As imagens televisivas que, todos os dias, dão a ver as atribulações do nosso mundo nem sempre são um modelo exemplar de observação e rigor, numa palavra, de jornalismo. Ao mesmo tempo, a sua simples existência garante-nos que não é fácil conhecer as nuances de tais atribulações. Na Terra dos Nossos Irmãos, uma realização dos iranianos Alireza Ghasemi e Raha Amirfazli (ele atualmente a viver em Paris, ela em Nova Iorque), surge como um objeto capaz de nos ajudar, precisamente, a compreender um pouco melhor uma realidade distante do nosso saber comum - e também das rotinas do nosso consumo cinematográfico.O título provém de uma expressão surgida na sequência da invasão do Afeganistão pelas tropas dos EUA, em 2001, depois dos atentados do 11 de Setembro: os afegãos que se refugiaram em terras iranianas chegavam, assim, à “terra dos nossos irmãos”. Daí que as autoridades iranianas celebrassem o “sentido de irmandade” desses refugiados, ainda que a sua existência pudesse estar marcada por muitas barreiras sociais ou bloqueios de natureza burocrática.Na Terra dos Nossos Irmãos aborda tais barreiras e bloqueios através de uma estrutura narrativa que evita a facilidade das generalizações automáticas, eventualmente moralistas ou “justiceiras” (que alimentam o dia a dia de alguma informação televisiva). Este é um filme concentrado na irredutibilidade dos destinos individuais, tanto mais tocante quanto tem ao seu serviço uma magnífica galeria de intérpretes.São atores como a jovem Hamideh Jafari, selecionados com a contribuição de uma companhia de teatro independente de Teerão que trabalha exclusivamente com pessoas afegãs. O filme está dividido em três capítulos separados por intervalos de cerca de dez anos: 2001, 2010 e 2021 (data da reconquista do poder pelos Taliban). As histórias das suas personagens cruzam-se, assim, através de uma estrutura apostada em fazer-nos sentir a metódica e angustiante passagem do tempo.Os hiatos temporais são sensíveis nos ambientes e nas transformações das personagens. No primeiro capítulo, por exemplo, Leila (a personagem de Hamideh Jafari) vive uma discreta e efémera paixão com um rapaz da sua idade, surgindo na segunda parte como empregada de um casal com recursos económicos bem diferentes. Mais do que procurar uma forma “linear” de ligação entre os vários momentos históricos, Ghasemi e Amirfazli criam verdadeiras bolsas temporais em que as convulsões mais gerais marcam de forma decisiva as personagens principais, expondo a sua vulnerabilidade humana e social - com um misto de contenção e comoção. .Avatar: o fim da utopia? .'As Lições de Peaches'. Foi você que disse “eletroclash”?