As obras enganam – à primeira vista parecem de metal, mas na verdade são de papel e grafite. Para Diogo Pimentão, aquilo que faz é desenho. “Isto é desenhado a lápis com grafite. É tudo lápis e papel, só que depois o papel nesta tensão acaba por ficar forte e revelar o desenho de outra forma, o desenho no espaço”, explica o artista plástico português – que vive e trabalha em Londres –, na ARCOlisboa, por onde passou entre os os dias 29 de maio e 1 de junho. “Aqui, por exemplo, este desenho deve ter uns quatro metros, este acho que tem sete. Portanto, temos aqui quase 15 metros de papel desenhado”, diz, apontando para várias obras que exibe no stand da galeria Encounter, que o representa, na feira de arte da capital portuguesa.“Mas depois há uma ideia de condensação também desses espaços e a criação de outros espaços que eu próprio também gostava de poder dizer que sei o que vai acontecer quando eu faço estas dobras. Mas eu não sei. Há um lado de surpresa e de comunicação em relação ao papel. Vai nascendo também à medida que vou fazendo.”E depois há a ilusão do volume. “A primeira impressão que temos quando nos aproximamos dos meus trabalhos é aquela ideia de peso, não é? E de força. Não é para enganar as pessoas, mas é para terem mesmo essa ideia quase dúbia, porque ninguém lhes consegue tirar a ideia de peso. E com uma ideia de peso nós conseguimos aproximar-nos também de uma ideia de delicadeza, passando já por essa sensação de peso. Estando só na delicadeza não conhecemos tanto contraste.”O artista português, formado na Ar.Co, em Lisboa, e que foi assistente de um dos mais internacionais artistas plásticos portugueses já falecido, Julião Sarmento, vai ter uma exposição individual no Centro de Arte Moderna (CAM) da Gulbenkian, na Sala de Desenho, no outono, intitulada Medidas da Distância// Leaping Towards, com curadoria de Leonor Nazaré. Será inaugurada no dia 10 de outubro e poderá ser visitada até 2 de março de 2026. “A exposição explora a noção de que aquilo que entendemos como distância entre pessoas, ideias ou experiências é, de facto, uma forma de proximidade. Através da distância, definimos a nossa relação com o mundo e de uns com os outros, não em função de barreiras, mas de pontes de compreensão”, lê-se na sinopse da mostra. Diogo Pimentão “ocupará chão e paredes com obras escultóricas de grafite sobre papel, algumas engradadas em chassis e outras em folhas soltas”, adianta o CAM.Mas a arte de Diogo Pimentão é desenho ou escultura? O artista é rápido na resposta: “Eu gosto de dizer que é desenho. É inicialmente desenho. Porque o pensamento é de desenho. É um pensamento maleável. É um pensamento de uma superfície que é plana, inicialmente. É desenho direto, com o lápis e com este material, que é o grafite. Mas depois ele sai. Sai dessa dimensão ”, sublinha o artista plástico. Como nota o CAM, “mais conhecido pelos seus trabalhos experimentais em papel, a prática e a redefinição do desenho são o eixo central do seu trabalho. Utilizando principalmente papel e grafite, por vezes em combinação com betão, vídeo e performance, as suas obras desafiam os limites tradicionais da disciplina.”A vertente da performance da obra de Diogo Pimentão também poderá ser vista na exposição no CAM em outubro. São performances em interação com as obras. “Acabo, muitas vezes, por ir para a performance. Porque termino desenhos que vão para uma exposição e penso, adoro este desenho, mas ninguém vai ver como é que este desenho foi produzido. E, então, introduzi a performance para mostrar o processo. Havia o lado processual que faltava ao trabalho. Não foi nunca, para mim, uma ideia de trazer a performance à minha prática. Foi a prática que pediu a performance”, diz ao DN. Sobre a exposição que está a preparar para o CAM, Diogo Pimentão revela que fez “uma nova série. Vai ser uma temática de desenho, embora alguns pontos possam... Vou colaborar também com uma pessoa que trabalha na dança contemporânea, no movimento, o Emmanuel Eggermont, que é um artista francês”, revela. Assistente de Julião SarmentoO artista está representado em importantes coleções públicas e privadas nacionais e internacionais, como a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Serralves, Centro Georges Pompidou ou Fundo Nacional de Arte Contemporânea, em França. Saiu de Portugal há 25 anos e antes de partir lidou diretamente com importantes figuras das artes plásticas nacionais até decidir seguir o seu próprio caminho. Depois de sair da Ar.Co, onde teve professores como Delfim Sardo ou Sérgio Mah, e onde foi colega dos artistas Joana Vasconcelos, Noé Sendas ou Pedro Tropa, foi logo trabalhar como assistente de Julião Sarmento. “Foi no primeiro dia de férias. Ele cortou-me as férias. Foi uma excelente oportunidade, eu até costumava dizer-lhe, na brincadeira, que ele foi a minha pós-graduação, porque eu ia para o Canadá fazer uma pós-graduação”. Esteve no ateliê de Julião Sarmento três anos e meio. “Viajámos muito. Ia a Nova Iorque, com a galeria dele, a Sean Kelly. Aprendi muito sobre a responsabilidade do trabalho, do ser artista. Ele dizia muito que não podemos fazer concessões. Não fazemos concessões. Nesse sentido, foi para mim muito importante.” Não se esquece do profundo sentido de organização do pintor que, ainda hoje, diz, não consegue acompanhar. “A organização de exposições com 180 obras, por exemplo, em instituições, a parte institucional, a parte de galeria, a parte de contactos. O Julião era, na documentação, por exemplo, muito organizado. Muito organizado, mesmo. Havia uma estratégia muito afincada, que eu admirava e que eu ainda hoje não consigo ter. Sou muito mais intuitivo e deixo as coisas acontecer, mas respeito e aprendi muito também”. Diogo Pimentão também trabalhou um ano e meio com outro grande nome das artes plásticas nacionais, Fernando Calhau, quando o artista adoeceu. “Ele tinha seis meses de vida. Quando passaram os seis meses, ele vinha ter comigo a dizer, Diogo, anda cá, quero dizer-te uma coisa séria: já enganei a morte. Ele tinha muito esse humor em torno da questão da vida e da morte. Aprendi muito com os dois, de forma muito diferente”. Foi depois da morte de Fernando Calhau que Diogo Pimentão decidiu sair de Portugal. “Quando ele morreu, por infelicidade, o meu avô, muito próximo de mim, também faleceu. E eu pensei, é o momento. É o momento de não estar a dar aos outros e a aprender. É o momento de te lançares. E então marcou-me muito esse momento em que o Fernando Calhau nos deixou”. O facto de ter conseguido uma bolsa de criação artística da Gulbenkian também ajudou. “Foi uma validação do trabalho. Também precisava de uma certa validação, embora eu acreditasse muito. Aliás, nessa bolsa da Gulbenkian, era tudo por fotografia. E era o Costa Cabral que fazia a avaliação. E eu disse-lhe, tenho que levar os trabalhos em pessoa. Mas, Diogo, isso não acontece, isso não pode ser. Mas são desenhos de dois metros... Eu tenho que levar os desenhos. E ele lá cedeu e fizemos essa visita com os desenhos espalhados pelo chão.”Atualmente considera que arte portuguesa atingiu outro nível internacionalmente. “Gosto de ver que o país está a ser internacionalmente representado. Porque eu saí de Portugal a determinada altura, por sentir que essa representação não existia. Muitas pessoas já me perguntaram, e agora, se tivesses acabado de estudar e estivesses por cá, terias saído? Não sei. Estou bem fora, não estou a pensar em voltar. Mas a ARCOlisboa tem sido um ponto de encontro para mim também, como artista internacional, onde estou a reparar que os meus amigos estão cá. Os amigos de fora estão cá. Então, é um ponto de encontro com os portugueses, mas é um ponto de encontro internacional”.Diogo Pimentão está satisfeito pela crescente aceitação da sua arte no mercado português. Recentemente, revela o artista plástico, o novo MACAM - Museu de Arte Contemporânea Armando Martins comprou-lhe uma obra. “Não está mostrada, mas estou muito satisfeito com essa aquisição. Foi uma aquisição bastante recente, há menos de seis meses, da qual me orgulho bastante. E também de ver que o meu trabalho está a ser representado mais em Portugal.”.Leonel Moura: “Os museus portugueses não querem a minha arte. Felizmente, existe o mundo”.Isabel Allende: "Apenas adoro contar uma história. Não quero pregar na minha ficção"