Localizada no norte da cidade de Hangzhou, na Província de Zhejiang, a zona histórica e cultural de Xiaohe Zhijie (Rua Direita do Rio Pequeno), faz parte dos sítios históricos do Grande Canal da China, atraindo muitos turistas.
Localizada no norte da cidade de Hangzhou, na Província de Zhejiang, a zona histórica e cultural de Xiaohe Zhijie (Rua Direita do Rio Pequeno), faz parte dos sítios históricos do Grande Canal da China, atraindo muitos turistas.FOTO: D.R. / Macao Daily News

O Grande Canal da China: o canal mais antigo do mundo

Com uma história de mais de 2000 anos, o Grande Canal da China é o rio artificial mais antigo do mundo e a principal ligação entre o norte e o sul do país, impulsionando o desenvolvimento económico e a integração cultural das várias regiões chinesas, e servindo como um elo de ligação entre a China e o resto do mundo.
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O Rio Yangtzé e o Rio Amarelo - os dois maiores rios da China -  fluem de Oeste para Leste, enquanto um rio escavado manualmente pelos chineses antigos corre de Norte a Sul, conectando os dois primeiros e maiores  paralelamente. Este último é denominado o Grande Canal da China e composto por três principais segmentos: o Grande Canal de Sui-Tang, o Grande Canal de Pequim-Hangzhou e o Grande Canal do Leste de Zhejiang.

Com um comprimento total de 3200 quilómetros, o Grande Canal atravessa as zonas mais ricas do país, como a planície do norte da China e a costa Sudeste, conectando os cinco grandes sistemas fluviais dos rios Hai, Amarelo, Huai, Yangtzé e  Qiantang. Por isso, o Grande Canal era considerado uma importante via de navegação de Norte para Sul na China Antiga.

À semelhança dos famosos canais mundiais do Suez e do Panamá, o papel fundamental do Grande Canal da China refletiu-se na promoção dos transportes, trocas comerciais e intercâmbios culturais ao longo do seu percurso, contribuindo para a prosperidade económica, social e cultural entre o norte e sul da China, assim como os intercâmbios entre a China e o resto do mundo.

O Grande Canal começou a ser construído durante o período da Primavera e Outono (770 a.C. a 476 a.C.). Nas dinastias Sui e Tang (581 a 907) foi restaurado e expandido em larga escala, tendo como centro a cidade de Luoyang, Província de Henan, estendendo-se para o norte, até Pequim, e para sul, até à cidade de Hangzhou. Tratou-se da primeira vez na História que o norte e o Sul da China foram conectados por um canal, sendo conhecido como o Grande Canal Sui-Tang.

Posteriormente, apesar de a Dinastia Yuan (1271 a 1368) ter estabelecido a sua capital em Pequim, o centro económico permaneceu no sul.

Com o objetivo de fortalecer a conexão entre os centros político e económico, o Grande Canal deixou de passar por Luoyang, e ligou diretamente as cidades de Pequim e de Hangzhou, via Shandong, razão pela qual é chamado o Grande Canal Pequim-Hangzhou.

A Ponte Gongchen de Hangzhou situa-se no sul do Grande Canal Pequim-Hangzhou, e tem mais de 300 anos. Os edifícios antigos e modernos ao longo do Canal mostram a fusão da História com a modernidade. FOTO: D.R. / Macao Daily News

A entrada em funcionamento do Grande Canal deu um grande impulso ao desenvolvimento das cidades ao longo da seu curso. Nas cidades de Suzhou e Hangzhou em particular, onde havia muitos comerciantes, as lojas estendiam-se por dezenas de quilómetros e vendiam uma enorme variedade de mercadorias, e também a indústria artesanal foi desenvolvida.

Os produtos provenientes de Jiangnan, no sul (geralmente referidas como regiões do curso inferior do Rio Yangtzé) - tais como a seda, o chá, a porcelana -, eram transportados para norte através do Grande Canal. Simultaneamente os cereais, os couros e as ervas medicinais do norte eram enviados para o sul, satisfazendo a procura do mercado local. O Grande Canal permitiu o crescimento económico e a abundância de bens materiais junto do povo.

Por outro lado, o Grande Canal facilitou o encontro e a integração  cultural das várias regiões chinesas, sobretudo das culturas Yanz- hao e Qilu, do norte, e a Wuyue do sul da China.

Promoveu o desenvolvimento das gastronomias típicas e das artes teatrais em vários locais. Por exemplo, as óperas, os poemas e as pinturas do sul foram introduzidos no norte através do Canal e, misturaram-se com a acrobacia e as artes marciais do norte. As peças clássicas de Yuanqu (a ópera da Dinastia Yuan) são um exemplo da fusão das óperas do norte e do sul, as quais mantêm a delicadeza das óperas do sul, incorporando o estilo arrojado das óperas do norte.

O Grande Canal conectava a Rota da Seda terrestre, através de Luoyang e Xi’an, em direção ao Oeste, e a Rota da Seda marítima, através de cidades como Yangzhou, Ningbo, Quanzhou, Fuzhou e Cantão, na direção Leste, assim conectando com o resto do mundo.

Desde o século XVII, o Grande Canal foi um corredor vital para a interação entre as culturas Orientais e Ocidentais, onde os emissários diplomáticos, missionários, comerciantes estrangeiros chegavam vindos de fora, residiam e conheciam a China. O italiano Marco Polo viveu vários anos nas margens do Grande Canal durante a Dinastia Yuan e descreveu na sua obra As Viagens de Marco Polo a prosperidade das cidades ao longo do vale desta via aquática.

Em 1855, a mudança do curso do Rio Amarelo interrompeu a navegação no Grande Canal. Com o passar do tempo, a maior parte das funções do Grande Canal foram substituídos pelos transportes ferroviário, aéreo e marítimo, mas algumas partes ainda estão em funcionamento.

Hoje em dia, as cidades ao longo das margens do Grande Canal estão empenhadas na sua restauração e preservação, realizando várias rotas turísticas. Por exemplo, podem fazer-se passeios de barco em Pequim, ou em Hangzhou, para apreciar as paisagens lindas ao longo do Canal.

Em 2014, o Grande Canal foi classificado como Património Mundial. Em 2021, foi inaugurado o Museu do Grande Canal da China, em Yangzhou, onde os visitantes podem conhecer, de forma imersiva, a história do Canal em diferentes contextos temporais e espaciais.



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