica é África com um "I". Isso vem do lado da minha mãe porque na minha família rastafari todos têm nomes que começam com "I"..Nas suas músicas fala muito sobre amor próprio, porquê essa mensagem nos dias de hoje? Porque sem ti não há nada. Não interessa o que se passa na tua vida se não te colocares no centro da tua vida. É por isso que o amor próprio é tão importante, não é vaidade. É um local central e é preciso perceber que por exemplo a minha família não existe sem mim. Se não for boa para mim, eu não posso ser boa para ninguém. É sobre tomar atenção sobre quem eu sou como indivíduo e como uma pessoa. Investir nisso para uma melhor versão de mim mesma. Eu puxo muito por essa ideia porque a tentei para mim mesma .Vi como esse investimento e esse tipo de pensamento é uma coisa muito boa de se fazer. Arrancar os benefícios do que significa estar equilibrado..Recentemente falou da violência sexual que experienciou, acha que o facto de se ter chegado à frente para falar deste tema ajudou outras mulheres a falarem sobre o mesmo? Eu acho que devemos falar das coisas que nos deixam para trás. Eu acho que os traumas que acontecem nas nossas vidas fazem-nos ficar para trás se não falarmos com alguém, nós devemos falar connosco próprios ou deus. É a única forma de termos claridade. Muitas pessoas ficam em espiral com pensamentos negativos que levam a momentos de escuridão. Se algum indivíduo que está a passar por alguma coisa que o faça querer desistir, deve-se lembrar de si próprio. Isso é o que nos faz continuar e passar para o próximo nível da vida. Desistir vai fazer as dificuldades e o trauma alimentarem-se disso. Não reajam, mas sim respondam às coisas que acontecem na vossa vida para viver a vossa realidade..Em relação ao Festival Músicas do Mundo, como foi atuar pela primeira vez em Sines? O concerto é um concerto e sou uma rainha. Isso é fascinante. A energia e o ambiente do recinto, o som do microfone, é tudo tão limpo. Trouxe um bocadinho daquilo que a música faz, ou seja, aquela energia que te faz sentir bem. A mensagem que quero passar é que o amor está vivo e que vai ficar tudo bem, que não interessa o que se passa no mundo. Que encontramos isso em nós próprios de um momento para outro. Ver o reggae a ser demonstrado com tanto amor é fantástico..31 de julho foi o Dia Internacional da Mulher Africana e a Queen Ifrica tem uma música dedicada às mulheres negras, qual a importância de existir um dia como este? Para as mulheres africanas é como se ficássemos para trás de alguma forma. Há tanto a acontecer com mulheres no geral, mas com as mulheres negras acaba por ser pior. As coisas que algumas de nós passam e não há muitas vozes para as mulheres negras. Ter um dia em Portugal para as mulheres negras, eu acho que é fantástico. Eu espero que as mulheres negras possam perceber os elementos aqui à volta que notam que elas estão vivas. E devem ensinar às suas filhas o que significa ser uma mulher negra..E sobre um novo disco? Podemos esperar novidades brevemente? Sim, já passou tanto tempo desde o último disco. Isto porque está relacionado com o facto de estar no sítio certo mentalmente, porque eu não posso cantar para vocês de um sítio livre se não estiver mentalmente bem. O novo disco vai refletir onde estou. Tenho uma música que se chama Proud of Me, que serve para as pessoas se questionarem sobre o orgulho que sentem delas mesmas. Se há alguma coisa nelas mesmas para ficar orgulhoso, como pessoa. Às vezes não encontramos o suficiente sobre nós mesmo para nos tornar orgulhosos. Isso faz-nos ficar com pensamentos negativos. Quero que percebam que cada luz que procuramos está em nós primeiro. A luz ao fundo do túnel és tu. Devemos começar a fazer as nossas luzes brilhar no escuro..mariana.goncalves@dn.pt