Quanzhou: centro do comércio marítimo da China com o resto do mundo nas Dinastias Song e Yuan (séculos X-XIV)
Fujian, província costeira no sudeste da China, sempre ocupou um lugar de destaque na intensa atividade comercial e de intercâmbio cultural do país com o mundo. A partir de Zhangzhou, onde, como vimos no artigo anterior, os portugueses realizaram comércio marítimo durante a Dinastia Ming (1368-1644), e até Quanzhou, elogiada pelo mercador e viajante italiano Marco Polo (1254-1324) como a Alexandria do Oriente durante o período Song-Yuan (séculos X a XIV), Fujian iniciou desde cedo ligações com diversos países através do comércio marítimo.
Situada na costa centro-sul de Fujian, a cidade de Quanzhou foi um dos principais portos de partida da antiga Rota Marítima da Seda. Durante as dinastias Song (960-1279) e Yuan (1271-1368), graças à sua localização geográfica privilegiada, a boa administração local e as políticas de abertura ao exterior, Quanzhou transformou-se num porto comercial internacional, chegando a manter relações comerciais com mais de 100 países e regiões.
Durante o tempo que passou na cidade, o italiano Marco Polo, ficou impressionado com a sua prosperidade, descrevendo-a como “um dos maiores portos do mundo” e apelidando-a de “Alexandria do Oriente”. Com a presença de um grande número de mercadores estrangeiros, Quanzhou tornou-se um dinâmico polo de intercâmbio cultural, apresentando um sistema de comércio marítimo robusto e uma atitude cultural notavelmente inclusiva enquanto “janela” da China para o mundo na época Song-Yuan.
Em 1087, o governo da Dinastia Song estabeleceu em Quanzhou a Autoridade de Supervisão do Comércio Marítimo, entidade responsável não só pela gestão das transações e cobrança de impostos, mas também pela realização de rituais sazonais de prece pelos ventos no Monte Jiuri - orações para abençoar a partida das embarcações estrangeiras no inverno e o seu regresso no verão. Autoridades locais e até membros da corte imperial participavam nessas cerimónias, cujo esplendor se encontra registado em inscrições nas encostas oriental e ocidental do Monte Jiuri. Esses preciosos documentos históricos gravados na rocha testemu- nham a relação estreita entre o comércio marítimo chinês e os ciclos das monções durante a Dinastia Song.
Na época, Quanzhou acolhia mercadores árabes, persas e indianos, formando um cenário multicultural conhecido como o ‘mercado de dez continentes’, onde diversas crenças religiosas coexistiam e se influenciavam. Localiza-se na cidade a mais antiga mesquita construída por muçulmanos árabes na China - a mesquita Qingjing, fundada em 1009. Nos seus arredores localizava-se um bairro muçulmano que testemunhou o vigor das trocas comerciais e culturais entre a China e o mundo árabe, sobretudo entre os séculos X e XIV. Em Quanzhou, encontra-se ainda um cemitério islâmico, onde, segundo a tradição, estão enterrados dois discípulos do Profeta Maomé que chegaram à cidade no século VII. Este local é um dos mais antigos vestígios históricos da introdução do Islão na China.
Mil anos volvidos, a cidade antiga de Quanzhou, com 6,4 km², conserva um vasto património histórico, que inclui o local da Autoridade de Supervisão do Comércio Marítimo, as inscrições de prece pelos ventos no Monte Jiuri, a Mesquita Qingjing e o cemitério islâmico.
Em 2021, estes monumentos foram incluídos em grupo na lista de Património Mundial da UNESCO, sob a designação “Quanzhou: Centro Mundial do Comércio Marítimo da China durante as Dinastias Song e Yuan” juntamente com outros símbolos da crença tradicional chinesa, como o Templo Budista de Kaiyuan, o Templo Taoista de Zhenwu, o Templo da Deusa A-Má e a única estátua remanescente de Mani - fundador do maniqueísmo, uma antiga religião persa - a nível mundial, preservada no Templo Cao’an.
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INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS