Pedro Chagas Freitas, agora estrela de cinema

Há um novo Pedro Chagas Freitas, agora em filme. Chama-se também <i>Prometo Falhar</i>. Em exibição nos cinemas, acreditem ou não.
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Como é que se faz para transformar em filme um livro que vendeu 500 mil exemplares e que tornou o autor num caso de estudo?

A resposta não foi dada pelo filme que ontem estreou e que se chama Prometo Falhar - o Filme e se baseia no livro homónimo de Pedro Chagas Freitas.

Apesar do título não se consegue descrever muito bem este objeto que vai para as salas hoje em todo o país.

É composto por uma entrevista ao escritor (que é também coprodutor) e tem atores a lerem excertos do referido livro. Isso e mais planos de uma máquina de escrever em parelha com um casal filmado a contraluz que se beija em poses de um erotismo duvidoso.

Prometo Falhar- O Filme quer ser um documentário que também quer espalhar a mensagem de Chagas Freitas, alguém que passa, no filme, o tempo todo a fazer a apologia do erro e acaba a dar um conselho a quem quer escrever. O conselho é "escrevam e falhem à vontade".

Pelo meio temos direito às cabeças falantes da técnica documental mais preguiçosa: o treinador de futebol - sim, Pedro Chagas Freitas foi jogador em Guimarães - os amigos daquela cidade, sua terra natal, ou o seu antigo patrão quando era nadador salvador na piscina da cidade e que conta que ele salvou mesmo a vida de uma criança.

Todas estas pessoas são usadas para contar pedaços das mil e uma vidas de Pedro Chagas Freitas, alguém que poderia ter ido mais longe na bola, no jornalismo desportivo e na vocação de salva-vidas.

Na verdade, ao ver este filme, apetece pensa que andámos muito para aqui chegar. Oliveira, António Reis, Pedro Costa e tantos outros. Estamos em 2018 e o cinema português está naquela fase de prestígio internacional consensual, quase em jeito de movimento de vaga. Foram muitas décadas sem indústria e com mil e um improvisos para sermos vistos como heróis lá fora quando se fala de cinema.

Coisa pouca, dirão os velhos do Restelo, quando nesta altura nas bilheteiras há uma diminuição assustadora de pagantes para ver cinema em geral, e feito por portugueses em particular.

Ora bem, paradoxalmente, esta produção portuguesa que chega aos cinemas esta semana, Prometo Falhar- O Filme, é realizado por um italiano e, basta ver pelo trailer, não é um filme, não é cinema: é uma promo ruidosa e pontiaguda do escritor Pedro Chagas Freitas.

Alberto Rocco no site do filme, na declaração de intenções, também não lhe chama filme, diz que é uma metragem. Na verdade, tecnicamente, os seus 50 minutos de duração fazem dele uma média metragem, objeto estranho para estrear nas salas comerciais (o filme está apenas na cadeia de salas israelitas City, em Lisboa, Leiria e Setúbal).

Rocco, o realizador que aparece em alguns contra-planos das entrevistas, é homem para optar por fumarada para dar "ambiente" à coisa, bem como a uma torrencial profusão de câmaras lentas, "fades" e música clássica explicitada com planos de uma orquestra. Quer ele que estas imagens não defraudem os muitos leitores da obra. Estamos numa comédia involuntária? Num filme de terror demente? São muitas interrogações veementes, mas claro que "isto" é feito para os fãs do livro, não para quem gosta de cinema como arte- ui, livrem-se disso!

Cada país tem as estrelas literárias que merece (Portugal não merece nada disto...), mas agora também tem as estrelas de cinema que não merece.

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