A meio ano de voltar à Quinta da Bela Vista, ainda se vê pouco da vibração que o festival das famílias ali traz em verões alternados, mas a festa adiada pela pandemia alinha-se para ser o melhor Rock in Rio de sempre. "Há uma grande ansiedade nas pessoas depois de tanto tempo parados e afastados. Estes tempos deixaram muito claro que a vida é ao vivo e sente-se essa sede de estarmos juntos." Quem o diz é Roberta Medina, que há quase 20 anos trouxe o evento para Lisboa, e não esconde o entusiasmo de voltar a montar os palcos e receber milhares de fãs, desta vez com uma estreia de peso: o BNP Paribas decidiu juntar-se à festa como patrocinador oficial da 9.ª edição.."Houve 60 mil pessoas que ficaram com o bilhete na mão estes dois anos, e isso reflete muita vontade de estarmos juntos, muita parceria", diz ao DN Roberta Medina. "Sabemos que o inverno ainda vai ser calmo, que ainda temos de ter alguma cautela, mas a partir de março começamos a acelerar para criar o sonho", promete, justificando a aliança com o BNP com o "fit perfeito de valores entre as marcas". "Há de facto uma conjugação de valores e de fatores que nos faz identificar com este evento, sobretudo depois de tanto sofrimento que trouxe a pandemia; há uma vontade de voltar e queremos ajudar o setor cultural a fazer esse caminho. E esta era uma oportunidade fantástica", concorda Fabrice Segui, CEO do BNP Paribas..Presença mais habitual em eventos de cinema ou ténis - a instituição financeira é um histórico apoiante de Roland Garros -, desta vez o banco que está há 35 anos em Portugal decidiu firmar uma parceria inédita com um festival. E assume que a música "é uma área em que queremos investir a longo prazo". Ao DN, aponta razões para esta ligação improvável também na vontade de crescer em "visibilidade para o banco, mas também pelo impacto na sociedade. É um novo relacionamento que assumimos com stakeholders, parceiros, etc., e a música é um instrumento fantástico para fazer isso, sobretudo depois de o setor cultural ter sofrido tanto com esta pandemia"..À vontade de apoiar o setor cultural junta-se a de recriar laços com os 6500 colaboradores que compõem a equipa do BNP Paribas em Portugal, cuja média de idades ronda os 35 anos, e que vai convidar na totalidade para se juntarem ao festival. "Tradicionalmente, tínhamos um grande evento anual, que não foi possível acontecer nos anos de pandemia; esta será uma forma de voltarmos a juntar-nos todos", explica Fabrice Segui. E também de afirmar o banco com uma presença mais próxima dos portugueses. "Temos uma presença muito sólida em Portugal, mas, não tendo banca de retalho, acaba por não ser muito visível.".Mas há mesmo valores mais altos que se levantam nesta ligação e que Roberta e Fabrice assumem como bandeiras nas respetivas atividades. "Esse é mesmo um ponto-chave, porque ambos queremos e agimos para ter um impacto positivo na sociedade através de uma ação responsável, com preocupação grande na área da sustentabilidade e da responsabilidade social." Se para o BNP Paribas isso significa, por exemplo, desinvestir em áreas carbonizadas e incentivar a mudança para projetos mais verdes até mesmo junto dos clientes, seja ao nível dos investimentos seja no que respeita a acompanhá-los nessa transição fundamental, para o Rock in Rio a aposta é transversal.."Nós somos um festival com neutralidade carbónica há 15 anos, temos as certificações todas, somos lixo zero, mas quisemos mostrar isso com mais clareza, para as pessoas verem, porque só pelo exemplo e formação podemos melhorar todos. A formação é a maior semente que podemos deixar para um mundo melhor, juntarmo-nos com pessoas que se portam da melhor forma. Então fizemos essa aposta e firmámos o compromisso de, até 2030, formar 100 mil pessoas. Porque, quando falamos destes temas, uma das primeiras perguntas que tivemos foi como é que os empresários se preparam para esta transição, porque enquanto o ecossistema não mudar as empresas também não conseguem fazê-lo. Fizemos agora uma loucura para um festival, que foi pedir à Deloitte um relatório de ISD - somos abusadinhos mesmo -, e ficámos muito felizes porque estamos, numa escala de 1 a 5, junto ao 4; a maioria das empresas estão no 1 ou 2, porque não têm conhecimento de como fazer a mudança. Se tirarmos o petróleo do mundo de repente, o mundo para, é preciso fazer a transição, aprender, investir. E aí também o banco pode ajudar, dar essa orientação, então é um match perfeito nos valores.".Juntos, Rock in Rio e BNP Paribas querem, assim, transmitir essas mensagens de formação e de sustentabilidade, e o festival será um meio de avançar nesse caminho..Produzir uma edição do Rock in Rio em Lisboa custa 25 milhões de euros - "que incluem cheques, contrapartidas, permutas, etc.". Mas Roberta Medina garante que vale a pena, mesmo que os resultados em alguns anos tenham sido "desafiantes": "O mercado mudou muito e há um grande volume de investimento público em oferta cultural; os últimos números da APORFEST apontam para 287 festivais por ano em Portugal, o que representa concorrência mas também mostra o potencial desta área. Temos de olhar para tudo isso e, se trabalharmos a sério como país, vamos alimentar desenvolvimento económico, nomeadamente no tão importante pilar do turismo. E isso depende de termos boas infraestruturas, história, uma agenda boa, gastronomia, cultura. É esse o nosso papel também", reforça Roberta, revelando que só o último Rock in Rio trouxe a Lisboa 16 mil pessoas de fora do país. "O evento tem um impacto de mais de 70 milhões de euros para o país, e isso só é possível graças aos patrocinadores, que assumem o risco connosco, que nos ajudam a chegar a padrões de grande qualidade no line-up, nas infraestruturas... Sem parceiros, o impacto económico não existe.".Para Fabrice, esse lado de qualidade, segurança e caracterização de oferta transversal às famílias é determinante no fit entre o festival e os valores e objetivos do BNP Paribas. Também na resposta à necessidade de ajudar a cultura a dar resposta ao bem-estar na sociedade. "Equipas e clientes do banco fazem parte dessa sociedade, cuja alma queremos alimentar, e estes eventos são essenciais para elevar a autoestima do país.".Também no que respeita à digitalização há novidades a caminho neste Rock in Rio. "Vamos querer envolver mais pessoas, fazer uma provocação a quem está de fora", promete Roberta Medina. "O nosso público, em geral, vem um dia e meio; então queremos ver como podemos estar mais perto dele, relacionar-nos com ele, aproximar-nos dos que não estão fisicamente. E aí a tecnologia vai permitir fazer a diferença. As novas tecnologias fizeram o nosso mundo crescer imenso e hoje estamos focados em dar a melhor experiência a quem não está aqui no Rock in Rio", explica Roberta Medina..A ideia é chamar mais pessoas a esta ligação. Como a criação da área VIP logo em 2002 foi a solução para trazer os parceiros, muitos deles CEO de grandes empresas, ao festival. Ou o line-up bem diversificado garante pontos de interesse para toda a família. "Desde a primeira edição, quisemos ter cartazes bem variados para atrair clientes de todos os estilos e idades, e em Portugal este é mesmo o primeiro festival a que os miúdos vão - neste ainda com os pais. Então neste ano fizemos mesmo essa diferença: temos um dia para público mais velho, um de pop rock alternativo (Jason Derulo, Anitta, Post Malone...), um de rock (Foo Fighters, The National, etc.) e um de pop (Black Eyed Pees, Ivete Sangalo...)." Oferta capaz de agradar a todos e que reforça a distribuição etária do público do Rock in Rio: 75% têm entre 25 e 50 anos; 15% menos de 15, e 15% estão acima dos 50. Uma dispersão que a promotora do festival também explica pelas infraestruturas de qualidade (incluindo casas de banho), boa oferta de comida, ambiente muito seguro, bom serviço e contexto convidativo. "Acho que tudo isso ajuda a mostrar que a música em festival pode ser para vários públicos." E foi também disso que o BNP Paribas gostou neste evento: "As marcas de abrangência, de qualidade, de segurança.".De resto, considerando que só agora cerca de metade do público compra bilhetes online, não será um festival cashless. "Temos de ver onde estamos e em Portugal as pessoas ainda pagam muito em dinheiro - mesmo nos EUA há problemas, não na tecnologia mas no comportamento das pessoas -, mas vamos apostar muito no contactless.".Será mesmo a única parte sem contacto, acredita Roberta: "Todo o mundo está ansioso por estar junto, cantar junto, por esse regresso ao contacto físico", sublinha. Quanto a Fabrice, sabe bem o que o move no Rock in Rio. "Quero muito ir ver os Xutos & Pontapés e estou superentusiasmado com Duran Duran e A-HA", confessa. Esse será o dia de os pais deixarem os filhos em casa...