Os agricultores colhem folhas de chá na plantação de Matouyan, no Monte Wuyi.
Os agricultores colhem folhas de chá na plantação de Matouyan, no Monte Wuyi.

O Chá Yan do Monte Wuyi (Fujian)

O chá Yan, produzido no Monte Wuyi (Fujian), deve o seu nome às árvores de chá que crescem nas fendas das rochas.
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Este chá é uma das variedades mais requintadas de chá Oolong chinês, sendo o Da Hong Pao o mais famoso dos chás Yan de Wuyi.

Nas fendas das rochas do Monte Wuyi, cresce um tipo de chá único - o chá Yan (ou “chá Rocha”). Com uma longa história, o chá Yan é o ancestral do chá Oolong sendo considerado um “fóssil vivo do chá”. O ambiente natural privilegiado e a requintada técnica de fabrico fazem deste uma preciosidade entre os chás, não sendo apenas uma dádiva da natureza, mas também fruto da fusão da cultura de Fujian com a sabedoria artesanal.

O Monte Wuyi, em Fujian, é classificada como Património Natural e Cultural da Humanidade. O seu relevo de Danxia proporciona um solo rico em minerais para o chá Yan; o clima ameno, a precipitação abundante e a neblina persistente favorecem o crescimento das folhas de chá tenras; e a grande variação térmica entre o dia e a noite incentiva a acumulação de aminoácidos e matérias aromáticas nas folhas. Por isso, o chá Yan não só contém elementos minerais, como também possui um aroma floral e frutado.

O Monte Wuyi é, desde tempos antigos, um local de coexistência das três tradições filosófico-religiosas chinesas: o confucionismo, o budismo e o taoismo. Durante a Dinastia Song do Sul (1127-1279), o grande erudito confucionista Zhu Xi lecionou aqui, e, enquanto se dedicavam à sua prática espiritual, monges budistas e sacerdotes taoistas cultivavam e produziam chá neste local. Assim, o chá Yan carrega em si o ideal filosófico chinês de “unidade entre o homem e o cosmos” - o chá coexistindo com o ambiente natural, e o ser humano vivendo em harmonia com o céu e a terra.

Depois da preparação, o chá Yan de Wuyi apresenta uma coloração alaranjada ou dourada límpida e um aroma floral e frutado.
Depois da preparação, o chá Yan de Wuyi apresenta uma coloração alaranjada ou dourada límpida e um aroma floral e frutado.

O chá Yan apresenta uma grande diversidade de variedades. Nos antigos tratados sobre chá, estão registadas mais de mil espécies, sendo as mais conhecidas atualmente o Da Hong Pao, o Shui Xian e o Rou Gui.

Com um aroma floral e frutado, o Da Hong Pao é aclamado como o “rei dos chás”; o Shui Xian distingue-se pelo seu perfume de orquídea; e o Rou Gui possui uma fragrância característica de canela.

O surgimento destas variedades está intrinsecamente ligado a uma arte milenar de fabrico de chá, um processo complexo que envolve mais de dez etapas, entre as quais “sacudir as folhas” é essencial para a formação do aroma do chá Yan. Durante este processo, as folhas são agitadas repetidamente, o que lhes provoca ligeiros danos e subsequente oxidação, libertando assim a sua fragrância floral e frutada. Já a “torrefação a carvão”, por sua vez, confere às folhas um aroma fumado único. Cada fase do processo exige um controlo rigoroso do tempo e da intensidade do calor, pois qualquer desvio pode comprometer a qualidade do chá. Esta técnica tradicional foi inscrita, em 2006, na primeira lista do Património Cultural Imaterial da China. Hoje, na Montanha Wuyi, ainda existem dezenas de mestres herdeiros desta arte dedicados à sua preservação e inovação, e o governo local estabeleceu academias de chá e centros de transmissão do conhecimento e da cultura para formar novas gerações de mestres de fabrico de chá, impulsionando ainda a troca de saberes e o aperfeiçoamento contínuo da técnica através de competições, como o Campeonato de Preparação de Chá.

O chá Yan pode ser considerado um reflexo da cultura de Fujian, uma província que se distingue pelo seu papel histórico como ponto de partida da Rota Marítima da Seda e pela sua geografia acidentada, descrita como “oito partes de montanha, uma parte de água e uma parte de terra arável”, ambiente geográfico que moldou o espírito aventureiro, aberto e inclusivo do povo de Fujian. O chá Yan é uma expressão dessa identidade - enraizado nas fendas rochosas do Monte Wuyi, mas levado além-mar através das antigas rotas do comércio do chá.

Já na Dinastia Song (960-1279), Fujian produzia chá-tributo para a corte imperial, tradição que o chá Yan do Monte Wuyi continuou, tornando-se uma preciosidade oferecida à realeza durante as dinastias Ming e Qing (1368-1911).

No século XVI, os portugueses trouxeram este chá para a Europa via Macau, e o nome “Bohea” (derivado da pronúncia de “Wuyi” num dialeto do sul de Fujian) tornou-se sinónimo de chá chinês no Ocidente.

Habitantes do Monte Wuyi desfrutando do chá à beira de um ribeiro.
Habitantes do Monte Wuyi desfrutando do chá à beira de um ribeiro.

A busca dos fujianeses pela estética na vida quotidiana também deu origem a uma forma de arte única: o “Chá Bai Xi” (Caligrafia em Espuma de Chá, parecida com Latte art), património cultural imaterial a nível provincial. Esta prática combina a técnica tradicional de preparação de chá (a arte de bater chá em pó) com as artes visuais, usando a colher de chá como pincel, a água pura como tinta e a infusão como tela para pintar a superfície do chá. O Chá Bai Xi representa uma fusão entre a arte tradicional de preparação do chá e as artes da caligrafia e da pintura.

O chá Yan é a marca do terroir do Monte Wuyi. A produção deste chá representa a continuidade do espírito artesanal e a sua jornada além-mar, temunha o diálogo entre a civilização chinesa e o mundo.

Na azáfama da vida moderna, beber chá Yan convida-nos a abrandar, a apreciar com calma os sabores moldados pela natureza e pelo tempo, e a sentir a riqueza singular da cultura tradicional chinesa.

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“INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS”

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