O livro explosivo sobre o Vaticano de que não se pode falar ainda
Entre as editoras portuguesas só a Porto Editora faz questão de manter uma apresentação pública das novidades literárias que vai lançar nos próximos meses. Foi o que fez hoje, ultrapassando a crise confirmada de ausência de leitores para tantos livros publicados em Portugal, ao anunciar várias dezenas de títulos de vários géneros literários, entre inéditos e reedições. De destaque entre tantos títulos pode referir-se um livro inevitável nestes tempos de grande popularidade do Presidente da República é Marcelo - Presidente Todos os Dias, de Felisbela Lopes e Leonete Botelho, que retrata a figura presidencial sob três ângulos. Aliás, durante o anúncio do livro pela responsável da Porto Editora, Cláudia Gomes, alguém provocou um momento Cristina Ferreira ao avisar que o Professor estava ao telefone...
Mas o livro que mais desperta a atenção entre as novidades da Porto Editora é aquele que o editor Manuel Valente revelou sem nada revelar sobre mais um escândalo no Vaticano e que vai ser publicado a nível mundial a 21 de fevereiro. Do pouco que referiu ficou a saber-se que há personalidades portuguesas envolvidas, mas como existe um embargo muito duro em torno deste livro mais nada foi dito.
Não faltam novidades, mesmo que se note a aposta na recuperação de títulos e autores já conhecidos e que são valores seguros: H.G. Wells, Camus, um inédito de Mishima, Hemingway. O mesmo se passa com os autores portugueses: Mário de Carvalho, Carlos Vale Ferraz, João Pedro Marques, Teolinda Gersão, Inês Pedrosa e Alberto Santos.
Em ano de centenário de Sophia de Mello Breyner haverá uma recolha de poemas sobre a Grécia e vários outros livros de poetas, entre os quais Filipa Leal. Também a não-ficção está presente com um bom leque de obras, como é o caso de Kapuscinski, Graham Greene, Steinbeck, Zweig e Walter Benjamin.
Apesar da longa lista de novidades, o editor Manuel Valente alertou: "O livro está em perigo." Para contrariar esta situação, o editor garantiu que a resposta da Porto é com autores bons, designadamente portugueses, como é o caso do cronista de Moledo, António Sousa Homem, bem como autores reconhecidos como Leonardo Padura, Sergio Ramirez e a mais recente premio Man Booker Anna Burns.
A quantidade de livros que o grupo Porto apresentou hoje, mais os que se seguem de várias editoras, mostram que os livros vão continuar a perseguir os leitores portugueses neste ano de 2019.
Do mesmo grupo editorial, também a Quetzal anunciou recentemente as novidades. Há livros para todos os gostos, sendo a autora que a britânica Margaret Drabble, que vem a Portugal promover o livro, uma das grandes apostas. O romance intitulado Sobe a Maré Negra é o seu primeiro romance publicado no país e diz-se que tem "ecos de Simone de Beauvoir e de Samuel Beckett" numa narrativa sobre personagens que fazem o balanço de uma vida, a arte de envelhecer e a procura de felicidade.
Estocolmo, de Sérgio Godinho, é uma das primeiras novidades nacionais, em que o músico/escritor conta uma história de paixão, obsessão e transfiguração amorosas, através de "um homem que aluga um quarto no sótão, uma bela pivô que apresenta o telejornal e a mãe desta". Entre as reedições surge a antologia 366 Poemas Que Falam de Amor, organizada por Vasco Graça Moura, que reúne uma centena de poetas, portugueses e estrangeiros. Mais para a frente, serão reeditados outros títulos deste autor, como as suas traduções de Dante, Petrarca, Rilke e Lorca. Também será publicado um conjunto de textos esquecidos de Agostinho da Silva e uma antologia da poesia de João Luís Barreto Guimarães, O Tempo Avança por Sílabas, para assinalar 30 anos de vida literária.
A boa surpresa é a coletânea de contos e pequenas narrativas de Susan Sontag, Histórias, que fecha os lançamentos de fevereiro. Seguem-se novidades de José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto e José Riço Direitinho, bem como de Yrsa Sigurdadóttir, Martin Amis e Julian Barnes.
As editoras do Grupo Leya apostam forte neste regresso editorial de 2019 e já em fevereiro virá a Portugal o autor Stefan Hertmans para divulgar o seu Guerra e Terebentina, bem como o vencedor do Prémio Leya, Itamar Vieira Junior, que vem lançar Torto Arado. De regresso está também outro Prémio Leya, António Tavares com Homens de Pó. Nuno Júdice, com O Café de Lenine é o autor que se segue em português, bem como (em março) Lídia Jorge em poesia, O Livro das Tréguas, e a edição comemorativa dos 50 anos de A Noite e o Riso, de Nuno Bragança, a reedição de O Fabuloso Teatro do Gigante de David Machado, e A Noite e a Madrugada de Fernando Namora e as novidades (ainda sem título) na ficção de Patrícia Portela e um livro de contos de Isabela Figueiredo.
Entre os nomes estrangeiros, regressam John Le Carré com A Casa da Rússia, A Morte do Comendador II, de Haruki Murakami, Pearl S. Buck, Jo Nesbo, Amor Towles com As Regras da Cortesia e Mercé Rodoreda. Entre os livros/documento serão publicados Os rapazes na gruta: nas profundezas da impossível missão de resgate na Tailândia de Matt Gutman, Os Falcões do Biafra de Fernando Cavaleiro que relata como Salazar apoiou secretamente os independentistas do Biafra na sangrenta Guerra Civil da Nigéria (1967-1970), Sanches Osório, Memórias da Revolução, de Maria João da Câmara.
O terceiro maior grupo editorial português, o 20/20 (chancelas Elsinore, Cavalo de Ferro e Fábula (Divisão Literária), Booksmile, Nascente, Topseller e Vogais) propõe o maior número de novidades neste primeiro semestre de 2019. Os ensaios O Mel do Leão - o mito de Sansão de David Grossman e A Sexta Extinção de Elizabeth Kolbert são alguns dos primeiros ensaios a serem lançados; Ragnarök - O Fim dos Deuses, de A.S. Byatt, A Dor de Zeruya Shalev, Pequenas Cadeiras Vermelhas de Edna O'Brien, são alguns dos primeiros romances. Em língua portuguesa, o destaque vai para duas reedições: O Instinto Supremo de Ferreira de Castro e A Noiva do Tradutor de João Reis. No policial, surge Flores sobre o Inferno de Ilaria Tuti e A Deusa da Vingança de Sara Blaedel. Na história chega o premiado Estrada Leste-Oeste de Philippe Sands e Nome de Código: Lisa de Larry Loftis que dá a conhecer a mulher mais condecorada da Segunda Guerra Mundia: Odette Samson.
A Bertrand aposta em Entre Ventos e Fumos, de Nuno Diniz, uma viagem pelo Portugal profundo, que combina a tradição gastronómica com a história do povo. Da Internet vem o fenómeno de origem angolana Antonio Dikele Distefano com Lá Fora Chove, Cá Dentro Também. Passo Aí a Apanhar-te?, Mário Augusto a comemorar 30 anos de entrevistas em Hollywood com Janela Indiscreta - O Que Dizem as Estrelas, bem como um retrato histórico de Ron B. Thomson sobre as lutas entre D. Miguel e D. Pedro.
A Editorial Presença publica o romance Amor da Prémio Nobel Toni Morrison ao mesmo tempo que edita a promessa de Susanna Tamaro de publicar com o poeta Pierluigi Cappello, falecido em 2017, um livro em conjunto. Há também a investigação de David Christian, A História da Origem, sobre a história desde o Big Bang à atualidade e até ao futuro distante e os romances policiais de Harlan Coben e Stina Jackson.
As edições Parsifal apostam em autores portugueses, como a reedição de Os Três Seios de Novélia de Manuel da Silva Ramos que recebeu o Prémio de Novelística Almeida Garrett, numa edição ilustrada pelo pintor António Carmo, que inclui um Manual do Silva Ramos. Segue-se O ABC do Socialismo, com coordenação de João Mineiro e de Catarina Príncipe e Ilustrações de Gui Castro Felga, com textos de 20 autores que questionam este regime e pergunta até que ponto a natureza humana não o torna impossível de realizar. Também será reeditado O Homem da Carbonária de Carlos Ademar, que retrata a história de um ardina do jornal O Século encontrado sem vida e uma apurada investigação policial.
O grupo Penguin Random House (chancelas Alfaguara, Companhia das Letras, Objectiva, Suma de Letras, Arena, Nuvem de Letras e Nuvem de Tinta) apresenta várias novidades em português: o premiado A Noite da Espera de Milton Hatoum, um novo romance de Pedro Vieira, Maré Alta, "uma espécie de história de Portugal do século XX pelos olhos dos desvalidos de várias partes do país", e o novo de João Tordo, além da reedição de Materna Doçura de Possidónio Cachapa. Entre os autores estrangeiros chegam Javier Castillo com O Dia em que perdemos a cabeça, um thriller de grande sucesso que vem de Espanha, ou de Em Tudo Havia Beleza do galego Manuel Vilas, eleito Melhor Livro do Ano pelos jornais El País e El Mundo.
A editora Saída de Emergência lança Mariposa, de Yursa Mardini, a história da jovem que fugiu da Síria, salvou vidas no Mediterrâneo e competiu nos Jogos Olímpicos, bem como Fundação de Isaac Asimov e Sangue e Fogo - A História dos Reis Targaryen, a segunda parte do livro em que George R.R. Martin conta a história antes de A Guerra dos Tronos.
O Clube do Autor faz regressar Barry Hatton em Rainha do Mar, que retrata a cidade de Lisboa no passado e presente vista pelos olhos do autor do best-seller Os Portugueses. Também edita O Capitalismo sem Capital de Jonathan Haskel e Stian Westlake, sobre economia digital, uma história sobre os judeus que escaparam aos nazis e alistaram-se no exército americano de Bruce Henderson, e um ensaio sobre a origem do Homem, dos primatas aos nossos dias, de Vybarr Cregan-Reid.
Entre os vários lançamentos da Temas e Debates está o importante Os Leitores Perguntam, Padre António Vieira Responde, bem como Carlota Joaquina e Leopoldina de Habsburgo: Rainhas de Portugal no Novo Mundo, da autoria de António Ventura e Maria de Lourdes Viana Lyra. Em seguida surge a brasileira Nélida Piñon com Uma Furtiva Lágrima, um livro de memórias. Entre os ensaios destacam-se o livro de Hans Rosling que explica as dez razões pelas quais estamos enganados acerca do mundo e Para Que Serve a Filosofia?, de Mary Midgley. A celebrar o quinto centenário da viagem de circum-navegação e a chegada do Homem à Lua, surge Diário de Fernão de Magalhães, do antropólogo e historiador José Manuel de la Fuente.
A Gradiva vai publicar o álbum de Christian Clot sobre Darwin, seguindo-se o ensaio de Timothy Williamson Filosofia Aberta e O Genocídio Ocultado de Tidiane N"Diaye. Em março, sairá a Autobiografia de João Lobo Antunes, um livro que o médico e ensaísta escreveu após saber da doença que o levaria à morte. Na coleção Obras de Ian McEwan será publicado Máquinas como Eu e Pessoas Como Tu.
O Cais das Incertezas, de José Alberto Salgado, um romance sobre a temática da II Guerra Mundial que relata a vida de duas mulheres judias tentam em Portugal escapar à perseguição Nazi, é a primeira novidade da editora Guerra e Paz. Segue-se São Paulo, Prisão de Luanda, de Carlos Taveira, um livro de memórias de um preso político em Angola durante a ditadura de Agostinho Neto, bem como um novo ensaio de Michel Serres, Tempo de Crises, na coleção de livros vermelhos. Na poesia, será a vez da luso-angolana Tchiangui Cruz comGuardados numa Gaveta Imaginária e de Howard Altmann o livro Enquanto Uma Fina Neve Cai.
A editora Relógio D"Água A Chama, de Leonard Cohen, dois anos após a morte do músico canadiano,com os seus últimos poemas, letras de canções, desenhos e versos dispersos em cadernos de apontamento e guardanapos de bares. Segue-se Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg, uma narrativa que acompanha a vida de uma família de Turim no período da ascensão do fascismo. No Verão, de Karl Ove Knausgård, é a próxima novidade deste autor, bem como duas obras sobre Tchékhov, uma de Ígor Sukhikh e outra baseada nas suas cartas, diários, livros e conferências. Em português, surge Na América, disse Jonathan, de Gonçalo M. Tavares, O Susto e As Pessoas Felizes, de Agustina Bessa-Luís, com prefácios de António M. Feijó e António Barreto, O Estendal e Outros Contos, de Jaime Rocha. Além dos romances de Thomas Hardy, serão publicados ensaios: As Novas Rotas da Seda de Peter Frankopan, O Abismo de Fogo: A Destruição de Lisboa de Mark Molesky, considerara a principal obra sobre o terramoto de Lisboa de 1755.