Um caso que chocou o mundo e que o encenador Milo Rau e a dramaturga e ativista Servane Dècle pretendem que contribua para acabar com a violência praticada contra as mulheres. Numa vigília performativa no Panteão Nacional, em Lisboa, o julgamento de Gisèle Pelicot é reconstruído através "de centenas de horas de testemunhos, provas, entrevistas, análises forenses, registos visuais, colagens e textos académicos", adianta a BoCA Bienal, no âmbito da qual é apresentada em Portugal esta peça. Uma performance que apenas se tornou possível porque Gisèle Pelicot, de 72 anos, permitiu que o julgamento se tornasse público, renunciando ao anonimato e assumindo-se como símbolo de luta contra a violência sexual. .Francesa de Mazan, no sul de França, Gisèle Pelicot foi violada por mais de 70 homens enquanto estava inconsciente. Foi o marido, Dominique Pelicot, quem promoveu esta violação em massa, recrutando homens através da internet. Ele drogava Gisèle Pelicot e filmava as violações que decorreram durante quase uma década, entre 2011 e 2020. .Gisèle Pelicot, a francesa que se tornou no rosto da luta contra a violência sexual.Gisèle descobriu o que estava a acontecer quando o marido foi detido por tentar filmar debaixo das saias de três mulheres. Quando a polícia viu o material apreendido, encontrou fotografias e vídeos de uma mulher inconsciente a ser abusada sexualmente - era Gisèle Pelicot. .O julgamento começou em setembro de 2024, com 51 suspeitos, entre os 26 e 74 anos, a serem formalmente acusados de violação agravada, entre eles Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão em dezembro do ano passado. Na vigília performativa, que decorre entre as 18h e as 22h30 horas deste sábado, 11 de outubro, participam 28 atores e figuras públicas, como Albano Jerónimo, Isabel Ruth, João Mota, Mariana Monteiro ou Rui Maria Pêgo. A peça foi originalmente produzida pelo Festival de Viena (Wiener Festwochen), a que se associou o Festival d’Avignon. .‘O Senhor Paul’: resistir ao progresso sem sair do sofá